O medo volta a pairar sobre a Grécia
O exercício da democracia tornou-se uma actividade perigosa numa Europa em crise e é por isso que a antecipação de eleições legislativas na Grécia causa tanta ansiedade nas instâncias da União ou nos escritórios do FMI. Percebe-se. Quando se depende da ajuda externa para manter a solvência do Estado, o conceito de soberania fica limitado e o interesse dos credores transforma-se numa arma de arremesso político. Face à proximidade de eleições que, de acordo com as sondagens, colocam o Syriza na liderança, o presidente da Comissão Europeia admitiu que “não gostaria que forças extremistas chegassem ao poder”. Se chegarem, todo o plano de resgate, todos os esforços feitos pela troika para manter o Governo de Atenas à tona da água e todos os avanços que, apesar de tudo, se fizeram para ultrapassar uma crise que chegou a ameaçar a moeda única ficam em causa.
Até que o resultado das eleições seja conhecido, a União Europeia e os mercados financeiros preparam-se para viver um compasso de espera. Bruxelas já havia adiado as negociações sobre a continuidade do programa de ajuda das quais depende a libertação de mais uma tranche de 1800 milhões de euros, para Março. Hoje, o FMI entrou no jogo e travou até depois das eleições a sua intervenção no processo. Subliminarmente, o que está em causa é mais do que um aviso. É uma ameaça. Não se negoceiam empréstimos com quem inscreve no seu programa a vontade de não os cumprir ou de, pelo menos, os renegociar.
Os cidadãos gregos ficam avisados. Entre a persistência de políticas de austeridade que já derreteram quase um quarto do produto interno bruto da Grécia desde 2008 e a falta de liquidez, a escolha está nas suas mãos. Nenhum dos cenários em aberto é propriamente brilhante, mas, apesar de tudo, o país começou a cumprir os critérios do défice e a economia dá sinais de vida. Mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma pode ser um caminho. O Governo percebeu que tinha de se ajustar a um novo ciclo e aproximou-se da táctica de confronto com a troika proposta pelo Syriza, recusando aumentar o IVA dos medicamentos ou acrescentar novos cortes nas pensões. E Alexis Tsipras, líder do Syriza, tratou nas últimas semanas de se mostrar na Comissão Europeia e no Banco Central Europeu, num gesto que pressupõe vontade de diálogo e, talvez, abdicação. Já não fala de “reestruturação da dívida”, prefere invocar uma “renegociação”.
Apesar da ténue aproximação entre blocos, há sinais de que os eleitores podem canalizar o medo que lhes chega do exterior para a eleição do bloco moderado. O Syriza, que ganhou as eleições europeias, mas que, de acordo com as últimas sondagens, tem agora uma vantagem de apenas 3% sobre a Nova Democracia, pode morrer na praia. A vontade de mudar colide de novo com a necessidade de manter o mal menor. Com um quarto da população activa no desemprego, com uma dívida correspondente a 200% do PIB, a Grécia tem pouca margem para ir para lá da resignação.