Operações de resgate no Adriático terminam mas teme-se que haja dezenas de desaparecidos

Incêndio a bordo de ferry provocou pelo menos dez mortos. Aberto inquérito para apurar causas do acidente.

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Fotografia do ferry antes de o incêndio a bordo ter sido extinto Marina Italiana / Reuters

“Às 14h50 [13h50 em Portugal continental], o comandante Argilio Giacomazzi abandonou o navio”, anunciou a guarda-costeira através do Twitter. Cabe ao comandante do navio atestar que não se encontram mais pessoas a bordo e só depois deixar a embarcação, entregando o controlo à Marinha. Para trás, ficava o vaivém de helicópteros que desde a tarde de domingo retiravam, um a um, os passageiros e tripulantes encurralados, primeiro pelo fogo depois pelas condições adversas que impossibilitaram a acostagem dos navios que acorreram ao local.

Mas a incerteza não terminou. A edição online do jornal grego To Vima noticiou que havia 38 pessoas desaparecidas e, ao final da tarde, o Governo italiano confirmou a discrepância entre as listas de embarque e a de resgatados.

“Do Norman Atlantic foram retiradas 427 pessoas, incluindo 56 tripulantes, e há oito mortos, num total de 435 ocupantes. Na lista de embarque figuravam 478”, anunciou o ministro dos Transportes, Maurizio Lupi, recusando especular sobre a existência de desaparecidos. “Algumas das pessoas resgatadas não estavam na lista inicial”, afirmou, explicando que cabe ao porto de embarque verificar as informações sobre o número de passageiros que embarcaram. A ministra da Defesa, Roberta Pinotti, assegurou que as operações de busca na zona vão continuar, até porque sete das oito vítimas mortais foram encontradas no mar durante as últimas horas – há informações de que terão caído quando tentavam chegar aos botes de salvamento, ou que se terão lançado à água face ao pânico provocado pelo intenso fumo do incêndio.

A embarcação tinha saído do porto grego de Patras na madrugada de domingo em direcção a Ancona, no Leste de Itália. O alarme foi dado quando o navio se encontrava a norte da ilha grega de Orthonoi, já frente à costa da Albânia. Não se sabe o que provocou o incêndio, que começou na zona reservada aos carros, mas um motorista contou à imprensa grega que havia camiões com combustível “apertados como sardinha em lata” no espaço e que o topo das cisternas chegava a tocar no tecto “o que facilmente podia provocar fagulhas” face à forte agitação marítima.

Uma inspecção recente ao navio – construído em 2009 e fretado pela companhia grega Anek – tinha detectado falhas numa porta corta-fogo, situada precisamente na zona onde deflagrou o incêndio. Mas o armador Carlo Visentini assegurou ao jornal La Repubblica que o problema foi reparado. Um inquérito criminal para determinar a origem do incêndio e apurar responsabilidades foi aberto pela procuradoria de Bari.

Foi àquela cidade que chegou na manhã de segunda-feira um cargueiro grego com 49 sobreviventes, alguns a recuperar da hipotermia provocada por horas à espera de resgate no convés do ferry, outros com queimaduras resultantes do incêndio. Os passageiros que inspiravam mais cuidados foram transportados directamente de helicóptero para os hospitais. As operações de resgate não foram interrompidas durante toda a noite, apesar do vento forte e da agitação marítima, mas só com o nascer do dia foi possível acelerar o vaivém dos helicópteros e finalizar o resgate.

Vários passageiros queixam-se do caos vivido a bordo, acusando a tripulação de não ter treino para assegurar a evacuação do navio. “Houve momentos em que me senti completamente aterrorizado. As chamas alastravam e não havia sinais de ajuda”, contou o britânico Nick Channing Williams à Sky News pouco depois de ter sido retirado. O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, preferiu elogiar o “trabalho impressionante” das forças gregas e italianas que participaram no resgate e evitaram uma tragédia maior.
 

   

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