Trabalhadores da Refer fazem greve mas maioria dos comboios deverá circular

Greve de 24 horas visa protestar contra a fusão da Refer com a Estradas de Portugal. Perturbações no tráfego ferroviário dependentes da adesão nos Centros de Comando Operacional de Braço de Prata e de Contumil.

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Centro de Comando Operacional da Refer em Braço de Prata, Lisboa Pedro Cunha

Historicamente as linhas do Douro e do Minho são as mais afectadas pelas greves da Refer, porque a sua exploração depende essencialmente dos ferroviários que estão colocados nas estações e que gerem o tráfego de comboios.

No resto da rede, a crescente automatização da circulação ferroviária tem minorado os efeitos das greves, uma vez que a gestão da circulação é feita à distância, através dos Centros de Comando Operacionais (CCO) de Contumil (Porto), Braço de Prata (Lisboa) e Setúbal. Na perspectiva dos sindicatos, o êxito da paralisação de amanhã mede-se pelo grau de adesão nestes três pontos nevrálgicos, o que levou, em greves anteriores, a situações de alguma tensão com piquetes de greve em Braço de Prata.

Mas como aos CCO de Lisboa e Porto estão afectos 240 trabalhadores, a empresa tem conseguido substituir os grevistas por colegas que não aderem ou, como já aconteceu, recorrer às próprias chefias que estão habilitadas a mexer nas mesas que comandam a circulação.

Pela primeira vez, uma greve da empresa de infra-estruturas ferroviárias pode afectar gravemente o tráfego de mercadorias, pois desde o início deste mês que a gestão dos terminais que pertenciam à CP Carga passou para a Refer, tendo transitado de uma para a outra os respectivos trabalhadores. E é destes últimos, situados sobretudo em Leixões e Bobadela, que depende o impacto da greve na circulação dos comboios de mercadorias.

As greves na Refer estão também sujeitas a serviços mínimos. Estes obrigam a que os comboios em marcha no momento de início da paralisação não sejam impedidos de chegar ao destino e prevêem que nas horas das ponta (entre as 6h30 e as 10h e das 16h30 às 20h) circule pelo menos um de cada cinco comboios programados.

Os motivos da greve incluem a reivindicação do pagamento de diuturnidades e da reposição de direitos suspensos ou retirados, bem como o protesto contra as reduções remuneratórias e congelamento de salários. A principal razão, contudo, é a fusão da Refer com a Estradas de Portugal, uma medida que não estava no programa do Governo nem tinha sido prevista pela troika e que apanhou desprevenidos sindicatos e as próprias administrações das empresas do sector ferroviário.

A fusão está a ser conduzida de forma muito rápida por António Ramalho, presidente da Estradas de Portugal, que foi o mentor deste projecto e que se comprometeu a implementá-lo no início de 2015. O gestor já anunciou que haverá redução de postos de trabalho.

As poupanças obtidas com a fusão foram inicialmente estimadas em 350 a 400 milhões de euros, mas no início do Verão o Governo subiu a parada para mil milhões. Um valor só explicado pela venda de activos imobiliários da Refer Património e que nada têm a ver com a eventual poupança ditada pela fusão.

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