Banco de Portugal mantém previsão de crescimento de 1,5% para 2015

Depois da surpreendente aceleração do consumo registada este ano, o banco central acredita agora num abrandamento progressivo nos próximos dois anos, com recuperação das exportações e crescimento irregular do investimento.

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Governador foi acusado pelo Governo de "falha grave de informação" Público

A instituição liderada por Carlos Costa não apresentava projecções para o próximo ano desde Junho. Nessa altura, já previa um crescimento de 1,5% para 2015, valor que agora mantém, embora ajustando várias componentes do PIB. Em relação a 2016, previa em Junho um crescimento de 1,7% que agora baixou de forma ligeira para 1,6%.

Em relação à previsões de Junho, o Banco de Portugal foi forçado, para todo o período de 2014 a 2016, a rever em baixa a evolução das exportações e em alta o contributo da procura interna. Para 2015, por exemplo, em Junho previa-se um crescimento das exportações de 6,1% e agora apenas se aponta para 4,2%. Em sentido inverso, o consumo privado crescia 1,5% e agora antecipa-se uma subida de 2,1%.

Este regresso a um padrão de crescimento mais baseado na procura interna, que se acentuou a partir do segundo trimestre deste ano, não é visto contudo pelo Banco de Portugal como sendo uma característica que se mantenha no futuro.

Depois de uma desaceleração das exportações este ano – em parte por causa da paragem temporária da refinaria da Galp na primeira parte do ano –, o BdP espera que as vendas de bens e serviços ao estrangeiro recuperem e voltem a ritmos de crescimento anteriores, beneficiando do dinamismo no sector turístico.

Para 2015, é projectado um reforço das exportações de 4,2% em relação a este ano – em que o BdP está a prever que o sector exportador cresça apenas 2,6% –, seguindo-se uma progressão de 5%. Isto ao mesmo tempo em que as importações deverão, primeiro, abrandar de forma significativa (passando de 6,3% em 2014 para 3,1%), para depois voltarem a reforçar-se (crescendo 4,7% em 2016).

Em relação ao consumo privado, prevê-se haja um progressivo abrandamento. Depois de um crescimento de 2,2% este ano, é esperado pelo banco central uma progressão de 2,1%, seguindo-se mais um ano de abrandamento, para 1,6%.

Já no que toca ao consumo público, espera-se em 2015 uma nova diminuição, que se deve ao “decréscimo adicional do emprego nas administrações públicas, embora menos marcado que no ano anterior, contrabalançado em parte por uma variação positiva na aquisição de bens e serviços”. Aliás, o Banco de Portugal conta que o emprego público continue a diminuir no próximo ano, à semelhança do que está a acontecer este ano, esperando uma estabilização em 2016.

O Banco de Portugal não divulga previsões para o mercado de trabalho, dando apenas conta da trajectória recente do emprego. Com base nos “indicadores disponíveis sobre a evolução conjuntural do emprego e do volume de horas trabalhadas” do INE, nota que os últimos dados mostram que há uma evolução “favorável do emprego”.

As previsões do Banco de Portugal para o próximo ano dão alguns argumentos ao Governo na sua defesa da credibilidade do orçamento do Estado para 2015. O crescimento de 1,5% é exactamente igual ao que consta do cenário macroeconómico do Executivo. A Comissão Europeia, nas críticas que fez à proposta orçamental portuguesa, afirma que a projecção de crescimento económico do Governo pode vir a revelar-se demasiado optimista. Bruxelas aponta antes para um crescimento de 1,3% no próximo ano. Curiosamente, para 2016, a expectativa de Bruxelas até é mais positiva, com um aumento do PIB de 1,7%.
 

Potencial limitado

Este pessimismo mais ligeiro em relação a 2016 revelado pelo Banco de Portugal é um sintoma da preocupação que a entidade liderada por Carlos Costa tem em relação à capacidade que a economia portuguesa terá para conseguir taxas de crescimento elevadas num futuro próximo.

O relatório afirma que “o potencial de crescimento previsto para a economia portuguesa no horizonte de projecção é relativamente limitado” e dá vários motivos para este facto.

Em primeiro lugar, está o elevado nível de endividamento, tanto do sector privado como do sector público, que ainda tem de ser corrigido, limitando aquilo que pode ser o crescimento do consumo e do investimento.

Depois são referidos os desenvolvimentos demográficos. A população residente portuguesa está a diminuir com uma combinação de redução da taxa de natalidade com fluxos migratórios negativos.

Outro facto referido está relacionado com o que o Banco de Portugal diz serem “os limitados níveis de capital produtivo por trabalhador”, que não permitem às empresas portuguesas ganharem vantagens competitivas significativas face aos concorrentes estrangeiros.

Por último, o banco central relembra o “baixo dinamismo previsto para os principais parceiros comerciais”, especialmente no que diz respeito à zona euro. Fazer crescer muito as exportação é, nesse cenário, bastante mais difícil.

Todos estes factores, em conjunto, diz o relatório do Banco de Portugal, “continuarão a condicionar o potencial de crescimento da economia portuguesa no futuro”.

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