Um parque de diversões chamado Comic Con Portugal

A curiosidade e a presença de actores internacionais foram os principais factores de sucesso da primeira edição do evento de cultura pop, que, este fim-de-semana, fez deslocar mais de 30 mil pessoas à Exponor, em Matosinhos.

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Regina Coelho
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“Ter conseguido chegar a estes números vai permitir que nos próximos anos [o evento está garantido pelo menos até 2018] possamos ter impacto internacional e trazer mais convidados e vedetas lá de fora”, disse ao PÚBLICO Paulo Rocha Cardoso, director do Comic Con Portugal.

Na sexta-feira, com o evento ainda a meio-gás, já dava para perceber que eram muitos os adolescentes (e alguns adultos) que estavam na expectativa da chegada de Natalie Dormer no dia seguinte. E assim foi: a actriz britânica lotou o Auditório A da Exponor, onde respondeu a perguntas dos fãs. O mesmo aconteceu, mas em menores dimensões, com outras celebridades, como Morena Baccarin (nova contratação de Gotham), ainda na sexta; Seth Gilliam (The Walking Dead), no sábado; Paul Blackthorne (Arrow) e o elenco principal da série Da Vinci’s Demons, no domingo.

Os actores internacionais foram a principal atracção do primeiro Comic Con Portugal, evento arquitectado à imagem das grandes convenções de cultura pop dos EUA que reúnem televisão, cinema, banda desenhada, videojogos e cosplay. Não se trata, portanto, de uma versão do Comic Con de San Diego (o mais mediático do género), como muita gente pensou, mas de uma adaptação do conceito para o mercado português.

Paulo Rocha Cardoso admitiu que a maior fatia do orçamento foi aplicado no sector da televisão e do cinema, num trabalho em parceria com os canais FOX, Syfy (com a antestreia mundial da série The Librarians), MOV, AXN, RTP e Disney Channel. A primeira investiu “um valor bastante representativo” no evento, disse ao PÚBLICO Assunção Loureiro, vice-presidente de Branding & Portfolio Management da FOX.

Durante o fim-de-semana não faltaram curiosos na Exponor (portugueses, mas também espanhóis, franceses e ingleses), como se de um enorme parque de diversões geek se tratasse. Uns eram caricaturados por artistas, cantavam karaoke, caçavam autógrafos, jogavam videojogos ou viam as peças originais de filmes de cinema fantástico, como as lâminas de Freddy Krueger de Pesadelo em Elm Street, na ExpoSyfy; enquanto outros arrastavam zombies por uma corda, imitando a personagem Michonne de The Walking Dead. O cosplay e os cosplayers (pessoas que se mascaram de personagens de séries, filmes, BD, videojogos e anime) são uma parte importante destes eventos – que o diga Raul Baptista, que fez a sua própria armadura de Iron Man em casa, durante sete meses.


Feminismo e BD

A forte presença de mulheres no Comic Con prova que a cultura geek está cada vez menos falocêntrica. O feminismo foi, inclusive, abordado por várias visitantes e artistas durante o evento. Natalie Dormer referiu (entre as chalaças machistas e evitáveis do moderador, o humorista Luís Filipe Borges) que os argumentistas, ao criarem certo tipo de personagens femininas, não percebem que estão a contribuir para a fetichização da mulher.

Morena Baccarin, numa entrevista-relâmpago ao PÚBLICO, confessou que apesar de já ter participado em séries muito diferentes entre si (como Homeland e The Mentalist), regressa sempre à ficção-científica, porque é onde encontra "papéis femininos fortes” (referia-se, sobretudo, à sua presença em Firefly, Stargate SG-1 e V). E a canadiana Pia Guerra, desenhista da premiada série da Vertigo Y: The Last Man, disse no primeiro painel de banda desenhada internacional, na sexta, que a indústria de BD está cada vez mais aberta a mulheres artistas. “No início da minha carreira diziam-me que eu não desenhava como uma rapariga, mas agora já não ouço esse tipo de comentários.”

Apesar de não terem tido uma adesão memorável, os painéis sobre BD foram dos momentos mais interessantes do Comic Con. Passaram por lá convidados internacionais como o relevante escritor americano Brian K. Vaughan ou os desenhistas espanhóis Marcos Martín, Carlos Pacheco e Javier Rodriguez, ligados a grandes editoras dos EUA como a Marvel. E artistas portugueses que fazem trabalhos para o mercado americano de BD, como André Araújo, Daniel Henriques e Jorge Coelho. Este último elogia a “aposta nos artistas nacionais” do Comic Con Portugal, incluindo o Artist’s Alley, espaço onde os autores podiam expor e vender os seus trabalhos.

Jorge Coelho crê que o evento “tem tudo para crescer e para virem nomes internacionais da BD cada vez mais fortes”. Já há, pelo menos, a bênção do mestre Brian K. Vaughan. “Para uma primeira Con, numa cidade como o Porto, isto está a ser um sucesso. Já estive no Comic Con de San Diego e no de Nova Iorque, e aqui tive uma das maiores filas de sempre para dar autógrafos.”

Capitão Falcão deve estrear no 25 de Abril de 2015

A equipa de Capitão Falcão também marcou presença no Comic Con Portugal. O realizador João Leitão disse ao PÚBLICO que “estão a fazer os possíveis” para que o filme estreie no dia 25 de Abril do próximo ano, com distribuição em todo o país assegurada pela NOS. Data curiosa, já que o personagem principal é um super-herói fascista (interpretado por Gonçalo Waddington). Para terminar o filme só falta gravar a música original com a premiada Orquestra Sinfónica de Praga, que já trabalhou com realizadores como Pedro Almodóvar. João Leitão revelou ainda que recebeu convites de produtores de países como a Alemanha e Espanha para fazer uma versão do Capitão Falcão com os ditadores locais (Hitler e Franco, respectivamente). O realizador simpatiza com a ideia: “Era engraçado que isto se tornasse numa espécie de franchising de comédia ditatorial.”

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