Ricardo Salgado garante que não tem cópias das actas do GES
Em carta a Fernando Negrão, o ex-banqueiro informa a comissão de inquérito que por ser “visado” em duas investigações lhe foram “apreendidos” todos os documentos que os deputados solicitaram.
Numa carta com data de quarta-feira, 3, o ex-banqueiro agradece a “gentileza” de um ofício da comissão, mas começa por colocar os termos da missiva em causa. Fernando Negrão, presidente da comissão, solicitara o “envio das actas ou outros suportes documentais e/ou digitais (gravações) do Conselho Geral do Grupo Espírito Santo, desde o ano 2000”. Logo à frente desta data, Salgado acrescenta um “sic”, dando nota do seu espanto. Depois, acrescenta, “em rigor”, a comissão refere-se a um “órgão familiar”, que “não tem natureza de órgão societário”.
Ou seja, Salgado explica que o Conselho Superior do GES, que tanta tinta tem feito correr, era uma espécie de encontro informal familiar. Por isso, prossegue, o pedido do parlamento levantaria até “questões de reserva de intimidade”, uma vez que o tal “órgão familiar” não está sujeito à supervisão. Neste ponto, convém lembrar que essas actas já foram transcritas (profusamente) pelo jornal i, revelando pormenores pouco habituais em pacatas reuniões de família.
Porém, Salgado acrescenta outro motivo, de força maior, para não devolver a “gentileza” dos deputados: “Foram realizadas diligências de buscas nos processos-crime “Monte Branco” e “Universo Espírito Santo” em que sou visado”. Ou seja, conclui Salgado, “toda a documentação relativa às reuniões do Conselho Superior”, agora sem aspas, do GES, foi-lhe “apreendida”. E, pior, está sob a alçada do “segredo de justiça”.
Mesmo com esse aviso prévio, Salgado tranquiliza os deputados. Tudo isto “sem prejuízo” da sua “inteira disponibilidade para prestar depoimento e os necessários esclarecimentos” que a comissão pede. A audição será, como vimos a próxima.
Esta quarta-feira, o dia em que Salgado era esperado no Parlamento, conforme o primeiro agendamento, foi passada a ouvir uma técnica do Banco de Portugal, Susana Caixinha, do departamento de supervisão prudencial. Desde Abril de 2012, Susana fez parte da equipa que esteve em permanência a vigiar as contas da Espírito Santo Financial Group. Intimidada e visivelmente à defesa, a supervisora informou que tem cinco superiores hierárquicos e pouco tinha a dizer aos deputados, que bem tentaram recolher informação. "De todo!", respondeu Susana Caixinha, quando inquirida pelo PSD se "alguma vez sentiu hostilidade" por parte do GES, notando que o grupo "mobilizou mesmo recursos para prestar toda a informação necessária", dando acesso a toda a documentação solicitada, como actas, e que "teve toda a autonomia necessária".
A audição desta quinta-feira, de uma colega de Susana Caixinha, foi desmarcada. “Considerando que a audição levada a cabo hoje, dia 3 de Dezembro, foi considerada suficiente para o esclarecimento pretendido pela Comissão Parlamentar de Inquérito à Gestão do BES e do Grupo Espírito Santo, é dada sem efeito a audição marcada para amanhã, dia 4 de Dezembro”, informaram os serviços do Parlamento.
O antigo banqueiro informa, assim, a comissão de inquérito que não pode fornecer as referidas actas do órgão "familiar" do Grupo Espírito Santo.
Numa carta enviada a Fernando Negrão, presidente da comissão, Salgado sustenta que por não ser um órgão "societário", nem estar sujeito a supervisão, o que se passava no conselho superior do GES não deveria ser revelado.
Em todo o caso, prossegue, não existem cópias das actas, uma vez que estas foram apreendidas nas buscas realizadas aos seus domicílios pessoais e profissionais, no âmbito dos processos Monte Branco e Universo Espírito Santo.