A música portuguesa discutida à mesa

Uma nova geração assume que "faz esta coisa que é música portuguesa". Reconcilia-se com o passado, afirma sem complexos a sua criatividade a partir do quotidiano. Tem sido um bom ano, criativamente, afectivamente. Oiçamo-los aqui, em conversa. Oiçamos a sua música no Vodafone MexeFest: Capicua, DJ Marfox, Ana Cláudia, Éme, Tomás Wallenstein.

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Capicua foi um dos fenómenos da música portuguesa editada o ano passado
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Tomás Wallenstein: "A solução para quem quer estabilidade não é outra senão estar constantemente a pensar em soluções novas" Daniel Rocha
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Éme: "Posso estar agora a dedicar a minha vida à música e para o ano já não acontecer" Daniel Rocha
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DJ Marfox: "Hoje é possível fazer música no quarto e distribuí-la e há várias pessoas a fazê-lo" Daniel Rocha
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Ana Cláudia: "É transversal esse olhar mais para dentro porque também queremos comida ou fruta portuguesa" Daniel Rocha

Um mar de rosas? Longe disso. Vive-se, do ponto de vista de modelo económico e das novas formas de operar, um período de conflituosa transição. Mas parece existir realmente, da parte do público, um reencontro com a música que vai sendo feita aqui, principalmente ao vivo.

E isso também se reflecte no cartaz de alguns festivais. É o caso do Vodafone MexeFest, que acontece esta sexta e sábado, em Lisboa. Alguns dos projectos internacionais que mais despertam atenção lançaram bons álbuns este ano (cSt. Vincent, Perfume Genius, Tune-Yards, Adult Jazz, Kindness, JJ, Sharon Van Hetten ou Wild Beasts), mas o contingente português não lhe fica atrás.

Existem consagrados como os Clã ou Branko dos Buraka Som Sistema e da editora Enchufada que vai reunir à sua volta os peruanos Dengue Dengue Dengue. Há também nomes firmados como NBC ou Capicua. E uma série de figuras que têm dado que falar nos últimos tempos como Sensible Soccers, Ana Cláudia, DJ Marfox, Nigga Fox, Duquesa, Éme, MGDRV, Modernos, Salto, Niagara, Rocky Marsiano ou Throes + Shine, todos eles reflectindo uma multiplicidade de caminhos possíveis, do rock às electrónicas, da nova música afro-portuguesa ao hip-hop.

Os nomes reunidos são por si só ilustrativos da diversidade da cena portuguesa actual. Mas alargando o foco descobrimos o hip-hop inimitável de Halloween, retrato pungente de uma realidade que o país não vê em horário nobre, ou o roque popular de uns Diabo na Cruz, que cruzam com mestria lendas e histórias de ontem e o pulsar de hoje. Estes lançaram álbum este ano, o mesmo ocorrendo, por exemplo, com Tigerman, Dead Combo, Paus, Gala Drop, D’ Alva ou Rita Redshoes.

Vemos como a editora Discotexas, de Moullinex e Xinobi, demonstra ser global (na música criada e no alcance que aquela atinge), ou como a promotora e editora Lovers & Lollypops, cria uma rede internacional de que o festival Milhões de Festa é mostruário, enquanto, no resto do ano, se torna catalisadora de vitalidade, através dos Black Bombaim, Jibóia, Throes + The Shine ou Duquesa, este o nome assumido a solo pelo vocalista dos Glockenwise.

Junte-se-lhes outras estruturas independentes, como a Pataca Discos, editora de Real Combo Lisbonense, Bruno Pernadas ou You Can't Win Charlie Brown, recordemos a PAD, em cujo catálogo se incluem os peixe:avião, os Dear Telephone ou os Sensible Soccers, ou o intricado e diversificado mundo da música de dança povoado por nomes tão diferentes como IVVVO, Marie Dior, Rap/Rap/Rap, Miguel Torga ou Tiago, e o complexo mapa desta diversidade começa a ganhar contornos nítidos.

Momento de vitalidade
E estamos a nomear apenas uma pequena parcela. Nenhum destes músicos enriqueceu, com as cifras macroeconómicas de outros tempos a darem lugar a uma nova objectividade. Mas há um ajuste com a realidade, com gente com ideias a criar espaço para fazer aquilo de que mais gosta: música. Mas será que esta percepção de vitalidade é também experimentada pelos próprios? Foi isso que quisemos perceber, reunindo alguns daqueles que vão estar no Vodafone Mexefest.

“Sem dúvida que estamos a viver um momento de vitalidade”, concorda Marlon Silva, ou seja Marfox, DJ e produtor que tem estado em destaque no contexto da editora Príncipe (Nigga Fox, Maboku) e não só, tendo actuado por todo o mundo nos últimos meses e editado na americana Lit City Trax, contribuindo para a visibilidade de linguagens híbridas como o kuduro ou afro-house. “Estamos a olhar mais para dentro, devido à crise, e por causa do acesso à informação”, diz. “Hoje é possível fazer música no quarto e distribui-la e existem mais pessoas a fazê-la. E não só em Lisboa, porque esta música viaja e está a ganhar espaço internacionalmente”.

Na visão de Ana Cláudia, cantora de formação jazz e com passado ligado às músicas de raiz portuguesa (integrou as Tucanas), não é apenas na música que se verifica esse reencontro com o que é português. “É transversal a todas as áreas, esse olhar mais para dentro”, reflecte, “porque também queremos, cada vez mais, comida ou fruta portuguesa, por exemplo”. Recentemente, lançou o primeiro álbum em nome próprio, Outono, onde a sensibilidade da cantautora se cruza com uma componente electrónica feita de melancolias. Olhando para o panorama musical que a rodeia, comenta que sente existir um assumir do país que somos, com todas as suas fragilidades e potencialidades.

“É um país pequenino, tem defeitos, mas é preciso assumir que fazemos esta coisa que é música portuguesa”, diz, enunciando que não vale a pena copiar modelos exteriores, como o R&B americano. Quando muito pode-se criar R&B com influências portuguesas.

Tomás Wallenstein, dos Capitão Fausto e dos Modernos, recorda que essa reconciliação é um processo, não aconteceu de geração espontânea, evocando o desempenho de editoras como a Amor Fúria ou a Flor Caveira que “tiveram um papel importante na mudança de mentalidades, cantando e operando em português”.

Para ele e para os Capitão Fausto, o encontro com a atitude criativa emanada daquelas editoras, onde descobrimos Tiago Guillul, B Fachada ou Samuel Úria, foi determinante. Encaminhou-os na procura de uma linguagem própria a partir dos seus fascínios, um vasto caldeirão musical, típico da sua geração, onde se incluem incontornáveis como Bob Dylan ou os Beatles, heróis do progressivo como os Gentle Giant, figuras como Syd Barrett, a geração do rock psicadélico britânico e americano dos anos 1960 ou bandas mais recentes como Radiohead ou mais novas ainda como os Tame Impala.

Em Gazela e no mais recente Pesar o Sol, os dois álbuns editados pelos Capitão Fausto, que lhes garantiram lugar de destaque, mostram o que frutificou desse encontro: um rock psicadélico expansivo, mas com uma aguda noção de canção, que, para utilizar uma expressão que ouviremos pelo menos um par de vezes ao longo da mesa redonda, “só poderia ter sido feita aqui” –  e, de facto, uma canção de rock chamada A célebre batalha de Formariz – aldeia nas proximidades de Paredes de Coura – só poderia ter nascido em Portugal.

Mas não são os Capitão Fausto que veremos no Vodafone Mexefest. No festival, marcarão presença Os Modernos, que se apresentaram este ano com o EP #1. Os Modernos, ou seja, Tomás Wallenstein, Salvador Seabra e Manuel Palha, três dos cinco Capitão Fausto (os outros dois, Domingos Coimbra e Francisco Ferreira, lideram outra banda paralela, os Bispo). Há 15 anos o mais provável era que nem Os Modernos nem os Bispo tivessem tido oportunidade de nascer, expõe Wallenstein, pela pressão das estruturas editoriais convencionais, que não desejariam o desviar de atenções da banda principal.

Hoje, alia-se a tendência natural dos membros da banda para uma certa hiperactividade, com a facilidade de transformar novas ideias em realidade acessível a todos. Os Modernos, uma versão mais crua e directa dos Capitão Fausto, são resultado desse contexto. Descobrindo, quase por impulso, algo novo para mostrar, guardá-lo na gaveta não é uma hipótese aceitável.

“Há mais tugas a fazer música fixe hoje”, reconhece João Marcelo, ou seja Éme, da editora Cafetra, embora alertando para o outro lado da questão. “Mas a maior parte das pessoas chega ao fim do mês e não tem dinheiro. Tudo isto pode ser passageiro. Posso estar agora a dedicar a minha vida à música e para o ano já não acontecer.” A consciência dessa precaridade não surge como queixume. É a verificação de uma realidade, a única que, enquanto músico, conheceu a sua geração. Uma veracidade que, de resto, não tem servido de travão à criação. E ele constitui um exemplo disso.

Conhecemo-lo enquanto elemento da Cafetra, grupo de amigos tornado editora, de onde têm emergido bandas como as Pega Monstro, Passos em Volta, Putas Bêbadas ou Iguanas, diferentes entre si, mas nascidas de uma mesma vontade: a de criar, explorar, divulgar, de uma forma independente e com o desejo de fazer da música uma representação, entre o literal e o abstracto, de um microcosmos particular – a realidade que lhes é mais próxima nas vivências do quotidiano e o olhar que, através dele, constroem sobre um mundo globalizado. Éme, já vocalista dos Passos em Volta, estreou-se a solo com Gancia, sucedido já este ano pelo álbum Último Siso, produzido por B Fachada, e confirmação entusiasmante da promessa aberta pelo primeiro EP.

É difícil não concordar com ele quando aponta a incerteza como uma realidade dos músicos da sua geração. Não é apenas na música, claro. Mas dir-se-ia que a música viveu dois abalos em simultâneo, com a transição do modelo de negócio a juntar-se à crise globalizada.

Tomás Wallenstein é daqueles que acredita que, em alguns casos, a crise acabou por servir de catalisadora – “a solução para quem quer estabilidade não é outra senão trabalhar e estar constantemente a pensar em soluções novas” –, enquanto Ana Matos, ou seja Capicua, que se impôs definitiva e transversalmente este ano com Sereia Louca, para além do território do hip-hop, prefere reflectir num reequilíbrio trazido pela mudança.

“Há 30 anos para furar era preciso uma editora e gravar num estúdio caríssimo. Hoje mesmo que já não possamos viver da música como nos anos 1990, todos fazemos o que gostamos. Apesar das dificuldades, é mais fácil fazer música. Qualquer pessoa pode ter uma placa de som e gravar em casa num programa qualquer. Nesse aspecto, somos uma geração privilegiada. O facto de a crise nos ter tirado a esperança de estabilidade profissional acabou por nos tornar mais corajosos. Antes acabavas de estudar, ias arranjar um emprego e tinhas a perspectiva de ficar lá para sempre. Hoje não a temos. E isso torna-nos mais desprendidos. Para se ser precário, assume-se que, então, mais vale fazer-se o que se gosta realmente.”

Um nome os une, Zeca
Olhando para o panorama musical português, e abordando em particular a sua geração mais recente, constata-se que, mais que uma reconciliação com uma qualquer ideia elevada de música portuguesa, assiste-se a uma manifestação de identidade vincada. Não se notam vestígios de tentativa de recuperação de um outro tempo, antes a simples afirmação, descomplexada e sem programa definido, de uma criatividade em que local e global afluem em simultâneo.

Daí, por exemplo, que o passado da música portuguesa não surja como modelo ou validação. Ana Cláudia tem em Sérgio Godinho uma influência “para todo o sempre”. Tomás Wallenstein diz gostar dos Sétima Legião, de algumas coisas dos Heróis do Mar, do Sérgio Godinho ou de José Mário Branco. “Mas acabo por não me alargar muito”, concede. Capicua teve como referência os cantautores que ouvia na infância através dos pais e as bandas do Porto, como Dealema, Mind da Gap ou Matozoo, com que descobriu o hip-hop nos anos 1990. Marfox, por sua vez, cresceu distante de tudo isso: eram a kizomba, o kuduro, o funáná e, depois, o hip-hop, que lhe foram moldando o ouvido. Apenas um nome os reúne a todos, José Afonso – e até DJ Marfox, que não cresceu a ouvi-lo, já o incluiu agora nas suas sessões.

“70% do que ouço é Zeca. Os outros 30% divido-os por artistas americanos”, diz Éme. “Ouço o Variações, gosto muito de algumas coisas do Zé Mário [Branco], mas o que move é mesmo o Zeca. A convivência com o passado da música portuguesa não é fácil. Não consigo encontrar grandes lições para mim da maioria da música do passado”. As lições tem-nas agora, dadas por quem está a seu lado. “A maior influência são os meus amigos, o pessoal da Cafetra. É isso que me faz voltar a casa para trabalhar todos os dias. Depois, também fui conhecendo outra malta, como o Fachada, que foi importante. O Elvis para mim é uma foto. Os Beatles são uma foto, muito bonita, mas uma foto. Adoro a música, mas é mais fácil ver Humanidade em pessoas que conheço. E isso é presente, não é passado.”

A barreira psicológica que parecia separar o público da criação musical portuguesa mais contemporânea esvaiu-se nos últimos anos e isso pressente-se nos espectáculos ao vivo. Talvez seja como diz Éme: “hoje em dia as pessoas podem ouvir tudo em casa, tudo lhes está acessível, e por isso preferem ir, por exemplo, ao MusicBox ver o Marfox, porque é único e irrepetível”.

Na actualidade as receitas geradas pelas vendas de discos, físicas ou digitais, principalmente quando se está numa fase emergente da carreira, são residuais. Restam os espectáculos ao vivo. Mas também aí não é fácil.

“Se fizer contas ao dinheiro que ganhei com os discos de Capitão Fausto é ridículo”, concorda Tomás Wallestein, “e realmente algum dinheiro que se ganha é dos concertos.”

Todos eles se queixam de que é relativamente fácil tentarem aproveitar-se da sua paixão, tendo sido por vezes aliciados a tocar à borla em locais onde toda a gente é paga (do porteiro ao bengaleiro) menos eles.

“Quando fazia parte do circuito da ‘noite africana’ o segurança da porta fazia mais dinheiro do que eu, que estava a pôr música para 500 pessoas. Hoje vivo das minhas sessões DJ, algo que não conseguia nesse circuito”, conta Marfox. “Por vezes ganha-se à percentagem da bilheteira, dividindo com o técnico de som, e no fim das contas chegamos à conclusão de que pagámos para tocar, porque há sempre despesas”, lembra Ana Claudia. Éme reforça: “Já toquei em concertos em que ganhava 60 euros e depois tinha que pagar 70 ao técnico de som.”

Capicua, com um trajecto mais consolidado, tem uma visão crítica de quem se predispõe a tocar à borla: “desvalorizam o seu próprio trabalho e dos colegas. Isso abre espaço para o ‘se não queres tu, vem outro’, o que acaba por ser desleal. Os músicos falam pouco disto entre si e existe pouca solidariedade nesse aspecto”.

“A única forma de contornar isso é ser-se insubstituível”, argumenta Tomás Wallenstein. “É mostrar que aquilo que fazes mais ninguém faz. Esse respeito procura-se.”

Uma das saídas para essa instabilidade passa por procurar novos espaços de divulgação e de exposição, por exemplo longe dos grandes centros de Lisboa e Porto. “A minha experiência do último ano mostra-me que fora de Lisboa existe cada vez mais gente a mexer-se” afirma Tomás, que é menos crente na possibilidade de internacionalização. “Não se deve pensar muito nisso. Se acontecer tanto melhor, mas quem passa o tempo a pensar demasiado nisso, começando a criar para ‘bater lá fora’, por norma é o fim da coisa.”

Capicua tem uma visão ampla do país. “Há outros circuitos e outros públicos, para além de Lisboa e Porto. Os Dealema, por exemplo, têm um circuito regional e de festas em escolas do secundário, que as pessoas não imaginam, porque não tem repercussão mediática. A nossa representação da realidade é mais centralizada que a realidade em si”, diz, falando do Algarve ou de zonas do Norte, como Viana do Castelo, como redutos onde se consome avidamente rap em português. 

Dos cinco é Marfox quem tem actuado com regularidade fora do país. Ainda há semanas tocou no MoMA de Nova Iorque e tem mais datas no exterior do que em Portugal – “somos 10 milhões, mas o mundo são quantos?”, interroga, rindo-se. Os restantes não encaram a internacionalização como prioridade, associando-a ainda ao fado ou ao contexto pós-Buraka, apesar de alguns exemplos relevantes – de Legendary Tigerman aos Paus – de que é possível tocar no exterior com regularidade.

“Faço canções em português, é música daqui, do local onde vivo e da vida que levo, nesse sentido pensar na exportação só vai trazer contratempos”, afirma Éme, enquanto Capicua acentua que “as bandas portuguesas têm de ter qualquer coisa de diferenciador para se destacarem” na imensidão de música. “Mas é claro que gostava de tocar lá fora. Fui este ano ao Brasil e adorei, mas também gosto de ir tocar a Viana numa sexta, estar no Algarve no sábado e domingo estar no Porto, em casa. Para mim é qualidade de vida.”

A língua pode ser um obstáculo, mas não tem de o ser e Marfox recorda o fenómeno do brasileiro Michel Teló. “Estive em Berlim ou na Suíça e toda a gente cantava aquilo, mesmo não percebendo a letra. A Cesária Évora cantava em crioulo e isso não era um obstáculo. O Bonga vai à Rússia e canta em português. Os russos percebem-no? Não. Mas percebem a vida que está em palco. Entendem a interacção, aquela linguagem. O mesmo acontece com os Buraka. As pessoas cantam, puxam por eles, a interacção existe, para além da língua.”

Ninguém é castrador em relação à língua. O gesto artístico deve ser livre. Mas todos concordam que as possibilidades da comunicação fluir aumentam em português. “A minha relação com a música surge através da palavra, mas a questão não é se é em português ou inglês. A criação artística tem três pilares: a estética, a técnica e por fim a ética, a responsabilidade enquanto artista de te posicionares. Eu acredito em música assim. Cresci a ouvir os cantautores de Abril e para mim a música, a língua e o discurso estão articulados. Mas cada um é livre de ter a relação que quer com a sua música.” 

Sobre o que cada um quer ver e ouvir no Vodafone Mexefest é que não existe consenso. Tomás Wallenstein está curioso com as espanholas Deers ou com St. Vincent, Ana Cláudia está mais focada nos Clã e Marfox lembra que esteve há pouco na Noruega com os peruanos Dengue Dengue Dengue.  

No fim da conversa, em jeito de provocação, alguém pede para que se imaginem daí a dez anos. “Nunca meto a fasquia muito elevada”, começa por dizer Marfox, “mas parece-me que Lisboa vai começar a entrar a sério no circuito de música electrónica e não só. Há cada vez mais gente a fazer música aqui e a procura pela cidade aumenta – pelo clima, comida, proximidade da praia, mas também pela música. Acredito que esta geração de artistas vai ter um papel importante nos próximos anos.”

Tomás Wallenstein diz saber a estratégica a aplicar nos próximos anos – “trabalhar, trabalhar sempre” – embora não saiba que resultado obterá, enquanto Capicua se revela hesitante. “Não tenho aquela coisa de desejar fazer isto o resto da minha vida. Vamos a ver. Desde que me deixem escrever posso ser feliz de outras maneiras.”

Já Ana Claudia é mais inflexível. “Não consigo fazer outra coisa, portanto, dê por onde der, quero fazer música o resto da minha vida.” De todos Éme é o que começou há menos tempo. “Comecei a fazer isto mais a sério há apenas cinco meses”, ri-se ele, “portanto o único plano que tenho, que nem sequer é um plano, é mais uma esperança, é saber parar quando me sentir obsoleto. Mas enquanto sentir que vale a pena, ir fazendo sempre.”

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