Milícias Al-Shabaad executam 28 passageiros de um autocarro no Quénia

Radicais islâmicos da Somália afirmam que ataque foi vingança por operação polícial contra mesquitas de Mombaça.

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As forças de segurança encerraram no início da semana quatro mesquitas que diziam ter ligações aos radicais somalis Joseph Okanga/Reuters

O Quénia, que desde 2011 tem tropas a combater os extremistas na Somália, vê de novo o conflito no país vizinho a derramar-se para o seu território, com ramificações que ameaçam agravar as tensões religiosas no país, maioritariamente cristão mas com uma importante comunidade muçulmana concentrada na costa Norte, de que Mombaça é o principal centro.

O autocarro, com 60 passageiros a bordo, saiu ao início da manhã de Madera, cidade no Norte do país próxima da fronteira com a Somália, com destino à capital, Nairobi. Mas a viagem de mil quilómetros foi interrompida logo à saída da cidade, quando uma dezena de homens armados obrigou o autocarro a parar, adiantam várias fontes.

Ahmed Mahat, um dos sobreviventes, contou à BBC que o motorista ainda acelerou para tentar fugir, mas o autocarro ficou atolado na lama causada pelas últimas chuvas. Os atacantes obrigaram os passageiros a sair do veículo, separando os somalis dos quenianos. "Os que não eram somalis receberam ordens para recitar alguns versos do Corão e aos que não conseguiram mandaram-nos deitar no chão e foram alvejados à queima-roupa", adiantou, explicando que alguns somalis que tentaram interceder foram também executados.

A Cruz Vermelha queniana confirmou a morte de 28 pessoas, mas no local decorrem ainda buscas face a informações de que há passageiros desaparecidos.

As poucas dúvidas que existiam sobre a autoria do ataque desfizeram-se pouco depois, através de um email enviado às redacções por Ali Mohamud Rage, porta-voz dos extremistas somalis. “Os mujahedin concluíram com sucesso uma operação perto de Mandera ao início deste sábado que resultou na morte de 28 cruzados”, lê-se no texto, citado pela Reuters, acrescentando que o ataque “foi uma vingança pelos crimes cometidos pelos cruzados quenianos contra os irmãos muçulmanos de Mombaça”. "Cruzados" é a expressão usada pelos radicais para mencionar os cristãos e todos os não muçulmanos, recorda a Reuters.

Segunda-feira, a polícia queniana efectuou buscas em quatro mesquitas na cidade costeira que, segundo as autoridades, eram controladas por imãs radicais ligados às milícias somalis e que estariam a ser usadas para preparar novos ataques na região. Uma pessoa morreu e 376 pessoas foram detidas no âmbito da operação, e as autoridades afirmam ter encontrado granadas, armas brancas e cocktails Molotov, bem como computadores contendo manuais de treino em terrorismo.

A acção foi, no entanto, criticada por responsáveis da sociedade civil, alegando que a operações iria exacerbar as tensões religiosas na zona e instigar jovens muçulmanos, que viram no acto uma profanação dos seus templos, a juntarem-se aos radicais – ainda na segunda-feira, grupos de rapazes empunhando armas brancas saíram às ruas da cidade, matando quatro pessoas. A AFP recorda que, nos últimos anos, três responsáveis de uma das mesquitas, suspeitos de ligações às Al-Shabaab, foram assassinados e que as suspeitas recaem sobre a polícia. 

As execuções trazem à memória o ataque, em Setembro do ano passado, contra o centro comercial Westgate, em Nairobi. O assalto e a musculada intervenção da polícia para lhe pôr fim provocaram a morte de 67 pessoas, no mais sangrento ataque dos radicais somalis no Quénia. Mas já este Verão, a região mais próxima da fronteira somali foi alvo de uma nova série de ataques reivindicados pelas Al-Shabaab, com emboscadas a automóveis e incursões em aldeias que fizeram mais de uma centena de mortos. Um dos piores ocorreu em Mpeketoni, uma aldeia de maioria cristã atacada durante a noite – ao amanhecer os sobreviventes contabilizaram 49 mortos, todos cristãos.
 

   

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