Quatro mortos em ataque a sinagoga em Jerusalém
Atacantes, palestinianos residentes em Jerusalém Leste, foram mortos pela polícia. Netanyahu promete responder com "mão firme" ao ataque.
A polícia israelita adiantou que os dois palestinianos eram residentes em Jerusalém Leste, tal como os autores de dos cinco ataques registados no último mês na cidade na cidade, incluindo dois atropelamentos e dois ataques com armas brancas que fizeram seis mortos e mais de uma dezena de feridos. A estes junta-se a tentativa de assassínio de um activista da direita israelita, Yehuda Glick.
“Vamos responder com mão firme a este assassínio brutal de judeus que foram rezar e acabaram vítimas destes assassinos desprezíveis”, reagiu o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que convocou para esta tarde uma reunião do gabinete de segurança para avaliar uma reacção ao ataque. O ministro da Segurança Interna israelita, Yitzhak Aharonovich, anunciou já a intenção de levantar “nas próximas horas” várias restrições ao porte de arma para facilitar a autodefesa dos cidadãos.
Tal como nos atentados anteriores, Netanyahu responsabilizou tanto o Hamas, força dominante na Faixa de Gaza, como o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, acusando-os de “incitação” à violência e lamentou que a “comunidade internacional esteja a ignorar irresponsavelmente” a sua actuação.
Abbas respondeu pouco depois, num comunicado em que “condena o ataque contra fiéis judeus no seu lugar de oração”, acrescentando que repudia “todas as mortes de civis, independentemente de quem as provoca”. Também o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, denunciou este “acto de puro terror e de brutalidade insana” contra um local de culto. Já o Hamas elogiou, sem reivindicar, o ataque que diz ser uma “resposta adequada e funcional aos crimes da ocupação”.
O ataque aconteceu ao início da manhã numa sinagoga anexa a uma escola talmúdica situada numa zona de maioria ortodoxa no bairro de Har Nof, em Jerusalém ocidental. “Havia cerca de 30 pessoas dentro da sinagoga e os terroristas atacaram-nas com machados, facas e pistoladas”, disse o porta-voz da polícia israelita Micky Rosenfeld, citado pela edição online do Jerusalem Post ,adiantando que só a “rápida intervenção da polícia” evitou mais mortes. Dois polícias ficaram feridos na troca de tiros com os atacantes, um dos quais está em estado crítico.
“Tentei escapar. O homem com uma faca aproximou-se de mim. Havia apenas uma cadeira e uma mesa entre nós. O meu talit [xaile ritual usado pelos homens durante as orações] ficou preso. Deixei-o lá e fugi”, contou ao Canal 2 da televisão israelita um dos fiéis que participava nas orações matinais.
Os dois atacantes foram identificados como Ghassan e Oday Abu Jamal, dois primos residentes no bairro de árabe de Jabal Mukaber, onde as forças de segurança chegaram pouco depois do ataque para realizar buscas. O Jerusalem Post dá conta de informações de que os dois teriam saído das prisões israelitas no âmbito do acordo que levou à libertação do soldado Gilad Shalit, mas a informação não foi confirmada oficialmente.
Escalada de tensão
Há anos que Jerusalém, cidade que tanto israelitas e palestinianos reclamam como sua capital, não registava níveis tão elevados de violência. A tensão latente na cidade aumentou no início do Verão depois de um adolescente palestiniano ter sido sequestrado e queimado vivo numa aparente retaliação pelo rapto e assassínio de três adolescentes israelitas na Cisjordânia. Seguiu-se a ofensiva militar israelita contra o Hamas em Gaza e, nos últimos meses, a crispação adensou-se com a campanha de vários grupos da direita israelita para forçar a mudança de estatuto do Pátio da Mesquitas, local venerado pelas três religiões monoteístas mas onde só os muçulmanos podem rezar.
No complexo ergue-se a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado do islão, mas os judeus recordam que foi sobre aquele monte que se ergueram os seus dois templos históricos, dos quais resta apenas o Muro das Lamentações, o local mais importante do judaísmo.
O Governo de Netanyahu assegura que não pretende alterar o estatuto do complexo, sem conseguir convencer os palestinianos das suas intenções — na semana passada Mahmoud Abbas, acusou-o de com as suas políticas estar a “arrastar a região para uma guerra religiosa”.
Nas últimas semanas, tem havido protestos e confrontos quase diários entre manifestantes e a polícia em Jerusalém Leste, parte anexada por Israel em 1967, para onde o Governo israelita continua a anunciar a construção de novos bairros de colonização.
Protestos que voltaram a ganhar intensidade depois de, no domingo, um palestiniano ter sido encontrado enforcado no autocarro que conduzia para uma empresa de transportes israelitas. As autoridades israelitas dizem ter-se tratado de um suicídio, mas a tese é contestada por palestinianos.