OMS considera surto de Legionella em Portugal como "grande emergência de saúde pública"
Organização Mundial de Saúde fala de epidemia "incomum e inesperada".
O porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, citado pelas agências noticiosas internacionais a partir de Genebra, adiantou que a maior parte dos 233 infectados reportados até ao momento têm entre 50 e 60 anos e que as pessoas internadas em unidades intensivos tinham, na maior parte dos casos, outras doenças de base.
Até ao momento foram registadas cinco vítimas mortais e há pessoas internadas fora de Lisboa, mas que tinham estado em Vila Franca de Xira, o concelho onde começou o surto que está a afectar sobretudo as freguesias de Forte da Casa, Vialonga e Póvoa de Santa Iria. Lindmeier sublinhou precisamente que o surto está concentrado em Vila Franca de Xira e que as autoridades de saúde já fizeram análises à água distribuída naquela região, garantindo que é segura.
A reacção da OMS surge na mesma manhã em que a Direcção-Geral da Saúde confirmou ao PÚBLICO que as primeiras análises feitas no complexo fabril de Alverca identificaram a presença da bactéria nas torres de refrigeração da Solvay Portugal. Porém, a subdirectora-geral de Saúde admitiu que este não é o único local do concelho de Vila Franca de Xira onde foram detectados vestígios da bactéria que provoca a doença do legionário.
Graça Freitas reforçou que ainda é cedo para perceber se o foco do surto terá tido origem naquela empresa. Isto porque há várias estirpes deste bacilo e a que está a causar a infecção é a Legionella pneumophila. Falta também perceber se as bactérias detectadas na análise estavam em condições de transmitir a infecção ou se representavam apenas uma pequena colónia.
A doença do legionário não é rara em Portugal (morreram 86 pessoas nos últimos nove anos e foram registadas mais de 1000 infecções), mas desta vez assumiu uma dimensão pouco habitual. Esta bactéria já apareceu em vários locais do mundo, tendo a primeira manifestação sido detectada em 1976 nos Estados Unidos na sequência de um congresso de legionários que acabou por dar o nome à doença. Mas mesmo nessa altura houve apenas 221 casos e 34 mortos.
Aliás, a dimensão do surto português apenas é ultrapassada pelo caso norte-americano e, mais recentemente, em 1999, por um surto na Holanda que infectou 181 pessoas e matou 21 (ainda que a imprensa refira mais de 30 mortos). Meses depois na Bélgica um surto matou cinco pessoas entre 93 doentes e em 2013, na Alemanha, foram notificados 160 casos e duas mortes na sequência de um surto com origem numa cervejeira.