Eurogrupo começa a preparar terreno para o “pós-troika” na Grécia
É a primeira reunião dos ministros das Finanças depois da apresentação dos orçamentos nacionais para 2015. Grécia domina atenções, com fim do resgate na mira.
Pierre Moscovici, comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, já veio refrear os ânimos, avisando só em Dezembro haverá decisões cruciais, numa nova reunião de ministros das Finanças. Mas as negociações prosseguem e o apoio de Bruxelas ao fim do resgate foi reforçado esta semana, com a “Comissão Juncker” a destacar o envolvimento do Governo grego em torno do plano de assistência.
Uma solução que, segundo o Financial Times, responsáveis europeus colocam em cima da mesa para funcionar no fim do resgate como rede de segurança para a Grécia, seria a possibilidade de converter fundos já direccionados para a Grécia mas que não foram utilizados. Em causa estão 11 mil milhões de euros destinados à recapitalização dos bancos gregos em 2013, através da linha da troika, via fundo grego de estabilidade financeira. O cenário encontra a resistência da Alemanha e, segundo o jornal económico Les Echos, é pouco provável que venha a concretizar-se com uma conversão directa de fundos.
Negociar uma linha de crédito cautelar – solução que a Irlanda e Portugal dispensaram quando terminaram os empréstimos da troika – foi admitida pelo primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, como solução para proteger o país de “eventuais perturbações” de financiamento, quando há três semanas os mercados temeram uma saída antecipada do resgate.
Quando esta semana actualizou as previsões económicas da União Europeia, Bruxelas veio apontar para um ponto de viragem na Grécia, depois de seis anos de recessão. Para este ano, o executivo comunitário prevê um crescimento de 0,6%, seguindo-se uma progressão de 2,9%. A economia grega, acredita a Comissão Europeia, vai melhorar nos indicadores do consumo privado e das exportações, mas o desemprego estará ainda em 25% da população activa no próximo ano.
Dúvidas sobre défice português
Com a economia europeia a abrandar e a inflação em níveis historicamente baixos, a situação económica na zona euro poderá ser discutida pelos ministros das Finanças. Isto no mesmo dia em que são conhecidas as decisões de política monetária do BCE, cujo conselho de Governadores se reúne em Frankfurt horas antes.
Esta é a primeira reunião do Eurogrupo com Jean-Claude Juncker à frente da Comissão Europeia. E a primeira em que os ministros das Finanças dos 18 países do euro estão frente-a-frente depois de cada um ter apresentado o respectivo projecto de orçamento para 2015.
No caso português, a proposta enviada ao Parlamento, as previsões de receita fiscal, défice e as projecções macroeconómicas ali inscritas mereceram reparos tanto por parte da Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Com as duas instituições a preverem uma derrapagem no défice do próximo ano, estimando que o saldo orçamental não fique mesmo acima de 3%, Maria Luís Albuquerque deverá reafirmar o que hoje o Ministério das Finanças veio dizer: o “compromisso firme” do Governo continuar a ser que Portugal saia do Procedimento de Défice Excessivo no próximo ano. Enquanto o executivo português estima um défice de 2,7% para 2015, Bruxelas aponta para 3,3% e ainda mais pessimista está o FMI, a prever a um défice de 3,4%.
A reunião do Eurogrupo servirá também para fazer o ponto de situação sobre a união bancária europeia, assinalando a entrada em funcionamento, esta semana, do Mecanismo Único de Supervisão, liderado por Daniele Nouy.