Câmara do Porto não vai manter feira de artesanato do Natal na Praça D. João I
Artesãos contestam decisão e estão divididos quanto à possível realização do evento noutra praça, com menos participantes.
Apesar de ter enviado cartas em meados de Outubro, quando soube, pela imprensa, que uma pista de gelo vai ocupar a praça no Natal, a direcção da AARN ainda não conseguiu uma audiência com o presidente da câmara ou com o vereador da Cultura. Estes estiveram na segunda-feira à noite na Assembleia Municipal, mas saíram antes do período destinado ao público e não ouviram os artesãos colocar o problema aos deputados. No entanto, a questão voltou a ser levantada já esta terça-feira de manhã, na reunião de câmara, pelo vereador comunista Pedro Carvalho, e aí Rui Moreira deixou claro que não há volta a dar.
“Se está a pensar mudar o local da feira, pedia que reconsiderasse. É uma feira que dinamiza a cidade, já faz parte da marca do Porto”, defendeu Pedro Carvalho. Rui Moreira não se sensibilizou com os argumentos do comunista, garantindo que a feira não está em risco, apenas mudará de lugar. “A nossa intenção é organizarmos a feira de artesanato, mas pretendemos avaliar a exploração de novos territórios. Este é um evento que traz pessoas ao Porto e precisamos de tentar espalhar estes eventos-âncora pela cidade. Vamos dar todo o apoio, no sentido de fazer a promoção para que os públicos se espalhem, não podemos ter uma visão imobilista”, disse.
Esta posição foi corroborada pelo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, que afiançou: “queremos sair sistematicamente do eixo Aliados/Serralves. Toda a cidade é um palco e é para esta ideia que queremos trabalhar. Não queremos ficar confinados aos locais mais previsíveis.” Perante a pergunta do vereador do PSD Ricardo Almeida, sobre qual será a nova localização da feira, Rui Moreira garantiu que o município está a “a tratar” da questão. Ao PÚBLICO Hélder Coutinho, da AARN, adiantou que a Porto Lazer colocou como hipótese as praças dos Poveiros e da Batalha, mas, tanto numa como na outra, garante que ser-lhes-á impossível instalar a tenda que habitualmente usam, uma espécie de iglo transparente onde cabem quarenta artesãos.
A feira costuma ter 60 a 80 profissionais certificados, que se desdobram em dois períodos. A vontade de participar é grande, tendo em conta a localização e o período do ano. Hélder Coutinho explica que há artesãos que ganham numas semanas no Porto o suficiente para aguentar os primeiros meses do ano seguinte, antes do reinício do circuito das feiras que se organizam por todo o país, na Primavera e Verão. “Diminuir a capacidade deste evento retira-lhe dimensão, importância. E prejudica muita gente”, argumenta, admitindo que os associados estão divididos sobre qual a atitude a tomar: realizar a Artesanaus, nos novos moldes, ou não a fazer, em protesto pela sua “desvalorização”.
A associação lembra que tem tido uma colaboração estreita com a cidade, e que ainda no ano passado prolongou o período de instalação da tenda na praça entre o Natal e o Ano Novo, custeando boa parte das despesas, como a do aluguer da mesma, para que ali se realizasse uma festa de fim-de-ano, organizada pela Porto Lazer e produzida por outra empresa. A estrutura chegou a ser danificada por pessoas que queriam entrar na festa, conta Hélder Coutinho, e “nem isso a empresa municipal pagou”. A associação esperava por isso outra atitude do município para com uma iniciativa que vêm realizando desde 1988.