Gabinete de crise da Ucrânia reúne-se para tomar decisão sobre o Leste separatista

Poroshenko tem duas questões sobre a mesa: o que fazer do acordo de Minsk e como recuperar o território rebelde.

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Petro Poroshenko: as eleições no Leste realizam-se "debaixo de armas" AFP

Numa intervenção na televisão pública, Poroshenko voltou a considerar que as eleições gerais que se realizaram no domingo passado nas zonas separatistas foram "uma farsa". Tiveram lugar "debaixo de armas" e não "expressam a vontade do povo", disse o Presidente ucraniano que decidiu convocar o gabinete de crise para o dia em que foi marcada a tomada de posse das "autoridades" do Leste.

Alexander Zakharchenko, de 38 anos, toma posse como "primeiro-ministro" da República Popular de Donetsk; Igor Plotnitski, de 50 anos, assume o cargo de "presidente" da República Popular de Lugansk.

Para Poroshenko, estas eleições e estas tomadas de posse marcam a ruptura, por parte dos separatistas, do acordo de Minsk (Bielorrússia). Neste, o Governo de Kiev reconhecia o "estatuto especial" do Leste, um primeiro passo para garantir à região um regime de autonomia que seria discutido no processo de paz - o acordo e um cessar-fogo (nunca integralmente cumprido) seriam os primeiros passos desse acordo de paz.

O Governo de Moscovo, liderado pelo Presidente Vladimir Putin, que foi um dos promotores do acordo de Minsk, fez saber que respeitará a "vontade do povo" do Leste da Ucrânia e apelou a um "diálogo" entre as autoridades de Kiev e as da região separatista. A posição do Kremlin levou a União Europeia e os Estados Unidos a imporem sanções comerciais e financeiras contra a Rússia, que retaliou com medidas semelhantes em relação a produtos europeus e dos EUA. Vladimir Putin, que ainda não comentou publicamente as eleições no Leste, poderá fazê-lo esta terça-feira, quando, na Praça Vermelha de Moscovo, participar numa cerimónia do Dia da Unidade Nacional.

O fim dessa cláusula sobre o "estatuto especial" vai estar sobre a mesa do gabinete de crise, o que abre portas a uma nova intervenção militar. Poroshenko não falou nela. Foi o seu ministro dos Negócios Estrangeiros quem a sugeriu, numa entrevista publicada nesta terça-feira pelo jornal alemão Bild.

"Algumas regiões do Leste da Ucrânia estão, de facto, sob controlo de terroristas pró-Rússia e de tropas russas. Mas são regiões ucranianas e vamos recuperá-las", disse ao jornal Pavlo Klimkine. O chefe da diplomacia ucraniana não quis avançar se já está traçado um plano militar. A última ofensiva militar governamental, em Agosto, não foi bem sucedida e, nessa altura, segundo a NATO, assistiu-se a uma forte movimentação de tropas russas junto à fronteira ucraniana.

Pavlo Klimkine foi questionado sobre o acordo de Minsk. "Não sei se podemos falar de um fracasso total do processo de paz, mas o reconhecimento das eleições [separatistas] por parte dos russos compromete seriamente o acordo de Minsk", disse.

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