Bombeiros de quartéis urbanos ganham fatos de luxo para combater fogos florestais

Campanha de instituição bancária ajuda a suprir atrasos na entrega de equipamentos do Estado, mas sortear fardas não é pacífico

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Durante a manhã, os bombeiros tinham conseguido dominar o fogo, mas este reacendeu-se Dato Daraselia

Uma campanha do banco Big lançada depois de terem morrido  nas florestas nove bombeiros no Verão de 2013 angariou 140 mil euros para 300 equipamentos de protecção individual, agora sorteados por 60 corporações por todo o país. A cada uma delas couberam cinco fatos de luxo com todas as novas certificações exigidas por lei: capacete, casaco e calças em viscose com fibra acrílica, botas e outros acessórios. Tudo desenvolvido por uma empresa portuguesa em conjunto com os bombeiros de Carregal do Sal, que no ano passado perderam um homem e uma mulher no Caramulo. Se um bombeiro desmaiar em pleno incêndio, por exemplo, uma pega inserida no fato e que lhe passa por baixo dos braços permite arrastá-lo com maior facilidade para longe do local de perigo. Cada equipamento ficou muito mais caro do que aqueles que deviam ter sido distribuídos pelo Estado este Verão, e que em muitos casos tardam em chegar. Segundo o fabricante, a Onwork, os equipamentos pagos  pelo banco só começam a carbonizar aos 400 graus e aguentam 200 graus durante meia hora seguida, além de terem especial resistência a rasgões. Para incêndios urbanos é que não servem, diz o principal responsável da empresa, João Sousa.

Então porquê dotar bombeiros como os de Odivelas, uma das corporações sorteadas, com estes fatos, em vez de os destinar apenas a quem trabalha em áreas florestais? A opção foi da Liga de Bombeiros Portugueses, à qual o banco entregou a definição dos critérios de selecção de quem podia candidatar-se aos equipamentos de luxo. “No Caramulo também morreu um bombeiro do Estoril”, recorda o presidente da associação, Jaime Marta Soares, para quem este tipo de objecção não faz sentido, uma vez que todos os Verões há bombeiros a deslocarem-se dos centros urbanos para combaterem fogos nas matas de todo o país e que, por outro lado, a roupa de combate a fogos florestais sofre mais desgaste do que a dos incêndios urbanos. A Liga de Bombeiros Portugueses decidiu ainda não excluir as corporações mais abastadas, o que lhe valeu algumas críticas de bombeiros que assistiam ao sorteio.

“Não tem sentido dar estes fatos a corporações sediadas longe da floresta”, observa o presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, Fernando Curto, para quem ou se optava por equipamentos diferenciados, consoante a localização dos quartéis, ou se dava primazia a quem presta serviço todo o ano nas regiões mais susceptíveis a fogos florestais. O mesmo responsável não vê sequer com bons olhos a modalidade de sorteio: “É uma estupidez sortear algo de que todos precisam. Teria sido preferível ser a Autoridade Nacional de Protecção Civil a identificar as corporações mais carenciadas e a entregar-lhes os equipamentos”. O facto de os bombeiros profissionais terem ficado arredados desta campanha também não agrada a Fernando Curto: “Qualquer dia os voluntários estão cheios de equipamentos e os profissionais sem equipamentos nenhuns”.

Tal como as restantes corporações do distrito de Lisboa, Odivelas também ainda não recebeu as novas fardas do Estado para substituir as antigas, em algodão, que muitos profissionais designam jocosamente por fatos de jardinagem. Por isso, os cinco fatos novos que ganhou agora sabem a pouco ao seu comandante, Carlos Diniz: “Temos 120 elementos, isto não resolve o problema”.

 

 

 

  

 

 

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