Dez dias para formar “o melhor governo que a Ucrânia já teve”
Já começaram as conversações para formar o novo Executivo, que tem a tarefa de reformar o país e colocá-lo no rumo do Ocidente. Moscovo reconheceu resultado das eleições, mas pediu prioridade para os problemas do país.
O Presidente ucraniano é um homem apressado. Passavam poucas horas depois de as urnas terem sido fechadas e Poroshenko já anunciava o início das conversações para formar “o melhor governo que a Ucrânia já teve” e até deu o prazo de dez dias para fechar o acordo.
O Bloco Poroshenko e a Frente Popular de Arseni Iatseniuk disputam ao milímetro a liderança, ambos na casa dos 21%, com cerca de 70% dos votos contados até ao fim do dia. Com os 11% obtidos pelo Samopomich (Auto-ajuda) – o partido do presidente da câmara de Lviv, Andrei Sadovi – torna-se possível alcançar uma maioria suficiente para sustentar o novo executivo. Mas a ideia de Poroshenko é a de integrar ao máximo a nova maioria pró-ocidental do Parlamento, que poderá alcançar os dois terços.
Segundo Iuri Lutsenko, o líder do partido presidencial, está gizado um “acordo de coligação” que deverá funcionar como “um plano para unir as facções no novo Parlamento”. “O acordo vai incluir uma versão do programa presidencial Estratégia 2020”, explicou Lutsenko durante uma conferência de imprensa nesta segunda-feira.
Este programa prevê um conjunto de reformas políticas e económicas que permitam à Ucrânia estar em condições em 2020 de iniciar o processo de adesão à União Europeia. O responsável disse ainda que Poroshenko e o primeiro-ministro Arseni Iatseniuk já se encontraram e que as conversações vão incluir representantes do Samopomich, do Svoboda e do Pátria – os restantes partidos pró-Europa que devem conseguir assento parlamentar.
Para já é difícil conseguir extrapolar os resultados que vão sendo revelados para os lugares na Rada Suprema. Em virtude do sistema eleitoral misto em vigor na Ucrânia, metade dos 450 deputados é eleita através de círculos uninominais maioritários, enquanto a outra metade é eleita proporcionalmente por listas. O sistema maioritário poderá beneficiar alguns dos pequenos partidos, que de outra forma não teriam qualquer representação, como foi o caso do Sector Direito – uma organização paramilitar de inspiração nacionalista –, que conseguiu eleger o seu líder Dmitro Iarosh, procurado pelas autoridades russas por “incitamento ao terrorismo”. Iarosh foi eleito no seu círculo de origem, na região de Dnipropetrovsk.
O dia de domingo decorreu sem grandes problemas, face à situação instável que se vive no país, a braços com uma insurreição armada no Leste do país durante a qual já morreram mais de 3700 pessoas desde Abril. Os observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) descreveram “uma Comissão Central Eleitoral imparcial e eficiente, disputas competitivas que ofereceram aos eleitores uma escolha real e respeito geral pelas liberdades fundamentais”.
No entanto, notam os observadores, “houve um aumento assinalável da violência nos últimos dez dias da campanha, incluindo casos de intimidação, ameaças e a destruição direccionada de material de campanha”.
As eleições – cuja participação se ficou pelos 52% – foram saudadas por vários líderes mundiais, com destaque para o reconhecimento por Moscovo, num quadro de degradação crescente das relações entre os dois países. “Penso que vamos reconhecer esta eleição porque é muito importante para nós que a Ucrânia tenha finalmente autoridades que não lutem entre si, não puxem a Ucrânia para o Ocidente ou para o Leste, mas que lidem com os problemas reais que afectam o país”, disse à RIA Novosti o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov.