Doadores querem quebrar ciclo de destruição e reconstrução em Gaza

Qatar, EUA e UE prometem verbas numa conferência no Cairo, mas pedem novas negociações de paz. "Gaza continua um barril de pólvora", disse o secretário-geral da ONU.

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Mais de 20 mil casas foram destruídas na última guerra em Gaza Mohammed Salem/Reuters

O primeiro apelo veio do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, cujo país prometeu 212 milhões de dólares em ajuda imediata, numa quantia total de 400 milhões durante o próximo ano. “Um cessar-fogo não é a paz”, sublinhou Kerry. “Mesmo o cessar-fogo mais duradouro não pode substituir a paz. Mesmo o cessar-fogo mais duradouro não pode substituir a segurança para Israel e um Estado e a sua dignidade para os palestinianos.”

Kerry não disse, no entanto, se planeava alguma nova iniciativa. O secretário de Estado dos EUA começou o seu mandato com o recomeço das negociações de paz em 2013 baseado numa agenda ambiciosa, mas elas falharam após alguns meses. A única coisa que uma fonte do Departamento de Estado disse foi que Kerry iria tentar impedir os palestinianos de darem passos "deestabilizadores", referindo-se a uma ameaça dos palestinianos aderirem ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para pedir uma investigação a alegados crimes de guerra de Israel no conflito que durou 50 dias e terminou com mais de 2 mil mortos do lado palestiniano (segundo a ONU, 70% das vítimas eram civis), e 72 do lado de Israel (dos quais 66 eram soldados).

Os palestinianos pediam 4 mil milhões de dólares (cerca de 3,17 mil milhões de euros) e conseguiram 5,4 mil milhões, sendo a maior fatia do Qatar, que prometeu mil milhões de dólares (cerca de 790 milhões de euros). A a UE comprometeu-se com 450 milhões de euros. 

A escala de destruição desta guerra foi muito maior do que a das anteriores. Mais de 20 mil casas foram destruídas e um total de 100 mil sofreram danos, assim como mais de mil edifícios industriais e ainda 4200 lojas ou outros estabelecimentos comerciais. Infra-estruturas chave como a única central eléctrica de Gaza ficaram muito danificadas (esta central já tinha sido atingida nas guerras anteriores pelas forças israelitas) e houve ainda danos em mais de 20 poços de água, enquanto mais de 50 quilómetros da rede de águas e mais de 17 quilómetros da rede de esgotos foram destruídos. Há mais de 100 mil pessoas deslocadas, entre as quais 40 mil em escolas da ONU.

As crianças sofreram em especial com esta guerra – 581 morreram, segundo dados dos palestinianos, enquanto mais de 3500 ficaram feridas com gravidade e enfrentam agora  uma vida com deficiências (muitas sofreram amputações). Mais de metade da população de Gaza (cerca de 1,5 milhões de habitantes) tem menos de 18 anos.

Ban vai a Gaza
“Gaza continua um barril de pólvora”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciando que iria estar na terça-feira no território para “ouvir directamente” os habitantes. As pessoas que vivem na Faixa de Gaza “têm desesperadamente necessidade de ver resultados na sua vida diária”, continuou o secretário-geral da ONU. “Temos de compreender o seu nível de frustração.”

“Em 2009, a comunidade internacional já se reuniu” no Egipto para o mesmo fim, após a guerra de 2008-09, lembrou Ban. “Prometemos o nosso apoio e hoje estamos aqui de novo.”

Mas ninguém parecia muito entusiasmado com negociações. “É preciso ver em que quadro e sobre que pontos se debruçariam essas negociações”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Avigdor Lieberman. “Se não passarem das exigências palestinianas, então é tempo perdido.”
 

   


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