Programa para atrair jovens de regresso ao ensino superior muito aquém do esperado pelo Governo

Menos de 500 pessoas candidataram-se às bolsas Retomar com as quais se pretendia recuperar 3000 alunos que deixaram os estudos. Universidades e politécnicos criticam calendário e falta divulgação.

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O Retomar foi a resposta do Governo para o problema do abandono do ensino superior Nelson Garrido

As candidaturas a estas bolsas terminaram na sexta-feira e, apesar de ter havido 2570 alunos registados da plataforma da Direcção-Geral de Ensino Superior onde eram apresentados os processos, apenas 480 submeteram a sua candidatura. O Retomar foi lançado numa iniciativa conjunta do Ministério da Educação e Ciência e do Ministério do Emprego e Segurança Social, com um orçamento de 4,5 milhões de euros. As contas do Governo apontavam para a possibilidade de financiar até três mil jovens que tenham estado inscritos no ensino superior e tenham desistido. Os estudantes que beneficiem deste programa do Estado recebem um apoio de 1200 euros anuais (ou 100 euros mensais), pagos numa prestação única, para apoiar o regresso aos estudos.

Desde o início do prazo, a 21 de Julho, que começou a desenhar-se o cenário de uma procura aquém do esperado pelo Governo. Nas primeiras duas semanas, só 51 alunos mostraram interesse neste apoio. Até ao final de Setembro, data em que terminava originalmente o período de candidatura, o ritmo de inscrições acelerou e, apenas no dia 30 de Setembro, 91 estudantes demonstraram a intenção de receber este apoio. A tutela alargou, entretanto, a datal limite até 10 de Outubro, mas, nos dias extra concedidos, apenas surgiram mais 79 interessados.

Motivos da fraca procura
O Retomar foi a resposta do Governo para o problema do abandono do ensino superior, para o qual as associações académicas têm vindo a alertar ao longo dos últimos anos e que atinge 12,2% dos estudantes do ensino público no final do primeiro ano de licenciatura. A fraca procura poderá estar relacionada com a proximidade entre o acesso ao ensino superior e a candidatura a escolas bolsas.

As colocações do concurso nacional de acesso ao ensino superior só ficaram terminadas no dia 9 de Setembro, o que dá aos estudantes nessa situação apenas um dia para concorrerem ao programa. “O aluno é primeiro colocado e depois vê se tem a bolsa”, aponta a reitora da Universidade de Évora, Ana Costa Freitas. “Nem toda a gente se dispõe a retomar os estudos, fazer a candidatura, cumprir os prazos, etc, para depois ver se terá ou não bolsa.”

O presidente do Instituto Politécnico de Bragança, Sobrinho Teixeira, acrescenta a esta explicação a “motivação” dos próprios alunos que deixaram o ensino superior. Alguns deles conseguiram, entretanto, um emprego e outros emigraram “e não sentem agora o apelo para voltar”, diz. Além disso, uma boa parte do abandono fica a dever-se ao insucesso escolar e esse é um tema “que deve ser trabalhado de outra forma”.

Programas como este “devem envolver de forma mais próxima as instituições”, defende o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, António Fontainhas Fernandes, o que pode passar pela definição da calendarização dos programas e a sua divulgação junto dos candidatos, por exemplo.“Caso as instituições de ensino superior soubessem quais os antigos estudantes que reúnem condições para concorrer a este programa, poderiam entrar em contacto directamente, explicando-lhes e envolvendo-os”, sustenta.

Bolsas para o interior mais concorridas
Ao contrário do Retomar, o outro programa com o qual o Governo pretende captar novos públicos para o ensino superior teve melhores resultados. O +Superior – bolsas destinadas a estudantes que frequentem universidades ou politécnicos no interior do país – teve 1500 candidatos, um número superior às 1000 bolsas disponíveis em cada ano. Foram os estudantes da região do Tâmega (232 candidatos) quem mais procurou este apoio, seguidos dos do Grande Porto (173), Vale do Ave (171) e Grande Lisboa (155).

Ainda assim, o presidente do Politécnico de Bragança defende que o programa “deve sofrer alterações que o tornem mais eficaz” e alerta para alguns problemas que podem vir a verificar-se. Como o +Superior tem por base as notas do ensino secundário para decidir quais os alunos que vão receber este apoio, os estudantes que entraram com médias mais altas vão sair beneficiados. “Corre-se o risco de direcionar todas as bolsas para uma só escola ou um só curso, sobretudo na área de saúde”, defende Sobrinho Teixeira.

O +Superior “é a primeira acção real para promover a sustentabilidade do interior do país”, reconhece a reitora da Universidade de Évora, apesar de considerar que o programa “começou tarde” e “foi pouco divulgado”. Por isso, apenas serviu este ano para que quem foi colocado nas instituições do interior país pudesse pedir bolsa: “Não promoveu realmente uma procura, porque foi divulgado depois das colocações”. Com Maria João Lopes
 

   

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