Tribunais já conseguem aceder a um terço dos processos no sistema Citius
Plataforma chegou a 12 comarcas, boa parte de pequena dimensão, mas onde estão 919 mil processos. Magistrados, funcionários e advogados dão conta das falhas que ainda condicionam o sistema informático.
“Doze das 23 comarcas já estão online”, assegurou a tutela. Entre elas estão as dos Açores, Bragança, Guarda, Viseu, Madeira, Évora, Vila Real, Viana do Castelo, Castelo Branco, Portalegre, Beja e Lisboa Oeste. E durante esta madrugada, também os processos de Porto Este e Setúbal serão transferidos.
Porém, ao nível do número de processos a correspondência destas comarcas – boa parte de pequena dimensão – é de outra grandeza. Representam quase um terço do número do total de processos existentes. Foram migrados mais de 919 mil num total de cerca de três milhões de processos, indicou o Ministério da Justiça.
No terreno, no entanto, advogados, funcionários e magistrados dão conta de várias falhas. Os problemas são relativos a processos que continuam ainda inacessíveis por os técnicos do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça não terem conseguido a sua transferência electrónica para o novo Citius, advogados que não conseguem aceder aos seus processos e bloqueios durante o processamento de actos na plataforma.
“Nesta comarca cerca de 80% dos processos já estão acessíveis e tramitados. É uma boa notícia, mas os restantes não estão acessíveis por falhas técnicas várias cuja razão ainda não foi determinada”, disse Tomé de Carvalho, juiz-presidente da comarca de Portalegre, onde a intervenção começou na sexta-feira.
Também o presidente da Associação Sindical de Juízes Portugueses, Mouraz Lopes, deu conta de “existirem algumas falhas”. O juiz disse, contudo, que “migração em Lisboa [Oeste], que é um teste [de transferência electrónica] grande, correu bem” e defendeu que “é importante que tudo comece a correr bem” até por que “as falhas já não são uma surpresa”.
Para o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, Rui Cardoso, “apesar de as falhas serem”, segundo a informação de que dispõe, “equivalentes a cerca de 5% dos processos”, o regresso do Citius em 12 comarcas “já é muito bom”.
Os Açores, a primeira comarca onde a plataforma informática voltou a funcionar, a 30 de Setembro, continuam também com diversos problemas. No Tribunal de Família e Menores daquela comarca, onde existem quatro mil processos, 100 estão inacessíveis, garantiu a vice-presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ), Maria Justina, também coordenadora da estrutura no arquipélago. “Ainda não houve grande evolução aqui desde o primeiro dia em que voltou a funcionar. Há processos que ainda estão por transferir e apensos que continuam desligados dos processos a que pertencem”, disse a funcionária judicial.
Também os advogados nos Açores dão conta de dificuldades. “Os advogados continuam aqui sem conseguir ver a maior parte dos processos”, referiu o presidente da delegação nos Açores da Ordem dos Advogados. A bastonária da Ordem, Elina Fraga, apontou que “em dez advogados dos Açores que a Ordem contactou, oito não tinham acesso ainda aos processos no Citius em que são intervenientes”. Para a bastonária, “além da grande instabilidade e da falta de confiança no sistema judicial que esta paralisação está a provocar, é muito grave o elevado número de advogados que estão sem conseguir trabalhar e, por isso, sem receber”. O Ministério da Justiça garantiu, contudo, "ter falado com advogados do arquipélago e não ter qualquer informação de dificuldades reportada aos helpdesk do Citius".
São advogados “que são confrontados pelos seus clientes todos os dias". "A ministra diz que está tudo a funcionar, mas na prática o Citius não funciona. A ministra há muito tempo que falta à verdade e branqueia a realidade para que tudo pareça estar bem. Isso é um insulto à inteligência de todos. Não tem condições para continuar no cargo”, defendeu.
Já os funcionários judiciais não querem ir tão longe. “A ministra foi enganada por quem lhe disse que tudo estaria a funcionar e agora parece que gosta de ser enganada”, disse o presidente do SFJ, Fernando Jorge, que remata com uma questão para explicar não exigir o mesmo que os advogados: "Restando tão pouco tempo para as eleições quem é que quer ir para o lugar da ministra? É preciso é resolver isto”.