Comissário europeu para o digital culpa celebridades pelo roubo de fotos nuas
“Se alguém é suficientemente estúpido como uma celebridade que tira uma foto nua e põe online, certamente não pode esperar que o protejamos”, declarou o alemão Oettinger.
Quando questionado sobre a protecção dos conteúdos digitais, Oettinger disse: “Podemos mitigar ou até eliminar alguns riscos, mas como qualquer tecnologia, não podemos excluir todos os riscos.” E acrescentou, depois de uma hesitação, e dizendo que estava a dar um exemplo “meio sério”. “O facto de ter havido um número cada vez maior de lamentos públicos de celebridades que tiraram selfies – simplesmente não consigo acreditar”, comentou. “Se alguém é suficientemente estúpido como uma celebridade que tira uma foto nua e põe online, certamente não pode esperar que o protejamos”, continuou. “Quer dizer, a estupidez é algo de que não se pode – ou só se pode parcialmente – proteger as pessoas.”
Uma eurodeputada do Partido Pirata da Alemanha, Julia Reda, reagiu dizendo que o potencial comissário “pôs a culpa nas vítimas e não nos criminosos”. “Talvez não seja da sua suposta estupidez que as pessoas têm de ser salvas”, comentou a eurodeputada no seu blog, “mas de um comissário de outro tempo e época.”
A revista alemã Der Spiegel comentou que Oettinger “não tem a mínima ideia sobre as questões actuais e as questões no centro da sua nova pasta”. O comentário do potencial novo comissário para o digital parte do princípio de que as celebridades teriam posto fotos online, mas no caso mais recente as imagens terão sido roubadas por hackers dos computadores das vítimas (sob suspeita estavam ainda as clouds em que ficam backups automáticos das imagens feitas com telemóveis).
O jornal Süddeutsche Zeitung perguntava como é que um político que teve de ter aulas de inglês quando foi para Bruxelas conseguiria discutir questões técnicas como “clouds e endereços de IP”.
Países em dívida com bandeira a meia-haste
A emissora britânica BBC questionou uma porta-voz de Oettinger sobre se ele pretenderia pedir desculpas sobre os seus comentários. A porta-voz disse que não.
Na audiência, Oettinger foi ainda questionado pelo líder do partido satírico alemão Die Partei Martin Sonneborn sobre o direito ao esquecimento na internet – Sonneborn perguntou-lhe se esse incluiria apagar o facto de ter tido que devolver a carta de condução depois de ter sido apanhado a conduzir com 1,4 gramas de álcool por litro de sangue. Oettinger respondeu que o facto não poderia ser "apagado" porque saiu na imprensa.
Apesar da polémica, Oettinger teve luz verde dos principais grupos na comissão que o ouviu, e nem foi levado a votos como aconteceu com Cecilia Malmström, a única candidata até agora a ser submetida a votação por uma discrepância nas suas declarações escritas, depois editadas por um membro do staff do presidente da comissão Jean-Claude Juncker, sobre tribunais especiais no âmbito do tratado de comércio transatlântico. O voto é uma medida reservada aos candidatos sobre quem recaem mais dúvidas (embora a comissão seja aprovada ou rejeitada no seu todo, candidatos mais polémicos podem ser sujeitos a esta votação, e o PE já conseguiu que candidatos fossem afastados ou trocassem de pastas). Malmström passou o voto.
Oettinger foi comissário da Energia na equipa de Durão Barroso desde 2010. No ano seguinte, um grupo de eurodeputados pediu a sua demissão por ele ter sugerido que os países endividados tivessem de pôr a bandeira a meia-haste nas instituições europeias: “Seria uma medida simbólica, mas seria um bom dissuasor” para o desrespeito do cumprimento do défice, disse na altura, para depois negar que tivesse proposto esta medida.