O autor dos bustos que chocaram deputados é um admirador de Bordalo que não foge às polémicas
Joaquim Esteves, barrista e caricaturista de Barcelos, acusa os parlamentares de défice democrático.
“Não me espanta, vindo de pessoas com défice democrático. Eu gostava de saber a opinião desses deputados sobre o derrube de estátuas de Lenine na Ucrânia e noutros países de Leste”, atira Joaquim Esteves, considerando que “renegar a família, onde muitas vezes há gente de quem não gostamos, é renegar-se a si próprio”.
O artista barrista de Barcelos, reconhecido pelas suas caricaturas ousadas, confessa que o trabalho em causa até foge ao seu estilo, pois, seguindo a encomenda, tentou ser o mais fiel que conseguiu às fotografias dos estadistas. “É certo que hoje faria melhor”, assume este homem de 56 anos que é oleiro desde criança e que começou a fazer caricaturas em barro em 2001. Muitas vezes misturando argila com polémica.
Corria o ano de 2002 quando o então desconhecido artista pôs meia Braga, e principalmente a Igreja, à bulha com uma obra sua, que o município bracarense deixou que fosse exposta no posto de turismo local. A tríade Padres, Prostitutas e Paneleiros, mostrando um clérigo apalpando as nádegas das duas outras personagens, causou polémica e catapultou Joaquim Esteves, filho de oleiros e artista da nova geração, num concelho onde o barro, desde Rosa Ramalho, faz parte da identidade cultural local.
Desde então, este admirador de Bordalo Pinheiro – que se inspirou nele para criar um já conhecido Zé Galo, misto de Zé Povinho com galo de Barcelos – nunca parou de caricaturar, com barro e espátula, figuras maiores da política e não só: de queixo afiado, Figo passou-lhe pelas mãos; Cunhal, com as suas sobrancelhas farfalhudas, também; e até Sócrates teve direito a uma Socratina, bruxa com vassoura movida a gás fecal, que em tempo de aumentos do preço dos combustíveis, o então primeiro-ministro recebeu em casa. E que até agradeceu.
As peças de Joaquim Esteves que retratam os presidentes da República, incluindo os da ditadura militar e do Estado Novo, foram contestadas sobretudo pelo PCP e BE que exigem a retirada da exposição da Assembleia da República. A questão vai mesmo levar a uma reunião de urgência da Comissão de Educação, que deu anuência à realização da iniciativa.
Comunistas e bloquistas contestam sobretudo a inclusão dos presidentes da República dos tempos da ditadura, considerando que ao fazê-lo a exposição está a "branquear o fascismo". As bancadas do PSD e do CDS contestam esta leitura, mas também há deputados apenas desagradados com aquilo que consideram fealdade e falta de semelhança das peças com as figuras que pretendem retratar.
A exposição tem inauguração marcada para esta quinta-feira, numa cerimónia que contará com a presença do autor.