Costa com “predisposição e vontade” para “envolver” apoiantes de Seguro

Além das declarações públicas, o vencedor das primárias e futuro líder do PS tem recebido "manifestações privadas" da disponibilidade para enterrar o machado do campo derrotado no domingo. Já há "pontes" e "há espaço" para que não haja um confronto no próximo Congresso.

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António Costa vai ao Porto num momento em que as estruturas locias estão em turbulência Nuno Ferreira Santos

Ao que o PÚBLICO apurou, junto das hostes do vencedor, “há espaço” para aproveitar as “pontes” que existem ainda entre as duas facções que disputaram as primárias de domingo. “O António Costa tem interesse em unir. Para que isso aconteça tem de envolver algumas pessoas que apoiaram Seguro”, reconheceu um dirigente que apoiou a candidatura do presidente da Câmara de Lisboa. “Existe predisposição e vontade”, rematou o socialista já depois de frisar que “passou ainda muito pouco tempo” desde a disputa e, como tal, não existe ainda nada de muito organizado.

Não é de excluir, portanto, que no final do congresso se chegue a uma lista única para os órgãos do partido, com o futuro líder do PS a incluir “pessoas com representatividade” na anterior liderança.

E a verdade é que têm surgido sinais da disponibilidade dos derrotados em enterrar o machado. O membro da direcção demissionária, Álvaro Beleza, afirmou ontem isso mesmo. “Que fique muito claro de uma vez por todas, o meu candidato a primeiro-ministro é o António Costa. Não contem comigo para dividir o PS. A liderança do partido ficou resolvida domingo e, como já disse, tudo farei para unir”, disse à agência Lusa. E acrescentou que o interesse principal dos socialistas era “focar energias na construção de uma alternativa ao Governo e ganhar as próximas eleições com maioria”.

Mas João Proença, também membro do secretariado de Seguro, deu a entender que cabia a também a Costa dar sinais nesse sentido: “Neste momento, o que interessa é repor a unidade no PS. Compete a António Costa construir essa unidade sem falsos unanimismos.”

O PÚBLICO noticiou ontem a existência de pressões, junto do médico Álvaro Beleza, por dirigentes, deputados e membros da actual direcção para que este encabeçasse uma candidatura às directas do PS. Além destas declarações, desde a vitória nas primárias que Costa tem recebido “manifestações privadas” de disponibilidade vindas do outro campo socialista.

Mas do lado vencedor também é assinalado que a “vitória esmagadora” deu “legitimidade” para Costa argumentar que a sua candidatura “conseguiu unir” o PS — o que, traduzido, quer dizer que Costa considera ter o direito de decidir com quais e quantos dos seguristas conta.

Futuro líder nomeia ex-secretário-geral
Mas enquanto estas “conversas” decorriam, António Costa resolveu a questão mais premente que tinha entre mãos. Ontem anunciou que o seu líder parlamentar seria Ferro Rodrigues, vice-presidente da Assembleia da República, ex-secretário-geral do PS e ex-ministro dos governos de António Guterres, sucedendo assim a Alberto Martins, que se demitiu após a vitória de António Costa nas eleições primárias do PS.

À entrada da Assembleia Municipal de Lisboa, o também presidente da Câmara de Lisboa elogiou Ferro Rodrigues, de quem disse ter um “currículo político único”. Com este nome de peso, António Costa acredita que a nova liderança “constituirá um grande reforço da capacidade de oposição do PS”.

Passará então Ferro Rodrigues a ser o interlocutor do primeiro-ministro nos debates quinzenais? Isso será matéria da “orientação do grupo parlamentar”, limitou-se a dizer António Costa.

O nome não gerou controvérsia no grupo. O líder parlamentar demissionário, Alberto Martins, classificou o seu sucessor como uma “excelente escolha”, avisando que “é sempre difícil falar de um amigo” como Ferro Rodrigues. “É um amigo de longa data. O passado e a biografia de Ferro Rodrigues falam por si. Acho uma excelente escolha”, declarou Alberto Martins. Alberto Martins e Eduardo Ferro Rodrigues estiveram envolvidos nas décadas de 1960 e de 1970 nas lutas políticas contra o regime do Estado Novo, apoiaram no PS as lideranças de Victor Constâncio e Jorge Sampaio e foram ministros no segundo Governo liderado por António Guterres, entre 1999 e 2001.

Questionado se Ferro Rodrigues dispõe de condições para unir os deputados da bancada socialista, Alberto Martins recusou-se a comentar. “Essas são perguntas que farão certamente ao líder parlamentar indigitado. Após a sua eleição, estou certo que [Ferro Rodrigues] gostará de responder a essas questões”, disse. “O que tenho a dizer é congratular-me, considerando que é uma excelente escolha”, repetiu o líder parlamentar demissionário do PS. Também o deputado socialista João Soares, que esteve ao lado de António José Seguro na disputa das primárias, elogiou a escolha de Ferro Rodrigues para a presidência do grupo parlamentar do PS.

“Uma excelente escolha”, concordou o deputado Sérgio Sousa Pinto, por revelar “que as mudanças no partido agora terão tradução no grupo parlamentar do PS”. Mas sobre a possibilidade de a liderança parlamentar ter representantes das principais correntes internas do PS, o ex-líder da JS lembrou que “nada seria pior que uma solução de empastelamento”. Um sinal de que muitos socialistas não esqueceram ainda a forma como Seguro e alguns dos seus apoiantes fizeram a sua campanha das primárias. Para estes, está prestes a começar o exílio. com Inês Boaventura, Sofia Rodrigues e Maria Lopes

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