Grupo radical belga julgado por recrutar jihadistas para a Síria
É o primeiro processo do género na Bélgica, país que terá 400 cidadãos a combater nas fileiras dos radicais.
O julgamento, num tribunal de Antuérpia (Norte) colocado sob fortes medidas de segurança, é o primeiro directamente relacionado com o envio de combatentes para a Síria, e arranca uma semana depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter aprovado uma resolução que obriga os Estados a adoptar medidas para estancar o fluxo de jovens recrutas que nos últimos anos se juntaram aos jihadistas.
Os serviços secretos calculam que haja entre 12 a 15 mil estrangeiros a combater nas fileiras dos radicais na Síria e no Iraque, dos quais três mil são detentores de passaportes europeus, e Bruxelas admite que 400 têm nacionalidade belga. Sinal dessa mobilização, apenas oito dos 46 arguidos estiveram presentes no início do julgamento em Antuérpia e a procuradoria diz ter informações de que os restantes estão a combater, ou terão já morrido, na guerra da Síria.
Entre os presentes em tribunal está Fouad Belkacem, o alegado líder do grupo Sharia4Belgium, criado em 2010 naquela cidade do Norte da Bélgica, com o propósito de defender a instauração da lei islâmica no país. Rapidamente se tornou conhecido pelas declarações provocatórias e por manifestações que terminaram em confrontos com a polícia. Em 2012, o grupo dissolveu-se mas terá continuado a trabalhar na clandestinidade, recrutando, segundo a acusação, pelo menos 10% de todos os belgas que foram combater para a Síria.
Na abertura do julgamento, a procuradora Ann Fransen reconstituiu o historial do grupo, a que acusou de “incitação à violência”, de produzir e divulgar vídeos de conteúdo salafista, e de fazer declarações atentatórias contra a democracia. "O objectivo do Sharia4Belgium é o de derrubar o Estado belga e substituí-lo por um Estado islâmico. A participação na luta armada [na Síria] constitui um meio para alcançar esse fim”, afirmou a magistrada na segunda sessão do julgamento, em que pediu uma pena de 15 anos de prisão para Belkacem.
Antes do início do julgamento, o líder radical publicou uma carta na imprensa em que afirma “nunca ter recrutado, incitado ou enviado” combatentes para a Síria.
No entanto, no banco dos réus senta-se um jovem, agora com 19 anos, que assegura que o dirigente radical exercia grande influência sobre aqueles que, como ele, foram lutar contra o regime de Bashar al-Assad. Jejoen Bontinck, um belga convertido ao islão, passou oito meses na Síria antes de ser "retirado" pelo pai, que agora acusa o grupo liderado por Belkacem de ter feito lavagem cerebral ao filho. O jovem acabou por ser preso na Síria pelos radicais, que o acusaram de ser espião, e alega ter estado detido juntamente com James Foley, o primeiro jornalista norte-americano que o Estado Islâmico decapitou.
A organização jihadista divulgou, entretanto, um terceiro vídeo de um outro jornalista britânico que mantém sequestrado e que tem usado para enviar mensagens ao ocidente. Nas novas imagens, John Cantlie, raptado há quase dois anos na Síria, lê uma mensagem em que é criticada a estratégia norte-americana de ataques aéreos contra o grupo radical.