Sem armas para fazer a economia crescer, ao Brasil resta esperar pela retoma mundial
Economia brasileira cresce menos que a maior parte dos seus vizinhos da América do Sul, mas a hipótese de o banco central baixar as taxas de juro está limitada pelo facto de a inflação estar muito acima do objectivo.
A partir de 2008, os responsáveis pela política económica brasileira, a viverem uma situação de auto-confiança e crédito internacional, responderam à convulsão criada pela falência do Lehman Brothers com descidas radicais das taxas de juro e novos planos de estímulo orçamental. O resultado foi que, em 2009, o Brasil foi um dos países que melhor resistiu à crise, registando em 2010 um crescimento de 7,5%, um dos mais fortes da América do Sul.
A partir desse momento, a receita das taxas de juro baixas e do forte investimento público parece ter-se esgotado, à medida que banco central e Governo encaravam um dilema.
O dilema brasileiro é simples de explicar. Por um lado a economia está a revelar dificuldades em retomar o crescimento. O país já registou dois trimestres consecutivos de contracção, o que o coloca em recessão técnica, e a taxa de crescimento prevista para o total deste ano está muito próxima de zero, de acordo com vários economistas. O normal seria o banco central baixar taxas de juro para, por um lado, estimular o crédito e reanimar o consumo privado e, por outro, desvalorizar a divisa e ajudar as exportações. Também seria de esperar que o Estado usasse a política orçamental para estimular o investimento e o consumo público.
Por outro lado, a inflação voltou a subir. Está neste momento em 6,5%, um valor bastante acima da meta de 4,5% definida pelo banco central, o que está a criar um clima de pouca confiança na capacidade das autoridades assegurarem a estabilidade de preços.
Neste cenário, e este é o dilema, descer as taxas de juro ou lançar um novo programa de despesa pública poderia constituir uma ameaça ainda maior para a evolução da inflação, havendo quem tema que o país entrasse numa espiral de subida dos preços, desvalorização cambial e desequilíbrio orçamental semelhante às vividas no passado e que já forçaram o país a pedir empréstimos ao FMI.
É por isso que nesta fase, a actual administração liderada por Dilma Roussef e, com toda a probabilidade, qualquer que seja o vencedor das eleições, tem poucos instrumentos na sua mão para fazer a economia brasileira voltar rapidamente a taxas de crescimento rápidas, que se aproximem mais daquilo que parceiros da América do Sul como o Chile, Colômbia ou Perú têm vindo a conseguir.
Do lado do Governo ainda surge um discurso optimista. Dilma e os responsáveis do seu Governo explicam que o que está a acontecer ao Brasil é uma compensação natural pelo desempenho mais forte registado no auge da crise financeira. “Quando o Brasil estava a crescer com força, os outros estavam a afundar-se. Agora os outros países estão a recuperar e o Brasil está a crescer menos”, explicou Márcio Holland, um dos responsáveis pela política económica do Governo.
Mas apesar desta explicação, parece cada vez mais evidente que, muito limitadas na possibilidade de oferecer estímulos monetários ou orçamentais, as autoridades parecem cingir-se à esperança que ocorra uma retoma do resto da economia mundial que ajude as exportações brasileiras.
No mesmo dia em que a previsão de crescimento económico do Governo para este ano foi revista de 1,8% para 0,9%, Dilma Roussef reconheceu numa entrevista à Rede Globo que o futuro próximo da economia brasileira depende dos Estados Unidos. “A gente tem de ver como que evolui a crise [...] Os Estados Unidos evoluindo bem, eu acho que o Brasil pode entrar numa outra fase, que precise de menos estímulos. Pode ficar entregue à dinâmica natural da economia e pode, perfeitamente, passar por uma retoma”, afirmou a presidente.
Os mais críticos da política económica de Dilma defendem que as causas desta dependência relativamente ao exterior está naquilo que não foi feito quando os tempos não eram de crise. O Brasil devia ter realizado as reformas que permitiriam um aumento da produtividade e que deixassem o país crescer sem ter de usar as armas de efeito imediato mas menos sustentáveis como os corte das taxas de juro ou da despesa pública. A burocracia e os atrasos na concretização de investimentos, o mau funcionamento dos serviços tributários e de Justiça ou a resposta dada pelo sistema de educação são algumas das áreas mais vezes destacadas como obstáculos ao crescimento do país. O problema é que realizar mudanças implica tempo e é muito mais viável quando a economia está a crescer e o Estado tem maior capacidade de investimento.
A aposta muito forte no sector petrolífero – que foi visto como a garantia de que o Brasil se iria tornar numa grande potência económica mundial - é também acusada de ser demasiada arriscada, tornando a economia brasileira dependente daquilo que sucede nos blocos de extracção do pré-sal e nos mercados internacionais de crude. Os investimentos em óleo e gás representavam 7,6% do total do investimento realizado no país em 2007, mas em 2014 serão já de 10,5%, podendo subir até aos 14,1% até 2017. Para já, os resultados desta aposta ainda não se fazem sentir.
É num ambiente de bastante desconfiança em relação à evolução da economia brasileira, que já tem vindo a afastar algum investimento estrangeiro, que quem vencer as eleições presidenciais vai ter de pegar no país. A opção por políticas monetárias e orçamentais agressivas parece estar fora dos planos dos três principais candidatos, precisamente porque ninguém quer ver outra vez a inflação a subir. O que resta ao Brasil, no imediato, é assim esperar pela ajuda da retoma económica mundial.