Justiça francesa suspende inquérito por corrupção a Sarkozy
Ex-Presidente continua a ser suspeito de corrupção e tráfico de influências, mas investigação fica "congelada" até ser apreciada legalidade de escutas.
A decisão foi tomada na terça-feira e noticiada nesta quarta-feira pela AFP. A suspensão das investigações pode prolongar-se durante meses, até que o tribunal de recurso se pronuncie sobre os pedidos de Sarkozy e do seu advogado, Thierry Herzog, igualmente indiciado. Ambos contestam a legalidade das escutas que levaram a que fossem constituídos arguidos, alegando que escutar um advogado e o seu cliente é uma violação de segredo profissional.
Sarkozy continua a ser suspeito de “corrupção activa”, “tráfico de influências” e “violação do segredo de justiça”, mas a investigação – uma das várias que incidem sobre acontecimentos dos seus anos de presidência – fica “congelada”. O caso levou, em Julho deste ano, à constituição do ex-Presidente como arguido, por alegada tentativa de obter informações sobre processos em que estava a ser investigado.
Os juízes que investigam este dossier têm procurado apurar se Sarkozy tentou, com o seu advogado, saber junto de um alto magistrado, Gilbert Azibert,que também é arguido no caso, informações sob segredo de justiça relativas a um dos processos em que é visado – o alegado financiamento irregular da sua campanha presidencial de 2007 por Liliane Bettencourt, herdeira da L’Oréal. Em troca teria sido prometido ao magistrado um prestigiado cargo no Mónaco. Querem também esclarecer se o então Presidente foi informado que estava sob escuta num inquérito a suspeitas de financiamento ilegal à sua eleição pelo o ditador líbio Muammar Khadafi morto entretanto.
Ainda que a suspensão do inquérito das escutas seja uma boa notícia para Sarkozy, o ex-Presidente não tem motivos para estar tranquilo. São vários os casos que podem vir a obrigá-lo a prestar contas à Justiça – das facturas falsas na campanha das presidenciais de 2012, em que foi derrotado por François Hollande; ao chamado “escândalo Tapie”, em que é suspeito de ter feito pressão sobre a então ministra da Economia, Christine Lagarde, actual directora-geral do Fundo Monetário Internacional, para que fosse feita uma arbitragem num conflito que opunha o empresário Bernard Tapie ao Banco Crédit Lyonnais sobre a venda da empresa Adidas. Em Julho de 2008, Tapie recebeu 403 milhões de euros do Estado francês, a título de indemnização.
No domingo, Sarkozy disse não ter praticado qualquer irregularidade nos casos que correm na Justiça em que o seu nome é citado, mas, segundo a AFP, não se referiu em concreto às acusações de corrupção.
Apesar do cenário aparentemente sombrio, na sexta-feira, Sarkozy, Presidente entre 2007 e 2012, anunciou o regresso à vida política e a intenção de se candidatar à presidência do seu partido, a UMP, de centro-direita, em Novembro. No horizonte poderia estar uma candidatura à chefia do Estado, nas eleições de 2017.