Líderes separatistas marcam eleições à revelia de Kiev, sem que as armas se calem

Cessar-fogo continua por cumprir nas zonas mais sensíveis do Leste da Ucrânia. Donetsk e Lugansk querem fazer as suas próprias presidenciais e legislativas.

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Exército ucraniano anunciou que deu início ao recuo da frente de combate Anatolii Stepanov / AFP

Esta terça-feira, os líderes insurgentes anunciaram o início do recuo das suas unidades de artilharia, em linha com o que foi acordado em Minsk alguns dias antes. O Exército ucraniano já tinha anunciado a mesma intenção e o seu porta-voz, Andrei Lisenko, saudou a ausência de incursões militares russas no território ucraniano – algo que Moscovo nunca admitiu.

No entanto, a desconfiança entre os dois lados mantém-se e o cessar-fogo não alcançou todas as zonas da frente militar. Na manhã desta terça-feira, o aeroporto de Donetsk foi alvo de bombardeamentos, de acordo com o testemunho dos correspondentes da AFP no local. Trata-se de uma das zonas mais sensíveis, localizada no centro da frente de combate, onde os confrontos são praticamente quotidianos desde Maio. “O aeroporto está no nosso território”, afirmou à AFP Andrei Purguin, o número dois da autoproclamada República Popular de Donetsk.

Avanços do Exército ucraniano na direcção da cidade de Gorlivka e confrontos em Debaltsev foram também noticiados pelo jornal pró-governamental Kyiv Post, dando conta da dificuldade em estabelecer a zona desmilitarizada prevista pelo acordo de Minsk. O documento assinado entre o Governo ucraniano e as forças separatistas determinava o recuo de cerca de 15 quilómetros em relação à frente de combate, com o objectivo de estabelecer uma zona-tampão.

O cumprimento deste ponto do acordo é essencial para que o plano de paz seja posto em prática no Leste da Ucrânia, mas a lógica seguida por ambos os lados torna incerto que isso seja alcançado rapidamente. “Retirámos a nossa artilharia das zonas onde as forças ucranianas regulares fizeram o mesmo", explicou à agência Interfax o primeiro-ministro da RPD, Alexander Zakharshenko. "Nos locais onde a artilharia ucraniana não foi retirada, também não retirámos a nossa.”

Os combates ainda continuam e o cessar-fogo apresenta fragilidades, mas o pós-conflito também já divide Kiev e os separatistas. O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, concordou em conceder um “estatuto especial” de autonomia às regiões controladas pelas forças pró-russas por três anos, que lhes vai permitir decidir, por exemplo, que tipo de relações pretendem estabelecer a nível externo. Este ponto foi visto como uma cedência de Poroshenko perante Moscovo, uma vez que abre caminho a uma influência russa sobre as regiões do Donbass, levando vários analistas a alertar para o iminente estabelecimento de um novo “conflito congelado” na Europa, à semelhança do que acontece com a Abkházia ou a Ossétia do Sul, na Geórgia.

Confrontado com as críticas, Poroshenko disse que aquilo que foi acordado foi apenas a atribuição de “um regime especial de autogovernação” e rejeitou a ideia de “estatuto especial”. Mas os rebeldes mostraram-se sempre inamovíveis em relação às suas pretensões independentistas e esta terça-feira deram mais um passo nesse sentido, desafiando o acordo de Minsk.

Os dois líderes das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk anunciaram a marcação de eleições legislativas e presidenciais para o início de Novembro. “Pretendemos organizar as eleições do conselho supremo [correspondente ao Parlamento] e do chefe da república a 2 de Novembro”, revelou Alexander Zakharshenko, sendo acompanhado de seguida pelo seu homólogo de Lugansk, Alexei Kariakin. Ambos rejeitaram ainda receber as eleições legislativas marcadas pelo Parlamento ucraniano para 26 de Outubro.

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