Estudantes de Hong Kong boicotam aulas em protesto contra limitação à democracia

China quer condicionar escolha do futuro chefe do executivo local a dois ou três candidatos previamente seleccionados.

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Concentração desta segunda-feira XAUME OLLEROS/AFP

Os estudantes de mais de duas dezenas de escolas de ensino superior concentraram-se no campus de Sha Tin, da universidade chinesa de Hong Kong, alguns quilómetros a norte do centro. A organização calculou o número de participantes em cerca de 13 mil. A polícia não divulgou números.

O jornal South China Morning Post, que se publica em Hong Kong, noticiou que cerca de 400 académicos e funcionários também participaram na acção, convocada pela federação de estudantes. “O boicote deve acontecer. Desobedece e agarra o teu destino”, dizia um cartaz, transcrito pela Reuters.

“Estamos dispostos a pagar o preço da democracia. Ninguém pode tirar os direitos às pessoas. Ninguém. Nem a Região Administrativa Especial nem o Congresso Nacional do Povo”, disse, citado pela Reuters, Alex Chow, líder da federação de estudantes. O governo local declarou que respeita a “ambição e persistência” dos estudantes e compreende que “diferentes grupos da sociedade tenham diferentes opiniões e argumentos".

A China recuperou Hong Kong, mas o território, que é agora uma Região Administrativa Especial, conservou grande autonomia no quadro da máxima “um país dois sistemas”, no plano político e judicial.

Mas em Agosto deste ano, Pequim anunciou que, a partir de 2017, data da eleição do próximo chefe do executivo, a escolha dos cerca de cinco milhões de potenciais eleitores seria feita por sufrágio universal, mas apenas entre dois ou três candidatos previamente seleccionados por um comité de nomeação.

O protesto estudantil é um estímulo aos movimentos pró-democracia liderados pelo grupo Occupy Central, que se têm desdobrado em acções de protesto e denúncia de interferência do Governo de Pequim nos assuntos locais. Para  1 de Outubro está previsto um protesto no bairro financeiro. Mas o poder central tem ignorado os seus apelos e líderes da contestação já admitiram que a esperança de o demover é pouca.

As autoridades chinesas recearão um efeito de contágio do movimento da cidade ao resto do seu território que possa pôr em causa o Partido Comunista chinês.

Para entrar em vigor, a reforma anunciada pela comissão legislativa da Assembleia Nacional chinesa tem de ser aprovada por dois terços dos deputados do Parlamento de Hong Kong. Pelo menos 25 dos 70 que o compõem já declararam, segundo a AFP, que votarão contra. O Governo de Pequim fez saber que, em caso de rejeição da proposta, o próximo chefe do executivo será designado sem ratificação dos eleitores.

O início do protesto estudantil coincidiu com a divulgação, no domingo, de uma sondagem da universidade chinesa de Hong Kong, segundo a qual cerca de um quinto dos habitantes do território admite emigrar, devido à incerteza política.

Mais de 21% das 1006 pessoas que responderam à sondagem põem a possibilidade de deixar Hong Kong. Mas não chega a um terço a percentagem dos que se declaram favoráveis a um protesto no bairro financeiro do território.

“Hong Kong está à beira de uma nova vaga de emigração em massa”, comentou Sonny Lo, professor do Instituto de Educação de Hong Kong, citado pela AFP. Nos anos que antecederam a devolução de Hong Kong à China, centenas de milhares de habitantes deixaram o território.

 
 

   

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