Polícias justificam uso de armas como resposta a agressões de adeptos do Vitória

PSP alega que foram arremessadas grades de ferro, paus, isqueiros e cinzeiros. Presidente do Vitória e associação de adeptos contrariam em absoluto esta versão.

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Foto: Miguel Riopa/AFP

“Aquando da aproximação do efectivo policial ao local dos incidentes, foram de imediato arremessadas na sua direcção grades de ferro, paus de bandeira, isqueiros e cinzeiros, situação que colocou seriamente em risco a integridade física dos elementos policiais", explicou a Direcção Nacional da PSP, em comunicado.

Os disparos dos “bagos de borracha”, no Estádio D. Afonso Henriques, foram feitos “com uma arma de calibre 12 ‘Shotgun’, “uma munição menos letal”, sublinhou a PSP.

Os confrontos começaram cerca de 30 minutos após o início do jogo, quando o marcador assinalava ainda 0-0. Um elemento dos White Angels e outro dos Suspeitos do Costume, duas claques que apoiam o Vitória e ocupavam a bancada sul do estádio, ter-se-ão agredido mutuamente, o que levou outros elementos dos dois grupos a envolverem-se, disse ao PÚBLICO fonte policial.

A situação levou à intervenção de elementos da Esquadra de Investigação Criminal e da Unidade de informação Desportiva da PSP, que estavam à civil no meio das claques. Esses agentes, conhecidos como “spotters”, terão sido agredidos e a polícia não conseguiu controlar os dois grupos. Alguns adeptos chegaram mesmo a invadir o campo. “A rixa entre os adeptos persistia, causando perigo para os envolvidos e terceiros”, é adiantado no comunicado.

A PSP foi então obrigada a recorrer ao Corpo de Intervenção que estava no local, com 90 elementos. O jogo, que acabou empatado (1-1) foi então interrompido durante sete minutos. A equipa de arbitragem entendeu não estarem reunidas as condições de segurança para a partida prosseguir.

“Após a intervenção policial, foi possível garantir a segurança nas bancadas até ao final do jogo de futebol”, apontou ainda a polícia.

Segundo a PSP, durante a carga policial ficaram feridos mais de uma dezena de agentes, sendo que um deles teve de ser assistido pelos bombeiros no local. Foram ainda detidas duas pessoas, uma por injúrias e ameaças a um polícia e outro por ter agredido um adepto. A PSP apreendeu também 50 bilhetes falsos e identificou quem os estava a vender.

A polícia abriu um processo de averiguações aos incidentes “como decorre da legislação” sempre que “é usada uma arma de fogo”.

Direcção do Vitória pede responsabilidades
A versão do Vitória de Guimarães é, porém, bem diferente daquela contada pela PSP. No final do encontro, o presidente do clube, Júlio Mendes, criticou a actuação da polícia e exigiu explicações. “Como é possível, numa bancada onde só estão adeptos de um clube a ver o jogo de forma ordeira a cantar, a dar cor e alegria ao jogo e, de repente, começam a ser carregados por trás pelas forças policiais?”, questionou, citado pela agência Lusa. O dirigente considerou ainda que o que sucedeu foi um “exemplo do que as forças de segurança não podem fazer num recinto desportivo”.

De acordo com Júlio Mendes, um dos responsáveis do clube pela ligação aos adeptos “levou um tiro com uma bala de borracha, foi agredido e está bastante combalido, quando estava perfeitamente identificado e credenciado, pretendendo intervir, como é função dele”.

“O ministro da Defesa [José Pedro Aguiar-Branco] estava ao meu lado e não entendia o que se estava a passar. O presidente do FC Porto também não. Alguém tem de explicar. Não podem usar o chavão e dizer que são os desordeiros, que é Guimarães. Não é nada disso. Alguém tem de ser responsabilizado e vamos levar isto até às últimas consequências”, defendeu ainda Júlio Mendes.

Associação VitóriaSempre culpa autoridades
Entre os adeptos vitorianos, a versão apresentada é também oposta àquela que foi avançada pelas autoridades. Através de um comunicado emitido nesta segunda-feira pela Asociação VitóriaSempre, foi manifestado repúdio pelos incidentes.

"É incompreensível que numa bancada de um estádio de futebol, em que se encontram adeptos de uma única só cor ocorra o que sucedeu, em matéria de violência. O nosso enfado apenas se deve ao facto de tais ocorrências terem sucedido por culpa única e exclusiva dos órgãos de autoridade, que numa atitude de despotismo e arrogância agrediram vitorianos indefesos que mais não faziam que apoiar a sua equipa…aliás, como sempre o têm feito!", pode ler-se no documento.

O PÚBLICO contactou também um dos elementos de uma das claques do Vitória, que prometeu para terça-feira uma posição conjunta sobre o tema.


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