Missão Roseta vai aterrar na cabeça do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko

O módulo File, que será largado da sonda Roseta a 11 de Novembro, vai descer até ao local J, no topo da “cabeça” do cometa, que oferece o menor risco para a missão.

Lugar J, no topo da cabeça do cometa
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Lugar J, no topo da cabeça do cometa ESA
Os cinco lugares escolhidos para a sonda File aterrar
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Os cinco lugares escolhidos para o módulo File aterrar ESA
Lugar J, no topo da cabeça do cometa
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Lugar J, no topo da cabeça do cometa ESA

“Nenhum dos locais candidatos para a aterragem cumpre os critérios operacionais a 100%, mas o local J é claramente a melhor solução”, explicou Stephan Ulamec, responsável pelo File, do Centro Aeroespacial Alemão, citado num comunicado da ESA.

A missão da Roseta arrancou na década de 1990 para estudar de perto um cometa. A sonda foi lançada em 2004 e, dez anos depois, aproxima-se um dos momentos mais importantes da missão, a aterragem do File, que pesa apenas 100 quilos. Enquanto a Roseta vai continuar a girar em torno do cometa, o módulo File vai ser largado da Roseta a 11 de Novembro e irá descer e pousar no local J para ter acesso ao material virgem do cometa. 

“Vamos fazer a primeira análise de sempre de um cometa neste local que nos dará uma compreensão sem paralelo da sua composição, estrutura e evolução”, defendeu Jean-Pierre Bibring, um dos cientistas principais da missão Roseta, responsável pela equipa do instrumento CIVA (siglas para Comet Infrared and Visible Analyser), um instrumento de análise do File capaz de tirar fotografias a comprimentos de onda na região do visível e do infravermelho do espectro electromagnético e que vai fazer o reconhecimento da região onde o File vai aterrar.

“O local J vai permitir-nos, em particular, analisar material pristino, caracterizar as propriedades do núcleo do cometa e estudar os processos que levam à sua actividade”, explicou o investigador, citado no mesmo comunicado.     

Visto com os instrumentos da Terra, o núcleo do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, de quatro quilómetros de comprimento máximo, tinha o formato de uma enorme batata. Mas, quando, em Julho, foram começando a chegar as primeiras fotografias do cometa tiradas pela Roseta, surgiu uma forma que mais parecia a de um pato, com um corpo maior e uma cabeça mais pequena. “Quando vimos o pato, soubemos automaticamente que esta forma iria reduzir estatisticamente onde poderíamos aterrar”, disse Matt Taylor, cientista responsável pela ligação entre a equipa científica e a equipa de operações da missão da Roseta, numa entrevista ao PÚBLICO.

“A aterragem não vai ser guiada, vai usar-se a gravidade [do cometa], demorará bastante tempo e terá uma trajectória curva. É necessário largar o File de uma certa forma e, se o local de aterragem fosse em certas regiões, a Roseta teria de se aproximar de mais do cometa para  para o File chegar lá”, disse o cientista, descrevendo algumas das dificuldades que os cientistas tiveram em conta para tomar esta decisão.

Mas havia mais condições que o local tinha de ter: o File vai ser alimentado com a luz do Sol e era necessário escolher um sítio com boa exposição solar. Além disso, nunca poderia ser um sítio com demasiada actividade – libertação do material que constitui a cabeleira e a cauda do cometa, quando este se aproxima do Sol –, porque podia tapar os painéis solares ou, em última instância, levantar todo o chão por baixo do File. Por outro lado, a informação obtida pelo File vai chegar à Terra via Roseta“A última questão é a capacidade de o File poder transmitir informação para a Roseta. É necessário uma certa posição para que o cone do sinal emitido [pelo File] seja captado pela órbita, [a Roseta]”, acrescentou ainda Matt Taylor.

A escolha do lugar foi sendo feita com a informação obtida desde 6 de Agosto, quando a Roseta ficou apenas a 100 quilómetros de distância do 67P/Churyumov-Gerasimenko. Desde então a sonda aproximou-se até ficar a uma distância de 30 quilómetros. Primeiro foram escolhidos dez locais e destes já só cinco foram anunciados. Segundo a ESA, o lugar J oferece o risco mínimo para o módulo em comparação com os outros locais candidatos e é também cientificamente interessante, com sinais de actividade por perto. A seguir ao local J, o mais bem classificado e, portanto, a segunda hipótese se algo correr mal, é o local C, que se situa no corpo do cometa.

Agora, começa a contagem decrescente para a descida do módulo File. Se tudo correr bem, a missão Roseta poderá estudar todos os aspectos do cometa e o seu comportamento: a libertação do material devido ao Sol, as interacções entre as partículas libertadas pelo cometa e o vento solar e a constituição do núcleo do cometa.

Na entrevista que deu ao PÚBLICO, Matt Taylor explicava que este cometa era mais uma peça do puzzle para compreender a evolução do sistema solar: “O material dentro do cometa é o resto do início do sistema solar, por isso é material primordial. Ao olharmos e compararmos com outros objectos no sistema solar, pode-se ter uma ideia de como é que estes objectos estão ligados. A grande questão é como é que a água foi parar à Terra. Pode-se comparar a água do cometa com a água dos oceanos, através da proporção de isótopos. Há outros químicos e moléculas que se podem procurar no cometa que dão uma ideia onde ele se formou em relação ao Sol. E pode-se juntar tudo isto com as simulações que fizemos para dar uma ideia da evolução do próprio sistema solar.”

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