Cameron promete luta aos jihadistas que decapitaram refém britânico
Estado Islâmico reivindicou a morte de David Haines, funcionário de uma organização humanitária sequestrado na Síria em 2013.
No final de uma reunião extraordinária do gabinete de crise interministerial Cobra, o primeiro-ministro referiu-se a Haines, um funcionário da organização humanitária francesa Acted, de 44 anos, como "um herói britânico" e descreveu os militantes da organização jihadista como "monstros, e não muçulmanos".
David Cameron prometeu ainda "adoptar todos os passos necessários", a nível interno e também no estrangeiro, para derrotar os jihadistas e "extinguir a ameaça terrorista". No entanto, escusou-se a precisar se a Força Aérea britânica iria juntar-se à campanha de bombardeamentos de alvos do EI actualmente em curso, conduzida pelos Estados Unidos. Em anteriores declarações, tinha-se comprometido a convocar o Parlamento para aprovar a participação do país numa intervenção militar.
O Estado Islâmico reivindicou ao final da noite deste sábado a decapitação de David Haines, em retaliação pela entrada do Reino Unido na coligação internacional formada para lutar contra o grupo jihadista que nos últimos meses tomou conta de vastas áreas na Síria e no Iraque.
É a terceira execução deste tipo num mês, depois do assassinato de dois jornalistas norte-americanos, que também foram raptados e mantidos reféns na Síria.
Um novo refém ameaçado
Num vídeo difundido este sábado e intitulado Uma mensagem aos aliados da América, o grupo jihadista critica o Reino Unido por se juntar à coligação liderada pelos Estados Unidos que iniciou há semanas ataques aéreos contra o EI no Iraque. Numa declaração ao país na quarta-feira, o Presidente norte-americano, Barack Obama, admitiu a possibilidade de estender os bombardeamentos contra o EI ao território da Síria.
O vídeo, onde um carrasco mascarado e com sotaque britânico surge ao lado de Haines, de uniforme laranja, é em tudo idêntico aos que mostraram as anteriores decapitações de James Foley e Steven Sotloff. Um outro refém, identificado como Alan Henning, também cidadão britânico, é igualmente mostrado nas imagens como a potencial quarta vítima a abater. A veracidade do video já foi confirmada pelo ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido.
“O meu nome é David Cawthorne Haines. Gostaria de o declarar a si, David Cameron, inteiramente responsável pela minha execução. Entrou voluntariamente numa coligação com os Estados Unidos contra o Estado Islâmico, tal como o seu antecessor, Tony Blair, fez antes, seguindo uma tendência entre os nossos primeiros-ministros britânicos que não conseguem ter a coragem de dizer não aos americanos", diz Haines no vídeo com dois minutos e 27 segundos de duração. “Infelizmente seremos nós, o povo britânico, quem pagará o preço pelas decisões egoístas do nosso Parlamento.”
O seu carrasco, com o rosto escondido, acrescenta depois que a aliança internacional contra o EI "vai acelerar a vossa destruição" e mergulhar os cidadãos britânicos numa "nova guerra sangrenta e impossível de ser vencida".
O primeiro-ministro britânico reagiu às primeiras horas deste domingo contra o que classificou de acto "desprezível" e prometeu "perseguir os assassinos” até ao fim. "Este é um crime vil e repugnante. Faremos tudo o que pudermos para perseguir os assassinos e garantir que eles sejam responsabilizados, independentemente do tempo que levar", disse Cameron através de um comunicado divulgado por Downing Street. "O meu pensamento está com a família de David Haines, que tem demonstrado uma extraordinária força e coragem nesta provação."
Doze meses de cativeiro
David Haines, de 44 anos e natural da Escócia, foi sequestrado em Março de 2013 quando trabalhava para a organização não-governamental francesa Acted (Agência para a Cooperação Técnica e Desenvolvimento) como responsável logístico no campo de refugiados de Atmeh, uma localidade síria junto à fronteira com a Turquia. No vídeo que mostrava a decapitação de Steven Sotloff, divulgado a 2 de Setembro, o Estado Islâmico ameaçava já que Haines seria o próximo refém a ser executado.
No final da reunião do gabinete de crise, David Cameron sublinhou que o Reino Unido é um país pacífico, mas "não pode ignorar esta ameaça à sua segurança e dos seus aliados. Manter a cabeça baixa não é uma opção, esta ameaça tem de ser confrontada", prosseguiu. "Passo a passo, temos de pressionar, desmantelar e por fim destruir o Estado Islâmico e tudo o que ele representa. E vamos fazê-lo, de forma calma e deliberada mas com determinação de ferro. Não seremos nós sozinhos, mas em estreita colaboração com os nossos aliados, nos Estados Unidos, na Europa, e também no Médio Oriente, onde a ameaça colocada por esta organização é ainda maior", sublinhou.
Londres anunciou há dias o envio de armamento leve para ajudar as forças curdas do Iraque a lutarem contra os jihadistas e antes tinha mandado ajuda humanitária. Cameron enumerou outras iniciativas que o seu Governo irá tomar: apoiar o novo Governo do Iraque e mobilizar a comunidade internacional contra o EI através das Nações Unidas; apoiar a operação alargada de contraterrorismo e participar na coligação internacional montada pelos EUA para responder aos jihadistas e elevar o nível de segurança interna, para evitar o risco de terrorismo doméstico.
A Austrália tornou-se este domingo o quinto país a designar tropas e material aéreo para a coligação liderada pelos Estados Unidos para combater o Estado Islâmico no Iraque — e o primeiro a detalhar números sobre a sua participação. Segundo o primeiro-ministro australiano, Tony Abbot, serão 600 operacionais — 400 militares da Força Aérea e 200 elementos das forças especiais que irão para uma base norte-americana nos Emirados Árabes Unidos —, acompanhados por seis jactos de combate Super Hornet, um avião de controlo aéreo e uma aeronave capaz de reabastecer a frota aérea em pleno voo.
O vídeo da nova execução do refém britânico foi divulgado horas depois de a família de Haines ter apelado aos sequestradores para que o libertassem. Numa mensagem difundida sábado através do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, os familiares acrescentavam que nenhuma resposta tinha ainda chegado às múltiplas tentativas para estabelecer contacto com os jihadistas.