Seguro exige explicações do BdP e Governo e PCP vai chamar ministra das Finanças à AR

Bloco quer Novo Banco sob alçada da CGD. Lobo Xavier (CDS-PP) defende a venda rápida e Marques Mendes avisa que "esta é a última oportunidade para [o Banco de Portugal] sair bem deste processo".

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"Alguém tem que vir rapidamente dizer a público o que se está a passar", defende Seguro Enric vives-rubio
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Demissão de Vítor Bento "é mais um sinal da instabilidade que existe", defendeu António Costa Nuno Ferreira Santos

Da direita, a única voz que se ouviu em defesa do modelo que estava definido para o Novo Banco foi a do centrista António Lobo Xavier. “Eu percebo que queiram uma solução rápida para o banco. Sou a favor, sendo este o modelo”, afirmou o comentador político aos jornalistas, à margem de uma sessão de formação de jovens do CDS, que decorreu em Peniche.

Considerando que houve um desencontro de vontades sobre o rumo a dar à instituição, Lobo Xavier afirma que só se conseguem minimizar os prejuízos desta mudança na gestão do banco “com uma nova administração que esteja entrosada com o espírito do modelo”.

A posição do centrista não andará muito longe do que pensam alguns dos actuais dirigentes do partido. Mas oficialmente o CDS não quer comentar o assunto nem se quer envolver – deixando-o na esfera do BdP, de cuja supervisão têm sido muito críticos -, apesar de o ministro António Pires de Lima ter defendido há dois dias a alienação rápida do Novo Banco.

O antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes, que tornou pública a solução para o BES ainda antes do anúncio do BdP, a 3 de Agosto, criticou a opção da equipa de Vítor Bento – que, no entanto, apelidou de “competente” - porque a sua saída "não resolve problema nenhum, só [os] agrava. Ainda que tenham razão [por se sentirem limitados na sua acção de administradores] não podem abandonar o barco num momento difícil".

Considerando que "nada justifica a sua saída", disse que, apesar dos desentendimentos sobre a estratégia a seguir entre a administração e o supervisor e de as circunstâncias do banco terem mudado muito desde que a equipa entrou, esta é uma "situação excepcional". Por isso, Bento "tinha o dever de serviço público de ficar" para terminar o trabalho que começou.

Mendes deixou também críticas ao Governo, a quem acusa de ter uma “posição de hipocrisia”, e ao BdP, que “deveria ter anunciado já” ontem a nova equipa de gestão. “Esta é sua a última oportunidade para sair bem deste processo.”

Ministra das Finanças na AR já, para além da comissão de inquérito, exige PCP

À esquerda, Jerónimo de Sousa anunciou que o PCP vai chamar de urgência a ministra das Finanças ao Parlamento para clarificar a situação criada com a demissão da equipa gestora do Novo Banco. “O que está em curso é uma operação que tem todos os indícios de uma grande negociata para sustentar a continuação da especulação financeira, com grandes prejuízos públicos”, criticou Jerónimo. O partido já propôs a criação de uma comissão parlamentar de inquérito ao processo de resolução do BES, que será votada no dia 19, e à qual PS e PSD já deram o seu acordo de princípio mas devem ainda propor alterações.

O líder do PS foi mais longe no pedido de explicações e exigiu que o governador do Banco de Portugal e o primeiro-ministro viessem a público ainda ontem ou, “o mais tardar”, hoje, dizer o que se está a passar. "Não podemos viver num país com esta instabilidade. Há uma crise de confiança na política, nas instituições, na justiça, e também há uma crise de confiança em relação ao sistema bancário e ao sistema financeiro no nosso país. Isto é inaceitável", afirmou António José Seguro, classificando de “mau demais” o actual cenário do Novo Banco.

O secretário-geral do PS defendeu que "não se pode brincar com o dinheiro de depositantes, com o dinheiro dos pequenos accionistas, não se pode brincar com dinheiros públicos”. Criticou as sucessivas declarações de confiança do supervisor e do Governo que acabaram por ser sempre contrariadas pela realidade, vincou: “Tem que haver estabilidade (…) Não pode haver mais surpresas, não pode haver mais instabilidade e tem que haver um respeito total pelos depositantes, pelos pequenos accionistas e pelos portugueses", concluiu Seguro.

António Costa foi no sentido da preocupação com as consequências da instabilidade no Novo Banco para a economia portuguesa. Para Costa, o pedido de demissão dos principais gestores da instituição financeira "é mais um sinal da instabilidade que existe". "Estou, sobretudo preocupado com o impacto que tenha na economia real", realçou, acrescentando que "só o Banco de Portugal tem boas condições para informar e dar garantias do que está a acontecer".

António Costa enfatizou que "o BES [Banco Espírito Santo] era um banco com profunda ligação à economia real e tudo o que seja perturbar a estabilidade do sistema financeiro cria, agrava, factores de incerteza". "Infelizmente, o país já tem um excesso de factores de incerteza e precisamos de fazer um grande esforço para reforçar a confiança nas instituições, mas também a confiança na nossa economia", declarou.
 

Bloco quer Novo Banco sob a alçada da CGD

Ainda a equipa demissionária não tinha confirmado as notícias da saída e já a coordenadora do Bloco apontava o “amadorismo atroz” e a “irresponsabilidade” de todos os protagonistas do caso, do Banco de Portugal ao Governo, passando pela equipa de Vítor Bento e pelo Presidente da República.

Catarina Martins comparou o Novo Banco ao BPN: “Limpou-se o banco com dinheiro público e depois vendeu-se a preço de saldo a privados. O que o Governo quer fazer [com o Novo Banco] é exactamente o mesmo. Isso não é aceitável", frisou. E defendeu a nacionalização daquela instituição bancária, colocando-a na alçada da Caixa Geral de Depósitos “como um instrumento ao serviço da economia, do crédito às empresas, para criar emprego”.

Já o coordenador da Comissão de Trabalhadores do Novo Banco disse que a saída da equipa de Bento “não surpreende” por se saber que “o trabalho da administração estava praticamente sem autonomia. Não pensávamos era que fosse tão rápido". João Martos considera que “uma venda apressada será o fim do banco” e acrescentou que o banco “precisa de estabilidade e não se podem baixar os braços. Estamos mais unidos do que nunca para salvar a instituição.”