A distracção de Marinho e Pinto
Com este discurso de populismo primário, Marinho e Pinto vai voar. Mas baixinho.
Ontem, revelou que ao chegar a Bruxelas, onde é eurodeputado há dois meses, descobriu para seu “choque” que iria ganhar 18 mil euros por mês. “Dezoito mil euros num país onde o salário mínimo é de 500 euros!!” O jornalista da SIC que o entrevistou perguntou se, estando tão horrorizado, iria Marinho e Pinto devolver o dinheiro. O advogado e ex-bastonário respondeu com uma pergunta: “Devolver? Não. Porque eu preciso dele. Um comunista distribui o seu salário pelo proletariado?”.
Mas a pergunta é outra: alguém em Portugal acredita que Marinho e Pinto desconhecia o valor dos salários dos eurodeputados? Não se lembra ele, por exemplo, da moção que Miguel Portas apresentou há uns anos no Parlamento Europeu, quando a crise internacional estalou, propondo uma redução de 5% dos salários dos eurodeputados? Ou de Rui Tavares, que criou uma bolsa de investigação com 10% do seu salário de eurodeputado? E haverá outros exemplos. E se não lê os jornais, terá por certo olhado para a sua folha salarial quando tratou dos papéis antes de fazer as malas.
Claro que ontem, quando anunciou que vai afinal deixar o Movimento Partido da Terra apenas dois meses depois de ter sido eleito, e que vai criar um novo partido para se candidatar às eleições legislativas do próximo ano, já era altura para se insurgir publicamente contra o escândalo dos 18 mil euros mensais. Esqueceu-se de o fazer antes, quando andou em campanha para ser eleito. Do mesmo modo que, agora que se vai candidatar às legislativas, não fará apelos a que os portugueses façam “greve à democracia por um dia” e, com a sua abstenção, criem um “solavanco democrático”. Marinho e Pinto entrou como um furacão sem ideologia e uma retórica antipartidos e anti-sistema típica deste início de século. Quando era jovem, queria ser piloto. Com este discurso de populismo primário, vai voar. Mas baixinho.