Cameron, Clegg e Miliband unem-se para não perderem a Escócia

Cancelaram a presença no debate semanal no Parlamento para partirem para o Norte. Num inédito comunicado conjunto, dizem: "Há muitas matérias que nos dividem — mas há uma coisa em que estamos absolutamente de acordo: o Reino Unido está melhor junto".

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Miliband, Clegg e Cameron estão "desesperados", diz a campanha do "sim" LEFTERIS PITARAKIS/AFP

É uma reacção — para muitos tardia — ao alheamento voluntário de Londres perante o referendo, que se realiza já no dia 18 de Setembro. Durante meses, a posição oficial foi a de dar espaço de manobra aos escoceses para decidirem, mas as sondagens dos últimos dias, que mostram que há um empate entre os dois campos e um número elevado de indecisos, criaram o cenário que Londres considerava improvável. E se o "sim" ganha?

"Eles estão desesperados", comentou o primeiro-ministro escocês, Alex Salmond (Partido Nacionalista), ao ouvir que os três políticos de Londres vão viajar para Norte.

"Concluímos que é ali que devemos estar", diz o comunicado conjunto que anuncia também que os três líderes decidiram cancelar a presença no debate semanal no Parlamentro de Westminster, por considerarem que neste dia têm uma missão mais importante noutro lado. A escolha da data não foi aleatória — na quarta-feira realiza-se último debate, desta vez online, entre Salmond e Alistair Darling (trabalhista e líder da campanha do "não).

Antes do debate, e por serem quem são, Cameron, Miliband e Clegg vão ter tempo de antena, vão ser ouvidos, sobretudo pelos indecisos, em cujas mãos parece estar a decisão sobre o futuro da Escócia e do Reino Unido.

"Há muitas matérias que nos dividem — mas há uma coisa em que estamos absolutamente de acordo: o Reino Unido está melhor junto". (...) Queremos ser ouvidos e falar com os eleitores sobre a escolha que têm pela frente. A nossa mensagem ao povo escocês é simples: ‘queremos que fiquem’", diz o comunicado dos três líderes que farão campanha separados.

Segundo o jornal The Telegraph, o grau de ansiedade em Downing Street (a sede do Governo britânico) tem vindo a crescer e é agora imenso. A viragem na atitude da equipa governativa e da oposição trabalhista foi a sondagem do YouGov, divulgada no domingo, que pela primeira vez dá a vitória ao "sim" — 51% para 49% do não. Outra sondagem, divulgada nesta terça-feira, esta da TNS, volta a dar vantagem ao "sim", agora com 39% contra 38%.

"Estou mais nervoso do que em pânico", disse domingo uma fonte do Governo que falou ao Guardian sob anonimato. A viagem à Escócia indica que os nervos já se foram, que foi o pânico se instalou e, com ele, as medidas mais drásticas — já estava previsto que Cameron fosse à Escócia, dias antes do referendo. Mas as fontes do Telegraph dizem que em Downing Street se concluiu que a viagem seria tardia e inútil, que era preciso partir para o ataque para evitar o fim de uma união com 307 anos.

"Eu preocupo-me de facto com este tema", disse Cameron, falando já a solo e sublinhando que se preocupa "apaixonadamente" pelo Reino Unido". "O nosso Reino Unido", sublinhou. "E quero fazer tudo o que puder para dar às pessoas argumentos [a favor do ‘não’]. No final deste processo, a escolha é do povo escocês, mas quero que saibam que o resto do Reino Unido — e falo como primeiro-ministro — quer que fiquem".

Esta viagem conjunta surge também depois de os líderes dos três partidos (conservador, trabalhista e liberal-democrata) da Escócia terem dado o seu apoio à iniciativa de Londres de aumentar substancialmente os poderes do governo escocês. Deixaram, porém, um elemento de pressão sobre David Cameron que é, ao mesmo tempo, uma prova aos escoceses de que o aumento de poderes não é uma promessa pré-referendo sem data marcada para se materializar: querem que as negociações comecem logo no dia a seguir ao referendo, ou seja a 19, caso o "não" vença.

Todas estas movimentações foram comentadas por Alex Salmond. "A campanha do ‘não’ está em grande dificuldade e organizou esta farsa. David Cameron, Ed Miliband e Nick Clegg são os políticos de Westminster em quem menos podemos confiar e a sua presença colectiva na Escócia só dará um novo grande alento à campanha do ‘sim".
 

   

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