Investigadores contrariam posição “alarmista” da OMS sobre cigarros electrónicos

Grupo do Reino Unido contrapõe que passagem dos cigarros tradicionais para os electrónicos pouparia vidas.

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O consumo destes cigarros tem aumentado em todo o mundo Joe Raedle/Getty Images/AFP

Os dados, citados pela BBC, fazem parte de um trabalho desenvolvido por uma equipa encabeçada pela University College London e surgem uma semana depois de a OMS ter publicado um relatório em que recomenda que os cigarros electrónicos não sejam vendidos a menores nem utilizados em espaços fechados. No documento, a OMS alertava ainda para alguns riscos e incertezas relacionados com os cigarros electrónicos, cujo uso está a aumentar em todo o mundo, temendo que os não fumadores se sentiam atraídos por este produto e que passem depois a fumar.

Agora, o grupo do Reino Unido vem contrapor as restrições e proibições à volta do cigarro electrónico, sublinhando que o número de não fumadores que começaram a utilizar cigarros electrónicos é inferior a 1%, de acordo com dados do Smoking Toolkit, um inquérito conduzido mensalmente junto de fumadores daquele país.

De acordo com Robert West, um dos investigadores do trabalho da University College London, citado pela BBC, as toxinas presentes nos cigarros electrónicos são muito baixas, com concentrações de produtos cancerígenos que não têm comparação com o tabaco tradicional, pelo que considera a posição da OMS “puritana”. West fala em concentrações quase 20 vezes menores, que estima que podem poupar 6000 vidas por ano por cada milhão de fumadores que mudem dos cigarros tradicionais para os electrónicos. No caso dos nove milhões de fumadores no Reino Unido, isso significaria que mais de 54 mil vidas seriam poupadas.

As ideias da equipa tiveram eco em posições defendidas pelo Centro Nacional de Adições do Reino Unido, do King’s College London, e pela Unidade de Dependência do Tabaco, da Queen Mary University, que publicaram um artigo no jornal especializado Addiction, defendendo que a posição da OMS pode vir a revelar-se um “engano” ao não ter em consideração os benefícios perante os riscos. “Estas recomendações da OMS são realmente prejudiciais para a saúde pública, na qual os cigarros electrónicos poderiam ter um efeito revolucionários”, rematou o investigador Peter Hajek, da Queen Mary University, citado pelo The Telegraph.

O relatório da OMS que será discutido em Outubro referia, por exemplo, que o aerossol produzido pelo cigarro electrónico, e que o utilizador inala, “não é apenas ‘vapor de água’ como é muitas vezes referido na publicidade a estes produtos”. Há também nicotina – nos modelos que a integram – e outros produtos possivelmente tóxicos, cujos efeitos a longo prazo não são bem conhecidos.

Daí que o relatório recomendasse restrições ou regras à publicidade a cigarros electrónicos, para não os tornar apelativos para menores ou não-fumadores, propondo ainda que os aparelhos não tenham o formato de produtos de tabaco, que não estejam associados a marcas, cores ou símbolos que possam ser associados ao tabaco e que até o termo “cigarro electrónico” ou “e-cigarette” não seja utilizado.

Em Portugal, o Governo já está a preparar uma regulamentação para os cigarros electrónicos, cujo uso crescente preocupa as autoridades de saúde nacionais e internacionais. As regras deverão cumprir o que está fixado numa nova directiva comunitária sobre o tabaco aprovada em Abril passado.

“Está a ser preparada a regulamentação. A directiva do tabaco vai ser transposta e irá contemplar aspectos sobre o cigarro electrónico”, disse ao PÚBLICO o director-geral de Saúde, Francisco George, no final do mês.

Já esta semana, o secretário de Estado da Saúde disse ao Jornal de Notícias que as novas regras serão reveladas em Outubro, sublinhando as diferenças entre cigarros electrónicos com "vapor de água e eventualmente com perfumes" e cigarros electrónicos com "vapor de água contendo nicotina": "Por isso é que esta matéria tem de ser vista ponderadamente", diz Fernando Leal da Costa.

 

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