Situação na fronteira da Ucrânia dificulta conversa entre Poroshenko e Putin

Presidentes da Ucrânia e Rússia reúnem à margem de cimeira de União Alfandegária em Minsk, para discutir a guerra separatista. "A conversa é difícil, as posições de ambos os lados são difíceis de conciliar.

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Petro Poroshenko e Vladimir Putin cumprimentam-se à chegada a Minsk AFP PHOTO POOL/SERGEI BONDARENKO

“É uma conversa difícil. As posições de ambos os lados são muito diferentes e muito difíceis de conciliar”, admitia o Presidente da Bielorrúsia, Alexander Lukashenko, anfitrião do encontro. A dificuldade foi acrescida pelos últimos desenvolvimentos na região da fronteira: a captura de dez soldados russos que participavam numa “missão especial” em território ucraniano, na região de Donetsk; e a alegada movimentação de uma coluna de tanques e blindados russos em direcção à cidade portuária de Mariupol, no Sul do país. “Mas o facto de haver conversa já é um sucesso. Todos concordam que é preciso desanuviar a tensão”, considerou Lukashenko.

Nas suas primeiras declarações à chegada a Minsk, Vladimir Putin ignorou as referências à situação no terreno – que aparentemente dão maior credibilidade às acusações de Kiev do envolvimento de Moscovo na instabilidade no Leste do país –, e falou apenas nos “riscos” que o arrastamento do conflito acarreta para a Ucrânia. Na sua opinião, a situação “não pode ser resolvida através da escalada do cenário militar, sem ter em conta os interesses vitais das regiões do Sudeste do país e sem um diálogo pacífico com os seus representantes”.

Segundo comentadores, Putin terá sido propositadamente ambíguo, para que as suas palavras tanto fossem interpretadas como um sinal de que Moscovo estará disposto a reduzir o seu apoio militar aos separatistas e, simultaneamente, como um aviso para Kiev de que a sua “operação anti-terrorista” está condenada ao fracasso.

Não foi a primeira vez que o Presidente russo apelou a um “diálogo nacional” no país vizinho, com vista ao reforço de poderes e “autoridade” das regiões. A resposta de Petro Poroshenko não tardou: esse passo, que chegou a ser ensaiado em Junho, quando o Governo declarou uma trégua para negociar com os separatistas, não voltará a ser dado enquanto os rebeldes não pousarem as armas. “A primeira condição para a estabilização da situação é o restabelecimento do controlo efectivo sobre a fronteira. O que é vital é por um termo à distribuição de armas e equipamentos aos combatentes rebeldes”, insistiu o líder ucraniano.


Federação fora de questão
Poroshenko não está disposto a discutir a federalização do país, nem sequer uma maior autonomia regional que possa inverter o actual rumo de aproximação à Europa, e nomeadamente a assinatura de um acordo de associação comercial com a União Europeia, prevista para Setembro. Mas, sublinhou, estava preparado para “iniciar o processo que permita alcançar um compromisso político”.

Os dois trocaram cumprimentos no arranque da cimeira da União Alfandegária Euroasiática, em que participam a Bielorrússia, Cazaquistão, Rússia, Ucrânia e representantes da União Europeia. A reunião bilateral decorreu já ao fim do dia, depois de seis horas de negociações multilaterais, e durou menos de uma hora. No final, não houve declarações.

Ainda antes da conversa a sós, Putin demonstrou que a sua posição de força, ao alertar a Ucrânia para uma inevitável “retaliação económica” se esta se decidir pelo aprofundamento da ligação comercial à União Europeia. “Essa é uma situação que a Rússia não vai tolerar e que, a acontecer, implicará uma série de medidas retaliatórias para a protecção do nosso mercado”, frisou.

A crise política na Ucrânia começou no final de 2013, quando Putin forçou o então presidente Viktor Ianukovich a trocar a aliança europeia por um novo acordo com a Rússia, que procura formar uma união alfandegária com as antigas repúblicas soviéticas. A revolta popular provocou a queda do Governo pró-russo e, pouco depois, a anexação da Crimeia pela Federação Russa.

Soldados russos "por engano"

O Exército ucraniano divulgou as imagens dos dez soldados russos, capturados ao lado de combatentes rebeldes, na página oficial da “operação anti-terrorismo” aberta no Facebook. O Kremlin, que repetidamente nega qualquer participação no conflito, reconheceu desta vez que os homens nas imagens eram paraquedistas russos. Contudo, um porta-voz da Defesa, citado pelas agências Itar-Tass e Ria-Novosti, desvalorizou o incidente e disse que os soldados, que participavam em manobras de treino militar numa zona próxima da fronteira, terão cruzado para o território vizinho “inadvertidamente” e “por engano”.

Nos vídeos dos interrogatórios publicados pela Ucrânia, os soldados russos, vestidos com uniformes camuflados, identificam-se pelo nome, apontam as suas unidades militares, e tecem considerações sobre o teatro de guerra. “Não vi onde cruzámos a fronteira, só nos disseram que íamos fazer uma marcha de 70 quilómetros durante três dias”, conta Ivan Milchakov. “Deste lado é tudo diferente, não é como nos têm mostrado na televisão. Viemos para ser carne para canhão”, lamenta. Outro soldado, identificado como sargento Aleksei Generalov, questiona-se sobre os combates na Ucrânia. “Porque é que continuam a mandar os nossos rapazes para aqui? Esta guerra não é nossa”, diz.

Em Kiev, o porta-voz das Forças Armadas, Andri Lisenko, disse que a captura de soldados especialistas russos na Ucrânia não era a única prova da “agressão” e “intromissão” do Exército vizinho no conflito em curso no Leste do país. No mesmo dia, quatro guardas nacionais tinham morrido num ataque a um posto da região de Lugansk com helicópteros russos Mi-24, avançou.

Lisenko anunciou ainda a destruição de 12 veículos blindados que supostamente integravam uma coluna militar russa que cruzou ilegalmente a fronteira no Sudeste do país e foi travada pelas forças nacionais antes de chegar à cidade portuária de Mariupol. “Os separatistas estão a atacar [a localidade de] Novoazovsk neste preciso momento”, informou.

Os combates entre as tropas ucranianas e os rebeldes prosseguem em Donetsk, com as agências internacionais a reportarem várias explosões e intensos tiroteios durante a noite, com a calma a regressar à cidade controlada pelos separatistas durante a manhã.
 

   

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