PSP e jovens detidos no meet acusam-se mutuamente de agressões e insultos
Um dos jovens conta que um agente deitou a namorada dele, grávida, ao chão e que disse estar-se a "borrifar" para a filha dele, que “era preta”. Outro detido admite ter atirado uma pedra à polícia, mas está arrependido. Julgamento prossegue nesta terça-feira.
Os agentes garantem que Fábio Barros lhes chamou “filhos da puta”, que os mandou “foder”, entre outros insultos. Quereria entrar no centro comercial, mas foi impedido porque haveria um cordão de segurança. Terá arremessado pedras aos agentes. O jovem nega as acusações de pontapés ou insultos, mas admite ter atirado uma única pedra que, frisa, não atingiu ninguém. Só o fez porque estava nervoso e garantiu estar “muito arrependido”. “Sei que foi a pior maneira, mas no momento não deu para pensar.”
Conta que também foi agredido pela polícia, com bastões e pontapés, e que chegou a perder a consciência. Mais, terá sido também agredido na esquadra, já depois de detido, altura em que garante ter ficado quieto, sem oferecer resistência. Fábio Barros frequenta um curso vocacional de tratamento de metais, em Setúbal. E tem um part time nas férias, numa estufa.
O agente Hélder Seco tem outra versão: Fábio Barros arremessou várias pedras, embora admita que não atingiram ninguém, o que “foi um acaso.” Quando estava a ser algemado, esbracejou. Um dos agentes magoou-se numa perna porque caiu, juntamente com o arguido, durante a detenção. Não foi um pontapé, o próprio agente Ricardo Gomes, também ouvido por videoconferência, o confirmou. Depois de algemado, o jovem não ofereceu resistência. Os agentes sabem que foi Fábio Barros quem atirou as pedras, porque, entre outras características, era alto, estava mais à frente e tinha “rastas”, “tranças”.
“Sai daí”
Já a história de Guilherme Guimarães envolve a namorada, grávida de cinco meses. Segundo a versão da PSP, a rapariga, de 21 anos, queria furar um cordão de segurança e agarrou-se ao pescoço do agente, partindo-lhe os óculos.
Já a jovem, Joana Lopes, conta que tudo começou quando a polícia que lhe falou sem modos, dizendo-lhe “sai daí, caralho”. Joana Lopes, que estaria à espera do namorado, terá pedido para lhe falarem com respeito.
A acusação diz que o arguido agarrou um agente pelos ombros e agrediu os polícias. O objectivo seria impedir a detenção da namorada, que já estaria agarrada ao pescoço do agente. O agente Hélio Marques relatou que a polícia pediu a Joana Lopes para se afastar e que a jovem terá acatado, “não muito satisfeita”. Depois, “sem razão aparente”, foi na direcção deste agente e agarrou-lhe o pescoço, quebrando-lhe os óculos. Hélio Marques garante não ter reagido, limitando-se a dizer à jovem para se acalmar. “Só a segurei pelo braço quando ela ia a quebrar o perímetro de segurança.”
Dois colegas – Carlos Pereira e Fábio Bacalhau - foram ajudar este agente, por verem que estaria a ser agarrado por Guilherme Guimarães. O arguido estaria “bastante agressivo” e desferiu “cotoveladas”, na altura da detenção. O agente Fábio Bacalhau fracturou a mão.
Já o jovem conta que tinha combinado jantar com a namorada e, quando vinha do trabalho, por volta das 20h, chegou ao local e viu Joana Lopes a ser “agarrada”, “maltratada” e agredida com um bastão. Garante que falou com calma aos agentes, dizendo-lhes que queria ir ter com ela. Segundo relata, deitaram a jovem grávida ao chão, disseram que se estavam a “borrifar” para filha dele, que era “preta”. O jovem, que nega ter agarrado o agente, os socos e os pontapés, também diz que lhe bateram na esquadra.
A namorada, Joana Lopes, desempregada, disse ter sido agredida de bastão e explicou que foi um agente que a puxou pela camisa, ao que a jovem reagiu, pondo-lhe a mão no peito. A irmã, Inês Lopes, estudante de 16 anos, garante que viu a irmã no chão: “Ela caiu ao chão e apertaram-lhe o pescoço, eu vi.”