Morreu médico liberiano que recebeu tratamento experimental contra o ébola

Enfermeiro britânico que apanhou a doença já está em hospital de Londres, enquanto um médico da Organização Mundial da Saúde também adoeceu. Número de vítimas num surto de ébola entre o pessoal médico não tem precedentes.

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Um centro de tratamento de ébola em Monróvia, na Libéria Reuters

“Falta de equipamento de protecção ou o seu mau uso, um número demasiado pequeno de médicos para um surto tão grande e a compaixão do pessoal médico que acaba por trabalhar muito mais horas do que as que são seguras” são algumas das razões que explicam um número tão grande de pessoal médico infectado, alerta a OMS num comunicado desta segunda-feira.

O médico liberiano Abraham Borbor, que morreu no domingo, foi um dos três que tomaram o medicamento experimental ZMapp na Libéria, juntamente com o liberiano Zukunis Ireland e o nigeriano Aroh Izchukwu. Na última quinta-feira, a OMS tinha declarado que dois dos doentes estavam melhores, mas um continuava em estado grave.

O ZMapp é composto por três anticorpos que atacam o vírus do ébola. Além destes três doentes, o medicamento só foi administrado a dois norte-americanos com ébola, que sobreviveram à doença e já saíram do hospital, e a um espanhol que acabou por morrer. A empresa de biotecnologia Mapp Biopharmaceutical, que produziu o medicamento, esgotou o seu stock.

Entretanto, as autoridades britânicas estão a procurar outros tratamentos experimentais que possam administrar a William Pooley, o primeiro britânico infectado pelo vírus. Este enfermeiro com 29 anos estava a trabalhar desde Março como voluntário num hospício em Freetown, na capital de Serra Leoa, antes de se voluntariar para um centro de ébola em Kenema, a terceira maior cidade da Serra Leoa, no Sudeste do país.

Domingo, depois de se ter percebido que tinha sido infectado pelo vírus, o britânico viajou de regresso aLondres num avião de carga da Força Aérea Real especialmente adaptado para a situação. “Will está a receber um tratamento excelente no Royal Free Hospital e não podíamos querer um melhor local para ele”, lê-se num comunicado da família, citado pela agência Reuters. No caso de se encontrar um tratamento experimental adequado, a Departamento de Saúde britânico explicou que a decisão da sua administração caberá aos médicos de William Pooley e ao próprio enfermeiro.

Um outro profissional da saúde da OMS foi infectado pelo vírus na Serra Leoa, anunciou a organização no sábado. Segundo uma fonte governamental, o trabalhador é senegalês, adianta a Reuters.  

A OMS declarou que era eticamente admissível aplicar tratamentos experimentais contra o ébola, no decorrer do maior surto de sempre, que já matou 1427 das 2615 pessoas infectadas desde Dezembro de 2013, na Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria. A OMS tem 400 profissionais no terreno mas continua a pedir ajuda de mais trabalhadores.

Na Serra Leoa, o Parlamento aprovou legislação que considera um crime, punido com até dois anos, esconder-se quem esteja infectado pelo ébola, segundo a Reuters. Anunciada no sábado, a medida é uma forma de combater o medo, o estigma e a negação, que levaram muitas famílias a esconder dos serviços de saúde familiares infectados, dificultando a luta contra este surto. 

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