Congo também declara casos de ébola, mas OMS ainda não confirmou

Se for mesmo o ébola, os novos casos não terão relação com o surto que atinge a Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria. As estirpes, segundo as autoridades congolesas, são distintas. Como o Congo faz fronteira com Angola, o risco de infecção neste país é agora moderado a alto.

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Trabalhadores da Cruz Vermelha Internacional a desinfectarem um hospital no Congo, em 2003, durante um surto de ébola Ivan Alvarado/REUTERS

“Declaro a existência de uma epidemia do vírus do ébola no sector de Djera, no território de Boende, no distrito de Tshuapa, na Província do Equador”, anunciou Félix Kabange Numbi, segundo a agência Reuters, numa mensagem difundida pela televisão pública do Congo. Esta região fica a 1200 quilómetros a norte de Kinshasa, a capital do país, e a doença que a está a afectar já provocou 13 mortos desde 11 de Agosto.

“Depois de analisar oito amostras recolhidas no terreno, o Instituto Nacional de Investigação Biomédica [congolês] acaba de confirmar que duas são positivas para o vírus do ébola”, acrescentou Félix Kabange Numbi, citado pela agência AFP.

Ainda segundo o ministro da Saúde, o resultado de um dos casos foi positivo para a estirpe do Sudão do ébola, enquanto o outro caso é de uma estirpe que cruza as estirpes do Sudão e do Zaire.

Desde a descoberta pela primeira vez do vírus do ébola, em 1976, numa região perto do rio Ébola, na actual República Democrática do Congo, antigo Zaire, que foram identificadas cinco estirpes (a de Bundibugyo, do Zaire, de Reston, do Sudão e da Floresta Taï). Os morcegos frutívoros deverão ser o reservatório natural do vírus do ébola e a caça de outros animais infectados, como os chimpanzés, é uma forma de transmissão da doença para as pessoas.

A estirpe do Zaire do vírus do ébola, a mais letal, é a que está a atingir quatro países de África Ocidental: Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria, onde este surto de uma dimensão nunca antes vista, iniciado em Dezembro de 2013, já infectou 2615 e matou 1427 segundo dados da OMS de sexta-feira passada. Sendo estirpes diferentes, o surto de África Ocidental e o do Congo não estarão assim relacionados. “[O surto] não tem nenhuma ligação com aquele que grassa na África Ocidental”, sublinhou Félix Kabange Numbi, segundo a AFP.

Risco por vizinhança
Como Angola faz fronteira a norte com o Congo, e ainda que o surto seja numa região do Norte congolês, o país lusófono passou agora a integrar o grupo de países de risco “moderado a alto” de infecção por ébola. “Até há uma semana, Angola era considerada como um país de baixo-médio risco. Neste momento entra para o grupo de países com risco moderado a alto, porque tem um país vizinho com a epidemia confirmada”, explicou à agência Lusa a directora nacional de Saúde Pública angolana, Adelaide de Carvalho, referindo-se à classificação internacional sobre a propagação da doença.

Face a este “risco de proximidade”, as autoridades angolanas estão a “redobrar” e a “acelerar” a mobilização de equipas para a vigilância e controlo da doença, em particular na fronteira: “É o redobrar da vigilância, estamos a apelar aos nossos técnicos para estarem muito mais atentos a qualquer indício”, disse Adelaide de Carvalho.

Na quarta-feira, o Governo congolês tinha enviado para a região de Djera uma equipa de especialistas do Instituto Nacional de Investigação Biomédica, chefiada por Félix Kabange Numbi, na sequência de relatos de mortes no Norte do país devido a uma doença misteriosa, que provocava hemorragias. Ora o vírus do ébola também provoca hemorragias, levando muitos dos doentes até à morte dessa forma.

Este já é o sétimo surto de ébola no Congo. O último, entre Agosto e Novembro de 2012, no Nordeste, provocou oficialmente 36 mortos. “A experiência adquirida nas seis epidemias anteriores do ébola será utilizada para conter esta doença”, garantiu o ministro, acrescentando que o surto está “circunscrito ao sector de Djera”.

“A doença já matou 13 pessoas, cinco das quais agentes de saúde, 11 pessoas doentes estão em isolamento e mais de 80 [pessoas que tiveram com os infectados] contactos foram identificadas e seguidas por uma equipa de especialistas”, especificou o ministro.

O sector de Djera encontra-se agora em quarentena e as forças da ordem vão ter aí um papel. As autoridades do país vão pôr em prática outras medidas, como a instalação de um centro de tratamento e de um laboratório móvel (para garantir o diagnóstico em tempo real) na aldeia de Lokolia, onde está o epicentro do surto. A procura activa de casos e o seu acompanhamento, a desinfecção das casas de pessoas infectadas, a dotação de todos os portos e aeroportos da província do Equador de termómetros a laser ou a proibição de todas as actividades de caça em todo o distrito de Tshuapa são outras medidas anunciadas pelo ministro, refere o jornal congolês La Prospérité.

A OMS ainda não confirmou o anúncio das autoridades do Congo. Na última quinta-feira, já depois dos relatos vindos do Norte do país, a OMS disse que estes casos eram de uma gastroenterite hemorrágica. No domingo, um porta-voz da OMS, citado pela Reuters, afirmou que a organização não podia confirmar os resultados dos testes das autoridades congolesas. Já esta segunda-feira, a OMS anunciou o envio do equipamento de protecção. “O ministro da Saúde declarou a existência do surto e nós estamos a tratá-lo como tal”, respondeu à Reuters Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS.

Os Médicos Sem Fronteiras já estão no sector de Djera há uma semana, com uma “equipa de avaliação” da situação, disse à AFP Amandine Colin, desta organização no Congo. E, assim que possível, vão enviar pessoal médico para ajudar a tratar os doentes e lutar contra a propagação da doença.
 

   

 

   

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