ACNUR lança grande operação para enviar apoio humanitário para Norte do Iraque
A ajuda vai ser enviada por avião durante quatro dias, seguindo depois por barco do Dubai, via Irão, e por estrada via Turquia e Jordânia nos dez dias seguintes, segundo o porta-voz da Agência da ONU para refugiados (ACNUR) Adrian Edwards.
“Este é um esforço muito, muito significativo e é certamente um dos maiores de que me lembro em bastante tempo”, comentou o porta-voz. “Esta é uma enorme crise humanitária. Continua a afectar muita gente.”
O Programa Alimentar Mundial (PAM) diz já ter servido entretanto mais de meio milhão de refeições a deslocados, a maioria dos quais fugiu à pressa não conseguindo levar nada.
Milhares de pessoas (1,2 milhões este ano, estima o ACNUR) ficaram deslocadas fugindo aos combatentes do Estado Islâmico (EI), um grupo radical que avançou pelo território atacando minorias religiosas como os Yazidi (um culto pré-islâmico) ou cristãos. Para fugir destes jihadistas, muitas destas pessoas acabaram por se refugiar na Síria, ainda que este país esteja também em guerra.
Depois de milhares de yazidis ficarem cercados nas montanhas Sinjar, sob um Sol escaldante, sem sombras, abrigo, água ou comida, os Estados Unidos começaram a lançar ajuda humanitária de aviões e também a levar a cabo ataques aéreos contra os combatentes do EI. Esta semana, forças curdas e iraquianas anunciaram o retomar da barragem de Mossul, que tinha sido um ganho importante para os islamistas. Mas muitos dos deslocados continuam a não ter abrigo, nem água, nem comida, diz o ACNUR, sublinhando ainda o trauma pela perda de familiares para além de tudo o resto.
O EI ganhou terreno na Síria e no Iraque, aproveitando-se do caos da guerra civil na Síria e do descontentamento de muitos sunitas com um Governo controlado pelos xiitas no Iraque. Com os ataques aéreos, os EUA participaram pela primeira vez numa acção directa contra o EI, e foi o apoio militar norte-americano que permitiu às forças curdas (peshmerga) reverter a onda de avanços de um grupo que começava a parecer imparável.
O EI, que tem focado a sua acção em ganhos rápidos no terreno e anunciou a criação de um califado, ameaçou agora os norte-americanos, avisando que estes poderão ser atacados “em qualquer lugar”. Um vídeo posto online pelo movimento mostrava imagens de soldados americanos mortos na guerra no Iraque acompanhado das palavras: “Vamos afogar-vos em sangue.”
EI é "inimigo nº 1 do Islão"
O EI está a tornar-se um perigo na região, unindo contra si desde os EUA ao Irão. O grupo xiita libanês Hezbollah, apoiado pela República Islâmica, baixou a idade mínima dos seus combatentes para poder responder melhor a esta frente e manter os seus guerrilheiros em caso de confronto com Israel. Vendo-se a braços com o seu apoio ao regime do Presidente Bashar al-Assad e com a necessidade de conter o EI na Síria e ainda proteger as fronteiras do Líbano que poderiam ser ameaçadas, a milícia está a enviar combatentes com 16 anos para o terreno, segundo o diário norte-americano Christian Science Monitor.
“Temos de acreditar que há um perigo existencial real a ameaçar-nos a todos e que isto não é uma piada”, disse o xeque Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, enumerando acções do EI: “Controlam agora grandes partes do território da Sìria e do Iraque e assumiram o controlo de campos [de petróleo e gás] e barragens… Os massacres que foram cometidos prejudicaram em primeiro lugar os sunitas e não pouparam ninguém no Iraque, como curdos, yazidis, xiitas, cristãos, turcomanos”, enumerou. “Este exemplo não tem nada a ver com o Islão”, declarou Nasrallah.
Quem também expressou uma opinião semelhante foi o grande mufti da Arábia Saudita. O EI, assim como a Al-Qaeda, são “o inimigo número um do Islão”, afirmou. “Ideias extremistas e terrorismo, que espalham podridão pela Terra, não são de modo nenhum parte do Islão, são sim o seu inimigo número um e os muçulmanos são a sua primeira vítima.”