Ordem diz que médicos estão a trabalhar como numa "fábrica de salsichas"
Secção do Centro da Ordem dos Médicos diz que profissionais estão a atingir "níveis de exaustão muito grandes"
"A classe, que não sei se algum dia possa ter sido classificada de privilegiada, tem agora muitos profissionais a atravessarem dificuldades", frisou. Os médicos "estão a atingir níveis de exaustão muito grandes e têm pouco tempo para executarem as suas tarefas específicas. É como se fosse uma fábrica de salsichas", criticou, recordando que os profissionais têm hoje "muitas outras tarefas que não têm que ver com a sua actividade clínica".
De acordo com Carlos Cortes, "os profissionais acabam por estar dedicados completamente a produzir", deixando também de "ter tempo para dialogar, conversar e debater questões". Face a essas constatações, foi criado "um grupo de trabalho amplo, com um programa próprio de intervenção sobre [a síndrome de] burnout" e está também a ser desenvolvido um gabinete de mediação de conflitos por estes "terem disparado e a gravidade e consequências" dos mesmos serem mais significativas.
Por "a ordem se ter confrontado com muitas situações de conflito", está a ser criado um gabinete de mediação que pretende "regular os conflitos e conseguir que estes não cheguem a situações extremas como hoje existem", afirmou Ana Paula Cordeiro, do Gabinete de Apoio ao Médico da Secção Regional do Centro da OM, acrescentando que os conflitos surgem "entre médicos, médicos e utentes, médicos e outros profissionais e médicos e a hierarquia". "Caso se actue numa fase inicial será mais fácil ultrapassar os conflitos", salientou, explicando que este projecto irá também envolver profissionais da área jurídica.
Em relação ao "burnout", o Gabinete de Apoio ao Médico irá aplicar um questionário para todos os médicos e alunos de medicina do Centro para "se fazer o ponto de situação e identificar o que é necessário fazer para prevenir situações", adiantou Ana Paula Cordeiro. Esta síndrome, que se traduz em exaustão física e emocional, "condiciona e dificulta as actividades do dia-a-dia dos profissionais", havendo a percepção de que "há muitas situações, mas que os profissionais têm dificuldade em se exporem", contou.
Além destes dois projectos, a Secção Regional do Centro continua a desenvolver o Programa de Apoio Integrado ao Médico (PAIM), criado há cerca de dez anos, com o objectivo de "sinalizar médicos com problemas" de saúde, de dependência ou socioeconómicos. A iniciativa pretende apoiar os profissionais de saúde, que muitas vezes têm problemas "na relação com a sua própria doença". "Por um lado fazem auto tratamento e por outro sentem-se reticentes em pedir ajuda", esclareceu.
No total, o PAIM recebeu oito casos em 2014, dois dos quais por dificuldades financeiras, tendo registado um total de 157 casos entre 2007 e 2013. Segundo Ana Paula Cordeiro, poderá haver mais casos, contudo estas questões "são melindrosas", por o profissional ter de "dar a conhecer a sua fragilidade".