EUA afastam missão para resgatar yazidis de Sinjar, ONU decreta emergência máxima
Grupo de reconhecimento das forças especiais norte-americanas esteve nas montanhas iraquianas e diz ter encontrado menos refugiados do que se calculava.
A missão de reconhecimento, transportada de helicóptero para Sinjar, passou 24 horas no topo das montanhas e descobriu ali “menos yazidis do que se temia”, a viver em “melhores condições” do que os relatos de alguns familiares faziam crer, revelou o almirante John Kirby, porta-voz do Pentágono, afirmando que os voos humanitários que os EUA e outros países aliados têm feito sobre a montanha têm conseguido aliviar o sofrimento de quem ali continua.
Kirby não forneceu também qualquer estimativa para o número de civis que, depois de terem fugido das suas aldeias, continuam refugiados em Sinjar – o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) tinha admitido a presença de 20 a 30 mil pessoas cercadas no cimo das montanhas, um responsável norte-americano ouvido pelo New York Times calcula que sejam alguns milhares. Revelou apenas que, graças aos ataques aéreos lançados desde o fim-de-semana pela aviação americana contra posições dos extremistas e aos esforços dos combatentes curdos no terreno, “milhares de yazidis conseguiram sair das montanhas a coberto da noite durante os últimos dias”. “Quebrámos o cerco do Estado Islâmico às montanhas de Sinjar”, congratulou-se nesta quinta-feira o Presidente norte-americano, Barack Obama, dizendo esperar que nos próximos dias todos os que querem partir o possam fazer.
Segundo o ANCUR, 35 mil pessoas, quase todos membros daquela minoria curda, tinham chegado até quarta-feira ao Curdistão iraquiano depois de uma viagem de cem quilómetros que os levou de Sinjar a território sírio, e daí até posto fronteiriço de Fishkhabour. Muitos, depois de atravessarem a ponte pré-fabricada, não têm forças para seguir caminho até aos campos improvisados pelas autoridades curdas ou até Dohuk, capital da província com o mesmo nome onde todos os espaços públicos se transformaram em abrigos para os deslocados.
As conclusões da missão de reconhecimento, escreve o NY Times, são um alívio para o Presidente Barack Obama, muito reticente quanto a um novo envolvimento militar no Iraque – a ordem para os ataques aéreos só foi dada perante a ameaça dos combatentes do Estado Islâmico ao Curdistão e ao êxodo das minorias que há séculos habitam as planícies do Nínive. Mas a decisão de abortar a operação de resgate pode tornar-se embaraçosa face à avaliação que é feita pelas organizações no terreno.
Nesta quinta-feira, as Nações Unidas accionaram o seu nível mais elevado de emergência para responder à crise humanitária no Iraque, o que lhe permite acelerar o envio de ajuda e de fundos para acorrer ao país. O “nível 3” de emergência está em vigor em apenas três outros países (Síria, Sudão do Sul e República Centro Africana), mas as agências da ONU estão com dificuldades para responder a uma crise que se agrava a cada hora.
Só na província de Dohuk há mais de 400 mil deslocados, mais de metade deles cristãos e yazidis que chegaram à zona nas duas últimas semanas. Há outras dez mil pessoas num campo que está a ser montado pelo Crescente Vermelho do outro lado da fronteira síria. Num e noutro lado falta comida, água e famílias inteiras que depois de terem testemunhado atrocidades cometidas pelos jihadistas e da longa fuga não têm sequer com que se abrigar do sol inclemente. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que na véspera admitira enviar helicópteros para ajudar num resgate aéreo, assegurou que a missão americana e britânica vai concentrar-se no envio de ajuda para os campos de refugiados no Curdistão.