Governo admite que taxa de crescimento “fica aquém do desejável”

Ministro da Presidência realça que Portugal teve o segundo crescimento mais alto da UE, mas rejeita “euforia” sobre crescimento de 0,6% do PIB. Oposição avisa que metas do Governo estão comprometidas.

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Marques Guedes falou no final da reunião do Conselho de Ministros Daniel Rocha

“Não há, portanto, qualquer tipo de euforia relativamente a estes dados, pelo contrário: há um sentido de responsabilidade e o sentido de consciência plena de que é preciso continuar a trabalhar com muito cuidado”, afirmou Luís Marques Guedes no final da reunião do Conselho de Ministros. Porque se se os números abrandarem, soluçarem ou voltarem para trás, enumerou o ministro, isso sim, “seria dramático para os portugueses”, avisou.

Mas Luís Marques Guedes congratulou-se também com o facto de Portugal ter registado “a segunda média mais alta do seio da União Europeia”, com 0,6% enquanto a média a 28 é de 0,0% - ou seja, estagnação, vincou. A boa notícia, assinalou, é que também a Espanha registou um crescimento económico, o que se torna importante quando aquele vizinho “é o nosso principal parceiro comercial”.

“Ficámos bem acima da média europeia quer em cadeia, quando comparada a evolução do primeiro para o segundo trimestre, quer na variação homóloga, entre o segundo trimestre de 2014 e 2013”, descreveu o ministro, sinalizando que no último caso o aumento foi de 0,8%.

Um cenário que demonstra que “todo o trabalho que tem sido desenvolvido pela economia nacional, pelas empresas e trabalhadores portugueses tem vindo a dar resultados”, disse Marques Guedes. E acrescentou que Portugal se encontra “numa posição económica de evolução e crescimento da economia bastante mais favorável do que nos últimos três anos”, e tem mostrado “uma resiliência maior àquilo que são as dificuldades sentidas no conjunto da própria Europa”.

Marques Guedes aproveitou para criticar comentadores e oposição que no primeiro trimestre “se apressaram rapidamente a dizer que a situação estava invertida e que a economia nacional se encontrava à beira, de novo, de uma situação de recessão. Estes resultados vêm desmentir categoricamente essas análises.” E deixou o recado: “Era bom que houvesse um reconhecimento desse erro e de falhanço de expectativas por parte de quem se apressou a condenar a recuperação económica portuguesa."

CDS entusiasmado
O parceiro de coligação, o CDS-PP foi mais expansivo: o líder da bancada do CDS-PP considerou os números do INE “muito significativos” e também dirigiu o mérito para o tecido empresarial.

"Esta é uma notícia positiva e é mérito das empresas, dos empresários, dos trabalhadores portugueses, que conseguiram numa altura em que a zona euro tem um crescimento nulo em termos consecutivos e um crescimento homólogo abaixo de Portugal, eu creio que estes números são muito significativos", disse à agência Lusa Nuno Magalhães.

"Devem servir de motivação para que num momento dificílimo como o que Portugal está a passar possamos continuar com este crescimento", disse. Lembrou a já anunciada descida sensível do desemprego, ainda que mantendo valores elevados e o “aumento de 8% nas exportações e de uma execução de fundos comunitários na agricultura, absolutamente recorde de 86%. Por isso, estes números hoje divulgados são muito importantes", disse.

Segundo o líder parlamentar do CDS, estes números vêm revelar que alguns políticos estavam enganados quando se referiam a uma recuperação económica de "sol de pouca dura".

"Positivo", admite o PS
"O PS regista como positivo o crescimento da economia portuguesa, é muito importante que o país esteja a crescer, que a nossa economia esteja a crescer, porque isso é muito importante para todos os portugueses", afirmou o dirigente socialista Óscar Gaspar, em declarações aos jornalistas na sede do PS, em Lisboa.

Ainda a propósito destes números, o dirigente socialista admitiu que, apesar de tudo, o crescimento registado ainda não é aquele que todos gostariam, e lamentou que o Governo não tivesse tido mais cedo "políticas de incentivo da economia e políticas que, mais do que austeridade, transmitissem confiança à economia nacional e aos empresários".

"Invenção do Governo", acusa o Bloco
O Bloco de Esquerda olha para os números de maneira diferente. A deputada Mariana Mortágua, que pertence à Comissão parlamentar de Economia, afirmou à Lusa que os números "mostram claramente um abrandamento da economia portuguesa".

Os 0,8%, "num contexto em que a economia caiu tanto no passado", mostram que a recessão não compensa e que é preocupante que cada vez mais o crescimento seja "tendencialmente nulo". O abrandamento da economia, acrescentou, deveu-se a uma quebra na procura interna e a uma quebra no consumo, "o que tem directamente a ver com a austeridades mas também com a instabilidade que as pessoas sentem perante a expectativa de novos cortes" salariais.

"O que temos é uma economia que não consegue crescer. Pode crescer zero ponto qualquer coisa mas está sempre muito próxima do crescimento nulo. A ideia da recuperação económica foi uma invenção do Governo, foi propaganda, e temos a prova, trimestre após trimestre, de que a austeridade não funciona como modelo de crescimento das economias, de criação de emprego e de perspectivas de futuro. O risco que corremos hoje, se continuarmos com austeridade, é o de ter uma economia estagnada, na melhor das hipóteses, nos próximos 10 anos", vincou Mariana Mortágua.

Meta do Governo está comprometida, avisa o PCP
Para o deputado comunista José Lourenço, os números "vêm confirmar um claro abrandamento da nossa economia [no primeiro trimestre o aumento da riqueza produzida foi de 1,3%] e desmentem o milagre económico de que o Governo falava no último trimestre de 2013".

Mas "o mais relevante" é que fica "inevitavelmente" comprometida "a meta do Governo [para o crescimento da economia] este ano, que era 1,2%", sublinhou à Lusa o comunista, que prevê que o cenário piore nos próximos meses.

"Não podemos esquecer que estes dados são anteriores ao escândalo do BES e, por isso mesmo, vêm confirmar a falência das políticas deste Governo, assentes em cortes nos salários e nas pensões, na redução dos direitos dos trabalhadores e numa emigração maciça", disse.

José Lourenço, que é membro da Comissão dos Assuntos Económicos, lembrou que a economia portuguesa caiu 6% nos últimos três anos, e que a ligeira retoma agora divulgada ainda não contabiliza a crise do BES. "Os impactos económicos inevitáveis resultantes da profunda crise financeira actual, provocada pelo escândalo BES, fazem prever um segundo semestre ainda bem pior do que aquele que agora terminou", afirmou.

De acordo com o deputado do PCP, o crescimento da economia portuguesa "beneficiou em parte da melhoria que se vinha a registar nas economias europeias", mas "é uma questão meramente conjuntural" face ao quadro apresentado hoje, em que a Alemanha e a Itália registaram quedas das suas economias no segundo trimestre e a França ficou estagnada.