Problemas do BES são "uma adversidade" para a economia, diz ministro
Pires de Lima insistiu em que os depositantes "têm todas as razões para confiar no sistema financeiro".
"A economia portuguesa, com maiores ou menores adversidades – e é evidente que este caso é uma adversidade –, está a vencer os desafios mais importantes que tinha estabelecido para 2014", salientou Pires de Lima, à margem da apresentação de um estudo sobre a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento. "Está a crescer, a taxa de desemprego continuou a descer no mês de Junho e a expectativa que eu tenho é que este crescimento económico, com maior ou menor adversidade, esta redução do desemprego possam ter continuidade ao longo do segundo semestre de 2014 e ao longo de 2015", disse.
O BES anunciou na quarta-feira um resultado líquido negativo recorde de 3577,3 milhões de euros entre Janeiro e Junho.
Pires de Lima afirmou que o Ministério da Economia está a "acompanhar a situação com muita atenção", mas salientou que as entidades regulatórias já disseram o que tinham a dizer sobre esta matéria, insistindo que "ao nível dos depositantes as pessoas têm todas as razões para confiarem no sistema financeiro português e no BES enquanto instituição".
Declarando não querer "ser submerso por uma agenda depressiva ou negativa", preferiu deixar uma "palavra de confiança" para o sector privado e aos empresários que estão "a lutar para puxar Portugal para cima".
Noutras reacções às contas do banco, a coordenadora do BE Catarina Martins exigiu a criação de leis para acabar com um "poder político subjugado aos interesses das finanças", defendendo que "quem fez fortuna à custa do buraco do Banco Espírito Santo" tem de o pagar.
"No processo do buraco do BES, o problema é que alguém ficou com o que não é seu. Não podem ser os contribuintes a pagar o buraco do BES. Quem tem fortunas feitas à custa de escândalos como estes tem de pagar com as suas fortunas o buraco que causou", defendeu, em declarações aos jornalistas, no Porto, à margem de uma visita ao Centro de Linguística.
Catarina Martins afirmou ser "preciso recuar ao governo de Maria de Lurdes Pintassilgo para encontrar um que não tenha tido alguém que está também na administração do BES" para pedir o fim de "um poder político subjugado aos interesses das finanças" que "fecha os olhos" aos seus "desmandos".
"Não se pode repetir um BPN [Banco Português de Negócios]. Não pode ficar impune quem fez o buraco e fortuna à custa destas fraudas e é preciso novas leis que separem o poder da finança do poder político e que não permitam a opacidade", resumiu a coordenadora do BE.
Já o secretário-geral da UGT disse que está a acompanhar a crise do BES "com grande preocupação", tendo em conta que estão em causa perto de sete mil postos de trabalho. "Se se descobrem novos dados que vêm criar questões criminais que o Banco de Portugal detectou, então a Justiça que faça o seu trabalho. Nós vamos limitar-nos a acompanhar e, acima de tudo, com grande preocupação, defender quase sete mil postos de trabalho", disse Carlos Silva.
O dirigente sindical falava aos jornalistas no final de uma reunião com o secretário de Estado dos assuntos Fiscais, Paulo Núncio, sobre a reforma do IRS.
Carlos Silva reiterou que "mantém na íntegra toda a consideração e respeito" por Ricardo Salgado, com quem trabalhou durante 26 anos, enquanto funcionário do BES.
"Nunca tivemos qualquer problema e tivemos sempre uma ligação com grande respeito. O que está a acontecer tem a ver com a Justiça e esta deverá ser célere no juízo que emitir", reforçou.
O responsável frisou que o BES está agora com uma nova administração, defendendo que é necessário "dar uma margem de confiança e de manobra" ao novo Conselho de Administração para a estabilização da instituição financeira.