Rússia minimiza sanções da UE e dos EUA e já começou a contra-atacar
Primeira reacção de Moscovo foi proibir importação de frutos e vegetais da Polónia. Segundo maior banco russo declara-se preparado para obter empréstimos noutros mercados. Diplomacias europeia e norte-americana procuram somar apoios.
No caso da UE, o ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo declarou que as medidas “anti-russas” anunciadas na terça-feira levarão “inevitavelmente” a uma subida dos preços da energia.
“A política da UE não assenta em factos verificados mas é ditada por Washington”, acusa, num comunicado, o ministério russo, que vê nas sanções europeias um sinal de “incapacidade” para ter “um papel autónomo nos assuntos mundiais”
“É um passo impensado e irresponsável. Vai inevitavelmente levar a um aumento dos preços”, diz o comunicado, citado pelas agências noticiosas.
Pouco antes, a diplomacia russa tinha comentado a política de sanções dos EUA, classificando-a como “destrutiva e de vistas curtas” e acrescentando que as medidas “ilegítimas” adoptadas pelos EUA terão consequências “muito concretas” para Washington, que não foram especificadas.
O agravamento das sanções é justificado pelos EUA e a UE com a política russa para a Ucrânia e precipitado pelo abate, presumivelmente por separatistas pró-russos, do voo MH17 da Malaysia Airlines, que provocou a morte de 298 pessoas.
As sanções norte-americanas visam particularmente os sectores da banca e da defesa. A UE decidiu limitar o acesso dos bancos estatais russos aos seus mercados de capitais, suspender os negócios de armamento e a venda de tecnologia petrolífera.
Primeira reacção
O primeiro sinal de resposta da Rússia às sanções da UE foi a proibição da importação de frutos e vegetais da Polónia. As autoridades russas invocaram problemas de certificação sanitária e aludiram à possibilidade de alargar a medida a toda a união.
A proibição de importações produz efeitos a partir de sexta-feira, 1 de Agosto. A Rússia compra anualmente mais de dois mil milhões de euros de produtos frescos à UE, que é também o seu principal parceiro comercial. As trocas foram em 2013 de 326 mil milhões de euros.
No que terá sido um dos primeiros comentários ao agravamento de sanções, Grigori Karassine, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de Moscovo, disse esta quarta-feira, ao diário Kommersant, que vão ajudar o país a reforçar-se. “A Rússia terá uma economia mais eficaz e uma sociedade mais sã e livre de ilusões”, disse.
A imprensa também minimizou o impacto de sanções que considera poderem beneficiar politicamente o Presidente, Vladimir Putin. “Ou não vão funcionar, ou terão um efeito visível num futuro longínquo”, escreveu o jornal de economia Vedomosti.
O diário Izvestia entende que as pressões dos EUA e da UE “não farão mais do que aproximar o povo das autoridades, porque serão interpretadas como uma tentativa dos Estados Unidos de conseguirem uma vitória sobre a Rússia”.
Uma sondagem publicada nesta quarta-feira pelo centro independente Levada parece dar-lhe razão, ao indicar que a maioria dos russos, 58%, não estão preocupados com o isolamento internacional e 61% não se incomodam com as sanções. O estudo foi realizado entre 18 e 21 de Julho e os inquiridos entendiam – e era essa a realidade na altura – que as sanções visavam apenas a elite política.
Ainda que o discurso oficial e as reacções na imprensa minimizem o impacto das medidas, Nikai Petrov, da Higher School of Economics, de Moscovo, considera, citado pela AFP, que elas “atingem directamente a economia” e os seus efeitos “vão ser rapidamente sentidos pelo comum dos russos”.
A preocupação mais imediata do Governo russo vai para a banca – cinco das seis maiores instituições financeiras do país são agora objecto de sanções norte-americanas e a UE proibiu a compra de acções e obrigações de bancos estatais russos. “Todas as medidas serão tomadas, em caso de necessidade, para apoiar os bancos”, indica um comunicado do banco central.
O VTB, segundo maior banco russo, que tem operações em Londres e Nova Iorque, e é um dos visados pelas sanções, anunciou estar preparado para contrair empréstimos noutros mercados financeiros que não o europeu ou norte-americano.
Somar apoios
Já esta quarta-feira, a Noruega, que não faz parte da UE, anunciou a intenção de se associar às sanções europeias contra a Rússia, designadamente no campo energético. A petrolífera Statoil tem uma parceria estratégia com a Rosneft russa para a prospecção de hidrocarbonetos no Árctico e no extremo-oriente.
Logo na terça-feira, o Canadá tinha anunciado novas sanções, que não especificou, contra a Rússia, cinco dias depois de ter alargado a lista de pessoas visadas pelos anteriores pacotes de sanções.
A Reuters noticiou entretanto que a UE, e concretamente a Alemanha, estão a tentar convencer governos de países europeus que não integram a união a associarem-se às sanções. Uma porta-voz do ministério alemão dos Negócios Estrangeiros confirmou contactos com a Suíça e a Turquia.
O mesmo está a ser feito pelos EUA junto de governos asiáticos. Mas a tarefa não será fácil. Na fase anterior, só o Japão e a Austrália adoptaram sanções dirigidas a pessoas e entidades russas e ucranianas. Na Ásia está, ao contrário, o que pode ser o aliado-chave da Rússia no actual contexto: a China.
Num sinal de que a coesão da UE pode não ser tão forte como parece, a República Checa, que apoia as actuais sanções, mas se opõe a medidas adicionais, manifestou-se preocupada com os efeitos de uma guerra comercial prolongada que levaria, nas palavras do primeiro-ministro, Bohuslav Sobotka, à criação de uma nova Cortina de Ferro.