Combates intensos na zona do Leste da Ucrânia onde caiu o avião

Exército avança sobre posições separatistas. Investigadores não chegam aos destroços e corpos podem não ser resgatados. ONU fala em crimes de guerra.

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O avião foi derrubado a 17 de Julhoe ainda há destroços e corpos por recolher AFP

“Temos que considerar essa possibilidade”, disse Andrew Colvin, que dirige a polícia federal da Austrália, o país que juntamente com a Holanda está à frente da investigação ao desastre em que morreram 298 pessoas — foram os países que perderam mais cidadãos, mais de metade dos passageiros era holandesa. O voo MH17 voava de Amesterdão para Kuala Lumpur e foi abatido por um míssil a 17 de Julho; não está ainda apurado quem o disparou.

Numa conferência de imprensa em Camberra, na Austrália, Colvin disse que continuam a ser feitos esforços, em coordenação com a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), para que os investigadores forenses cheguem ao local onde o avião caiu. Os destroços estão espalhados num raio de 15 quilómetros no coração do terreno de guerra e ir lá é “demasiado perigoso” devido aos combates.

Esta segunda-feira, o Governo de Kiev anunciou estar a avançar no terreno, tendo conquistado no final da semana passada algumas localidades que estavam nas mãos dos separatistas, em concreto Chakhtarsk e Torez. Tomaram ainda, segundo as autoridades de Kiev, uma colina estratégica, Savour-Moguyla, e os combates são intensos junto de Snijné e Pervomaïsk.

O prosseguimento das operações militares é um impedimento à investigação no local do acidente. No domingo, a equipa de especialistas forenses fizera uma primeira tentativa para chegar à extensa zona de impacte, mas desistiu, tendo regressado a Donetsk (cidade nas mãos dos separatistas); o cenário repetiu-se agora, com os técnicos a voltarem para trás quando estavam já muito perto do local.

De manhã, relata a Reuters, uma caravana de 20 viaturas, com a equipa de investigadores forenses e médicos legistas e ainda jornalistas, saiu de Donetsk escoltada pelos separatistas pró-russos (lutam para quebrar os laços com Kiev e passar para a esfera de influência, ou mesmo para o território, da Rússia). Os jornalistas foram mandados para trás a 12km da zona de impacte, já nas proximidades de Chakhtarsk; o resto da caravana voltou para trás logo a seguir devido ao barulho de artilharia pesada.

A AFP diz que os médicos legistas holandeses ainda conseguiram, nos primeiros dias, entrar no perímetro em causa, mas a restante equipa já não pode ver o local do acidente ou recolher provas. A entrada em cena desta equipa de 49 pessoas é considerada crucial para se conseguirem provas que permitam esclarecer o que derrubou o avião — no fundo, a pergunta a que têm que responder é “quem disparou o míssil”. Mas, tão importante como a atribuição de culpas, iriam também procurar os corpos que faltam ou o que resta deles — estão em decomposição no meio de destroços muito mexidos; as agências noticiosas continuam a pôr em linha fotografias novas de moradores a observarem de muito perto o que resta do avião que caiu junto às suas casas.

Num comunicado, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, voltou a considerar que é “imperativo” que as partes em conflito — separatistas e Governo de Kiev — criem condições para que seja realizado “um inquérito rápido, minuncioso e independente” à queda do avião que, disse, pode vir a “configurar-se como um crime de guerra”.

As caixas negras do avião foram entregues pelos separatistas, perante testemunhas, a representantes da Malásia que, de seguida, as passaram ao gabinete de investigação de desastres aéreos do Reino Unido, para que sejam retirados os dados nelas contidos. De seguida, e conforme ficou estabelecido, esses dados serão passados às autoridades holandesas para análise e conclusões. Mas esta segunda-feira o Conselho Nacional de Segurança da Ucrânia anunciou que as caixas negras revelaram que houve uma “descompressão” ligada a uma “forte explosão” a bordo do Boeing. “Segundo os especialistas encarregados de estudar as causas [do desastre], a causa da explosão foi uma descompressão ligada a uma forte explosão”, disse um porta-voz do Conselho Ucrâniano,  Andriï Lyssenko.

Contactado pela AFP, o organismo holandês encarregado do inquérito, o OVV, não confirma ou desmente estas informações. “Preferimos esperar até termos uma ideia mais completa do que se passou antes de publicarmos alguma informação”, disse a porta-voz, Sara Vernooij.

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