"O que vimos foi formidável, mas em 2015 será ainda melhor"
Em entrevista à AFP, Christian Prudhomme, director do Tour, mostrou-se satisfeito com a 101.ª edição da prova e deixou elogios a Nibali.
Como qualifica este Tour 2014?
Ficaram-me várias imagens. A elegância e o olhar de Vincenzo Nibali que me fizeram pensar muito em Felice Gimondi [vencedor do Tour em 1965] e que correu de uma forma muito inteligente. Os franceses, dois no pódio, algo que não acontecia há 30 anos. A partida de Yorkshire, extraordinária. As pessoas vieram a pé, de bicicleta, de autocarro. Só se via a multidão e os ciclistas. Da mesma forma que demos um grande salto com a partida de Londres em 2007, continuámos a subir com Yorkshire.
Podemos falar de um renascimento?
Adorei a corrida, nunca tivemos verdadeiramente aquela cena clássica de uma fuga apanhada a cinco ou dez quilómetros da chegada. As quedas e os abandonos surpreendentes de Chris Froome e Alberto Contador fizeram com que mais gente perdesse o medo de atacar. Não houve uma equipa super-poderosa que conseguisse bloquear o pelotão.
O abandono dos favoritos Froome e Contador ofusca o brilhantismo da vitória de Nibali?
Não estou de todo convencido que haveria outro vencedor se esses estivessem na corrida. Nibali já tinha muito avanço antes de eles desistirem. Construiu o seu sucesso de forma metódica e com muita inteligência. No ano passado, ele conseguiu uma reviravolta na chegada aos Pirenéus na Vuelta e disse-me isto: ‘No ano que vem quero fazer o Tour e vou lá para ganhar’. Isto quer dizer que ele estava obcecado pelo Tour. Ele dominou de uma forma constante, sem ser esmagador. Estava em todo o lado. A sua demonstração nos pavés foi excepcional.
Nibali falou de um percurso feito à sai medida…
Não fazemos o percurso para ser à medida deste ou daquele corredor. O essencial do percurso já está desenhado antes da edição anterior.
O insucesso da Sky pode provocar alguma mudança radical?
Vamos ver. Quando uma equipa perde o seu líder – e que líder – a vida não será a mesma. A Tinkoff soube reagir, a Sky, menos. Fico satisfeito ao pensar que no próximo ano teremos cá Froome, Contador, Quintana, Nibali e os franceses. Foi a primeira vez que, a dez dias da chegada pensei: o que vimos foi formidável, mas em 2015 será ainda melhor.
É o regresso dos países tradicionais?
Tenho a convicção de que os países tradicionais do ciclismo devem ter campeões. Da mesma maneira que é essencial que os novos países também os tenham. Foi o que aconteceu com Cadel Evans em 2012 para a Austrália, depois com Bradley Wiggins e Chris Froome para a Grã-Bretanha. Se há um desporto onde as raízes são importantes, é o ciclismo.
Este Tour também marca uma mudança para o ciclismo francês?
É um trampolim para os próximos anos. É uma nova era que se abre para as nações tradicionais, a Itália e a França por exemplo, querem bater-se contra as novas nações.
A equipa de Nibali tem um passado pesado em matéria de dopagem. O que acho das declarações de Nibali sobre esta matéria?
Achei as suas respostas pertinentes. O ciclismo mudou bastante, porque os controlos também mudaram, porque o passaporte biológico também começou a ser utilizado. A sua equipa faz parte do Movimento para um ciclismo credível (MPCC) e os controlos são iguais para toda a gente. É natural que se coloquem essas questões. Pena que não se façam as mesmas perguntas nas outras modalidades.
Ficou-se com a impressão de que não houve tempos mortos neste Tour…
Foram os corredores que abrilhantaram esta corrida. Os tempos mortos não existiram. Não dependeu de nós, mas sim dos corredores, dos directors desportivos das equipas… O Tour é a vedeta, mas o mais importante são os ciclistas.