Colapso do Governo agrava crise na Ucrânia
Coligação governamental desmorona-se com a saída dos partidos Udar e Svoboda. Primeiro-ministro apresenta demissão e afirma que foi cometido um "crime moral e político".
Esta sucessão de acontecimentos deverá levar à marcação de eleições antecipadas pelo actual Presidente, que recebeu com agrado o anúncio da saída da coligação dos partidos Udar (de centro-direita e pró-europeísta) e Svoboda (direita nacionalista).
"A decisão de dois partidos de abandonar a coligação demonstra que uma parte dos representantes do povo não está agarrada às suas cadeiras, mas que sente a vontade dos eleitores e que é guiada por ela", afirmou Petro Poroshenko, num comunicado publicado no site da Presidência ucraniana.
O que a maioria dos ucranianos quer é "um recomeço completo do poder do Estado", argumenta o Presidente, dando a entender que irá marcar eleições antecipadas – uma das exigências dos milhares que se manifestaram na Praça da Independência, em Kiev, e que levaram à queda do antigo Presidente Viktor Ianukovich.
A ruptura terá sido precipitada pela divergência de opiniões entre o actual Presidente e o primeiro-ministro, que não desejava eleições antecipadas neste momento. Iuri Iakimenko, investigador do Centro Razumkov, uma instituição não-governamental com sede em Kiev, disse à agência Bloomberg News que o colapso da coligação "terá sido acordado entre os partidos políticos que desejam eleições [antecipadas] e o Presidente", numa referência ao Udar e ao Svoboda.
"Crime moral e político"
Num discurso emotivo perante o Parlamento, Arseni Iatseniuk disse que o fim da coligação terá "consequências dramáticas para o país".
"Quem é que vai aprovar leis impopulares enquanto pensa em eleições? É inaceitável trocar o futuro do país por interesses políticos limitados. É um crime moral e político", acusou o primeiro-ministro demissionário.
A convocação de eleições antecipadas chegaria mais cedo ou mais tarde, mas ainda não são claros os motivos que causaram esta sucessão de acontecimentos no auge dos combates contra separatistas pró-russos no Leste do país e poucos dias depois de um incidente internacional provocado pelo desastre do avião da Malaysia Airlines, que terá sido abatido por um míssil.
Para tentar manter uma aparência de normalidade, o Presidente Petro Poroshenko sublinhou que o colapso da coligação governamental "não deve paralisar o trabalho do Parlamento".
"O Verkhovna Rada [Parlamento ucraniano] está obrigado a resolver os assuntos de Estado: o orçamento rectificativo, cuja aprovação é essencial para o financiamento do nosso exército, que está corajosamente a defender o nosso Estado; os documentos que definem a cooperação com instituições financeiras internacionais, etc.", destacou o Presidente.
Sendo que um dos principais motivos do colapso da coligação – e da demissão do primeiro-ministro – é precisamente a falta de entendimento no Parlamento, é difícil antecipar o sucesso do apelo de Poroshenko aos deputados: "Apelo a todos os representantes do povo que trabalhem responsavelmente no Parlamento e que percebam que a Ucrânia está actualmente a lutar pela sua soberania, pela sua integridade territorial, pela existência do nosso Estado, e pelo futuro do povo da Ucrânia!"
No seu discurso perante os deputados, o primeiro-ministro demissionário acusou-os de não estarem à altura do momento que o país atravessa.
"O facto é que a coligação se desfez, que as leis não têm sido votadas, que os soldados não podem ser pagos, que não há dinheiro suficiente para comprar espingardas, que não é possível reabastecer os depósitos de combustível. Que opções nos restam?", questionou Arseni Iatseniuk, citado pela agência Reuters.
O presidente do Parlamento, Oleksandr Turchinov, pediu aos partidos que abandonaram a coligação que avancem um nome para substituir Arseni Iatseniuk na liderança do Governo de transição. O actual executivo continuará em funções até à marcação de eleições antecipadas, o que poderá acontecer até Outubro – depois de um período de 30 dias após a demissão do primeiro-ministro, os ucranianos devem ser chamados às urnas nos dois meses seguintes.