A salto para Melgaço

Um festival de cinema documental, Filmes do Homem, pega nas histórias de muitos portugueses que atravessaram Melgaço em direcção à fronteira com Espanha.

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Le Drôle de Mai: Crónicas dos Anos de Lama, de José Vieira

Dois anos antes, Melgaço tinha aberto outro museu, igualmente forjado no fenómeno da emigração – o Museu de Cinema Jean-Loup Passek, que reúne a fabulosa colecção de fotografias, cartazes, brinquedos ópticos e máquinas pré-cinema deste francês cinéfilo, programador e historiador da Sétima Arte que nos anos 1980 descobriu esta vila do Alto Minho pela mão de emigrantes locais com quem fizera amizade nos <i>bidonvilles</i> dos arredores de Paris.

É este contexto histórico e patrimonial que levou a Câmara Municipal de Melgaço a lançar um festival de cinema documental a que chamou Filmes do Homem, e cujo “ano zero” vai acontecer já de 2 a 7 de Agosto. Pegar nas histórias da emigração e no acervo do Museu do Cinema e “dar o salto para construir alguma coisa ligada” a ambas as realidades foi a razão avançada pelo presidente da autarquia, Manoel Baptista, na apresentação do novo festival no início desta semana, no Porto. A organização foi entregue à associação Ao Norte, de Viana do Castelo, que, sob a direcção do documentarista Carlos Viana, programou esta primeira edição em volta do tema da emigração portuguesa em França. Na primeira semana de Agosto, e com uma aposta forte no fim-de-semana de 2 e 3, o festival vai colocar “em foco” a obra de José Vieira, cineasta que desde a década de 1980 tem documentado a vida das comunidades portuguesas naquele país. Patrick Séraudie, Robert Bozzi, Pierre Primetens e Noémie Mendelle, ao lado de Catarina Alves Costa, João Pedro Rodrigues, Maria Pinto e Nuno Pires, são outros realizadores que estarão em Melgaço a apresentar os seus olhares sobre o mundo dos emigrantes – num programa que irá itinerar por algumas aldeias do concelho e também chegar à margem direita do rio Minho, na Galiza.

A reforçar a atenção a este tema, o fotógrafo Gérald Bloncourt virá também acompanhar em Melgaço a exposição, com mais de uma centena de imagens Por Uma Vida Melhor. Simultaneamente, o Museu de Cinema mostrará cartazes do cinema português dos anos 1967/70.

Em paralelo com a exibição de filmes, o festival vai também apostar na produção, pondo no terreno quatro equipas de jovens realizadores orientados por Pedro Sena Nunes. “Queremos contribuir para o arquivo audiovisual da região, e assim reflectir sobre a identidade, a memória e a fronteira”, justifica Carlos Viana, que anuncia, para a edição do próximo ano – se a primeira correr de acordo com as expectativas –, o lançamento de uma secção competitiva a atribuir o Prémio Jean-Loup Passek.

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