Forças leais a Kiev ganham terreno no Leste da Ucrânia
Confrontos nos arredores de Donetsk causaram pelo menos quatro mortos. Exército ucraniano impedido pelo Presidente de participar em acções a menos de 40 quilómetros do local do desastre do MH17.
No dia em que chegaram os primeiros investigadores holandeses para averiguar as causas da queda do Boeing 777 da Malaysia Airlines, que fez 298 vítimas, as forças leais a Kiev prosseguiram a “operação anti-terrorista”, como é designada pelo governo. Na estação de comboios de Donetsk houve relatos de trocas de tiros de artilharia, de acordo com a AFP. Os habitantes do bairro foram aconselhados a manterem-se nas suas casas e alguns foram evacuados por um pequeno autocarro.
O correspondente da mesma agência relatou ter visto uma coluna de fumo no aeroporto de Donetsk, indiciando ter havido combates no local. Pelo menos quatro pessoas morreram, de acordo com os serviços de saúde locais. Os combates fizeram estragos na rede de distribuição de água, levando a empresa de abastecimento local a impor restrições, relatou a Interfax-Ucrânia. Segundo a Companhia de Águas do Donbass, as reservas actuais de Donetsk podem durar cinco dias no máximo.
A instabilidade também afectou o futebol no Leste da Ucrânia. Seis jogadores do Shakhtar Donetsk não embarcaram com a equipa após um jogo de preparação em França, no sábado. O presidente do clube, Rinat Akhmetov, disse esperar que “a cabeça e o coração prevaleçam sobre os mal entendidos” e que o grupo de cinco brasileiros e um argentino regresse à Ucrânia. O Shakhtar deverá deslocar as suas partidas para Kharkov, caso os combates prossigam durante a próxima época.
Decretado perímetro de segurança
Para evitar interferir com as investigações à queda do MH17, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, proibiu o exército de lançar ofensivas num raio de 40 quilómetros em torno do local onde caiu a aeronave, o que não impede acções em Donetsk, que se situa a 60 quilómetros.
O exército ucraniano negou ter entrado no centro de Donetsk, apesar de haver relatos de combates no interior da cidade. “Temos ordens estritas para não usar ataques aéreos e de artilharia no centro da cidade. Se houve combates na cidade, temos informação de que [foi porque] existe um pequeno grupo auto-organizado que está a lutar com os terroristas”, explicou o porta-voz do Conselho de Segurança, Andrei Lysenko.
Um desses grupos é o “batalhão Aidar” – com o nome de um rio na província de Lugansk – que conta com 400 voluntários. De acordo com o jornal pró-governamental Kyiv Post, apenas 10% dos seus elementos tem experiência militar, mas o grupo tem participado em algumas acções nas últimas semanas. No início de Julho, Nadia Savchenko, uma piloto do batalhão, foi implicada na morte de dois jornalistas russos durante um ataque a um checkpoint.
O grupo é descrito como ultra-nacionalista e tem sido acusado de estar por trás de alguns abusos, apesar de responder ao exército regular. Num outro incidente, dois civis foram mortos durante uma troca de tiros com um grupo de rebeldes, escreve o mesmo jornal.
Nos últimos dias, a Rússia tem reforçado a sua posição militar junto da fronteira com a Ucrânia, segundo o Conselho de Segurança ucraniano. “Mais de cem unidades chegaram hoje [segunda-feira] à província de Rostov [na Rússia]”, disse Andrei Lisenko, sem, contudo, revelar a fonte da informação.
Desde o dia da queda do avião, na quinta-feira, que as forças russas estacionadas perto da fronteira têm visado o lado ucraniano. O Serviço de Segurança Fronteiriço comunicou que dos 30 postos as regiões de Lugansk e Donetsk, apenas 17 estão operacionais.
Apesar das acusações de Kiev em relação ao apoio russo aos rebeldes, a verdade é que os separatistas têm vindo a perder terreno nas últimas semanas. Segundo o Conselho de Segurança, desde Junho, o território controlado pelas forças rebeldes diminuiu “duas vezes e meia”. Donetsk, com cerca de um milhão de habitantes, é actualmente o bastião mais importante ainda dominado pelos pró-russos.
A ofensiva lançada agora por Kiev pode colocar fim aos avanços dos rebeldes que, perdendo Donetsk, ficam sem controlar qualquer grande cidade. O desenrolar do conflito irá depender do grau de apoio que o Kremlin decida conceder às milícias. Cabe, em última instância, a Vladimir Putin decidir se irá continuar a abastecer e a treinar efectivos para tentar impedir a progressão do exército ucraniano ou se irá abrir mão da influência que exerce sobre o Leste da Ucrânia.