Jihadistas do Estado Islâmico aumentam campanha de terror em Bagdad
Enquanto na capital iraquiana a classe política continua a travar uma luta pelo poder que bloqueia qualquer decisão, os combatentes avançam. Em Mossul, expulsaram a população cristã.
No total, no sábado explodiram seis carros armadilhados em Bagdad. Destes, o Estado Islâmico (EI) assumiu a responsabilidade por quatro, os mais mortíferos na cidade desde que este grupo islamista ultra-radical acelerou a ofensiva no país, no início de Junho, assumindo o seu objectivo de conquista de território. Porém, e enquanto as contas das autoridades iraquianas falam em "pelo menos" 24 mortos, o EI assegura que foram 150.
O Estado Islâmico (que até há pouco acrescentava "do Levante e do Iraque" ao seu nome) controla um vasto território no Iraque e na Síria, onde declarou um "califado" regido por uma interpretação literal dos fundamentos do islão. O novo "califado", explicaram especialistas ouvidos pela estação de televisão Al-Jazira, confronta os muçulmanos com uma escolha: ou o aceitam ou assumem-se como apóstatas, podendo ser condenados à morte, ou simplesmente executados, por isso. Estes extremistas destroem templos, estátuas, santuários — incluindo do islão — ou qualquer outro lugar de um culto que não obedeça à sua interpretação.
Estes combatentes jihadistas são conhecidos pela sua brutalidade — executam, cruxificam e lapidam à sua passagem. No sábado, num ataque a uma zona de extracção e depósito de gás natural na Síria (na região de Homs), mataram 270 pessoas, na sua maioria alauitas (um ramo xiita) e a maior parte deles executados com um tiro na cabeça.
Em Raqqa, no Norte da Síria, em 24 horas (entre quarta e quinta-feira) apedrejaram duas mulheres até à morte. Uma testemunha disse à AFP que a população está "aterrorizada" mas não ousa reagir às decisões dos jihadistas sunitas.
Neste quadro de intolerância para com tudo e todos — um cenário em que xiitas, curdos ou cristãos não contam —, ordenaram a expulsão dos cristãos de Mossul, a segunda cidade mais importante do Iraque, conquistada a 10 de Junho. De pouco serviu a mobilização dos xiitas, que se organizaram em milícias para enfrentar os radicais em Mossul e que formam agora grupos de resistência à ocupação do EI.
O ultimato aos cristãos obrigava-os a escolher entre a conversão, o pagamento de um imposto cobrado a não muçulmanos ou a pena de morte — o patriarca caldeu Louis Sako (arcebispo de Kirkuk, uma das cidades de presença histórica de cristãos, juntamente com Bassorá), explicou às agências noticiosas que antes da ofensiva jihadista seriam 35 mil os cristãos de Mossul (um número que já estava longe dos 60 mil que ali residiam antes da invasão americana, em 2003); fugiram quase todos.
Um dos raros que ficou na cidade disse, por telefone, à AFP: "Tenho a sensação de já estar morto".
600 mil deslocados
Esta fuga em massa é apenas o mais recente no êxodo que a chegada dos homens do EI tem provocado no Iraque. Segundo dados do Governo de Bagdad, 600 mil pessoas estão deslocadas devido ao avanço dos jihadistas.
Os cristãos de Mossul fugiram quase todos para Qaraqosh, 32 quilómetros a leste e guardada por forças curdas. As cidades santas xiitas de Kerbala e Najaf — outros dois alvos do EI — disseram estar disponíveis para os receber.
Com o país fragmentado e a ameaçar a desintegração — os curdos, argumentando que o Iraque já não é um país unificado, anunciaram um referendo sobre a sua independência e os seus líderes foram à Turquia em busca de apoio diplomático para a sua causa —, em Bagdad prossegue a luta política. O primeiro-ministro xiita, Nouri al-Maliki condenou, num comunicado, a expulsão dos cristãos.
A perseguição do EI às minorias religiosas revela "a sua natureza criminosa e terrorista", disse Maliki. O seu principal adversário, Ahmed Chalabi, também xiita (mas líder de um partido multi-étnico e multi-religioso), respondeu acusando o Governo de não conseguir garantir a segurança dos iraquianos e exigiu ao Parlamento que eleja um novo Presidente, o primeiro passo para haver um novo Governo. Mas entre as declarações de Maliki (que se quer manter no poder) de que o combate aos jihadistas é a prioridade e os desentendimentos entre sunitas, xiitas e curdos, a política iraquiana, e a tomada de decisões, está totalmente bloqueada.