Primeira manifestação pró-palestiniana proibida na Europa termina com violência em Paris

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, está desde sexta-feira em viagem pelo Médio Oriente, mas insiste numa proposta de cessar-fogo que já não está em discussão.

Por toda a Europa, em Londres ou Bruxelas mas também em várias cidades francesas (Lyon, onde se reuniram 5000 pessoas, Marselha, onde 3000 se manifestaram), houve acções em solidariedade com as vítimas do conflito, contra o bloqueio à Faixa de Gaza ou a pedir o fim dos bombardeamentos israelitas que, segundo a ONU, têm morto na maioria civis, especialmente crianças. Para domingo estão previstas concentrações em Viena, Amesterdão ou Estocolmo.

Todas estas manifestações decorreram sem incidentes, enquanto na capital francesa 38 pessoas foram interpeladas pela polícia e 14 agentes ficaram feridos, de acordo com um responsável policial citado pela imprensa francesa.

O executivo francês decidira na sexta-feira proibir este protesto, algo que nunca aconteceu na Europa com acções comparáveis. A justificação foi o receio de “perturbações de ordem pública” depois de incidentes que opuserem manifestantes pró-palestinianos e membros da comunidade judaica diante de uma sinagoga, no dia 13 de Julho. Hollande, de visita ao Chade, avisou “que a responsabilidade seria dos que querem a todo o custo manifestar-te”, enquanto a justiça lembrava que a organização de um protesto proibido pode custar seis meses de prisão e 7500 euros de multa.

Acusado pela esquerda de ser demasiado pró-israelita, o Presidente socialista foi criticado por ter decidido exprimir a “solidariedade” da França com Israel durante os bombardeamentos da Faixa de Gaza, que o Governo de Benjamin Netanyahu lançou no dia 8 de Julho e que mataram já perto de 350 palestinianos.

Em cima da mesa, ou não

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Hollande, Laurent Fabius, está desde sexta-feira em viagem pelo Médio Oriente. No primeiro-dia, encontrou-se com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, e com o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, no Cairo. Sábado esteve na Jordânia antes de seguir para Jerusalém, onde tinha encontro marcado com Netanyahu.

“Todos os países que participam nos esforços para pôr fim ao banho de sangue em Gaza apoiam a iniciativa de cessar-fogo que visa travar a violência e proteger os civis”, disse ao lado de Fabius o seu homólogo jordano, Nasser Joudeh. “Repito aqui em Amã, a nossa prioridade absoluta é o cessar-fogo”, afirmou o ministro francês. “A iniciativa egípcia continua na mesa”, sublinhou.

O problema é que isso não é verdade – precisamente sábado à tarde, o Cairo retirou da mesa a sua iniciativa. Uma proposta de trégua que Israel aceitou e o Hamas recusou: o grupo palestiniano que governa Gaza recusara desde o início a mediação egípcia e as condições da proposta avançada por Sissi. Já Abbas seguiu do Cairo para Istambul e daí para o Qatar – o Hamas propôs desde a primeira hora negociações lideradas por turcos ou qataris.

Depois do pequeno tremor de terra que as revoltas árabes significaram para o status quo regional, Israel prefere por seu turno negociar com o Egipto de Sissi, o ex-chefe militar que derrubou do poder Mohamed Morsi, líder do partido criado pela Irmandade Muçulmana e eleito democraticamente depois da queda de Hosni Mubarak.

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